Second Chances - L.S.

Prólogo - Harry

     Encarava o documento aberto em meu computador, completamente vazio, onde eu não conseguia escrever uma palavra sequer. “Vamos, Harry, esse é o seu trabalho, você é bom nisso, consegue escrever um romance, é um homem apaixonado. Não é?”. Tentei me encorajar mentalmente, mas ao invés disso olhei para atrás de mim, observei o extenso escritório onde eu trabalhava, mas que se tornou o local onde eu havia dormido nas últimas três noites. Sempre ocupado demais tentando escrever o que eu havia prometido entregar para a editora há alguns meses. 
    Prestes a perder meu contrato, que eu sei que só mantinham prendidos a esperança de que meu segundo livro vendesse como o primeiro, achavam que tinham encontrado o pote de ouro no escritor novato que, em minha opinião, havia apenas tido sorte de principiante. Escrevi aquele livro quando tinha recém me casado, eu estava apaixonado por uma mulher que agora eu só via na hora do jantar e de quem durante a noite eu fugia para meu escritório, porque sabia que ela era incrível, mas que traçávamos o caminho do divórcio que eu esperava demorar mais.

    — Harry? — Faith me chamou, quando eu ouvi a porta do escritório ser aberta. Meu olhar que antes encarava pontos aleatórios do ambiente foi conduzido até o dela, seu rosto avermelhado, junto com os olhos que seguiam o mesmo tom e mostravam que ela havia chorado pela primeira vez em anos. — A gente precisa conversar. 

    Suas mãos se agarravam a um envelope pardo, como se nunca fosse soltar dele, pedi pra que ela entrasse e nos sentamos no sofá preto -conhecido também como a minha recente cama- que ocupava uma parte do escritório. 

    — Por favor, não finja surpresa.— Ela falou, antes mesmo de eu poder dizer qualquer coisa. — Algumas semanas atrás eu pedi para o advogado de minha família preparar toda a papelada necessária para nosso divórcio. — Sua voz era suave e calma a não ser pelo fundo nasalado causado pelo recente choro dela. Mas agora, na minha frente ela parecia mais calma que nunca, a vermelhidão em suas bochechas havia diminuído e cada palavra que escapava pelos seus lábios atingia a boca do meu estômago como um soco.

        —Você não pensou nem em falar comigo antes? — Perguntei, sabia que o fim de nosso relacionamento era inevitável, mas parte de mim torcia para que eu estivesse errado e para que quando essa conversa chegasse tentássemos melhorar de alguma forma, antes do ultimato.

    — Conversar quando? — Faith perguntou, franzindo as sobrancelhas como se estivesse indignada com a minha pergunta, mas mantinha o mesmo tom de voz, como sempre, era quase impossível ver ela falar de uma maneira que não fosse suave o tempo todo. - Você passa dia e noite trancado aqui nesse escritório, mal fala comigo quando estamos juntos, não nos beijamos a semanas, Harry. Por que deveríamos insistir em algo tão vazio? 

    Não consegui responder ela, não enquanto minha garganta fechava e eu sentia as lágrimas descerem pelo meu rosto, ela tinha razão, passamos os últimos meses fugindo um do outro, evitando que essa conversa acontecesse, mas aqui estávamos nós agora, prestes a nos divorciar, torcendo para não termos desperdiçado a -talvez- única chance de amarmos alguém de verdade.