1.0 Harry

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        Encarei a janela do avião que mostrava somente o céu escuro infinito, minha mente transitava entre momentos aleatórios da minha vida, buscando entender como eu vim parar aqui nesse cenário deprimente. Faziam horas desde que eu havia assinado aqueles papéis que mudaram completamente meu rumo ao ponto de em um impulso eu decidir voltar para o Reino Unido. Tentei dormir algumas vezes, mas sem sucesso, o que me deixava frustrado, afinal, são mais de sete horas em um voo de Nova Iorque para Londres, eu precisava que esse tempo passasse logo e pelo menos desacordado eu não ia pensar nestes últimos acontecimentos desastrosos.

       Não avisei ninguém que eu estava voltando para Inglaterra, minha família não sabia nada disso e os poucos amigos que eu mantinha lá iam ficar surpresos. Por sorte o dinheiro que ganhei com as vendas do meu primeiro livro foi o suficiente para quitar o apartamento que eu tinha lá antes de me mudar, era um apartamento simples de solteiro, mas era exatamente isso que eu era agora.

      Passei o resto daquele vôo tentando escrever alguma coisa, esperando que a inspiração chegasse até mim em um momento horroroso como esse. Mas ao invés disso, ela continuou a fugir de mim.

     Depois de longas horas eu cheguei ao meu antigo apartamento, quando o sol já havia nascido, tudo ali continuava do mesmo jeito em que eu deixei, a não ser pela camada de poeira que cobria os móveis, decidi dormir um pouco mesmo assim, por sorte eu não tinha nenhum tipo de alergia a poeira, porque tenho certeza que se alguém com rinite entrasse ali a pessoa não ia aguentar.

     Acordei horas depois, a janela mostrava o céu cinzento do entardecer de Londres, junto com os barulhos do bairro movimentado que parecia não parar nem um minuto do dia. Me sentei, apoiando as costas na cabeceira de metal, encarei as paredes brancas vazias do quarto e o colchão desocupado por qualquer lençol ou travesseiro e decidi que precisava comprar algumas coisas, já que eu teria que morar ali por tempo indeterminado.

      A cidade continuava fria, mas muita coisa tinha mudado enquanto estive fora, por sorte as lojas permaneceram na mesma rua, passei algumas horas comprando coisas estúpidas, para me distrair de todo o recém desastre da minha vida.

     De volta no prédio, quando entrei no elevador me atrapalhei um pouco com as sacolas, mas consegui me organizar antes da porta se fechar.

      - Espera! Por favor. - Escutei alguém gritar, antes de eu colocar a mão na pequena fresta que ainda restava aberta e fazer com que a porta se abrisse novamente. - Obrigado!

Finalmente, reconheci a voz e assim que olhei para a pessoa que entrava com tudo no elevador, trazendo consigo uma grande mochila e um cheiro forte de bebida.

     - Harry. - Ele disse, percebi que foi naquele instante que ele notou que era eu ali com ele. - Nossa, faz muito tempo que não nos vemos. - Seus olhos azuis profundos me encaravam, com um sorriso travesso nos lábios. Eu não sabia o que sentir, não imaginava reencontrar uma parte tão significativa do meu passado nesta noite.

     - Oi, Louis. - Falei, forçando um sorriso amigável, já que eu não sabia exatamente como reagir, minha mão estava suada e meu coração batia forte, mais forte do que eu podia descrever. - É, faz muito tempo. Como você está?

     - Sinceramente? Estou uma merda. - Ele sorriu, como costumava fazer sempre que algo dava errado em sua vida. - E você? Soube que se casou. - Percebi um pouco de desprezo em sua voz, antes de ele olhar para os botões do elevador e perceber que nenhum de nós dois havia selecionado um andar, foi então que ele pressionou o oitavo que era o meu andar. Levantei minha mão direita, mostrando a falta de uma aliança ali.

     - Estou me divorciando. - Falei essa frase pela primeira vez em voz alta, estava com medo desse momento, mas agora não parecia mais tão assustador.

     - Sinto muito. Mas, é bom saber que não sou o único tendo que lidar com isso. - Assim que terminou de falar a porta do elevador abriu em nosso andar e ele se abaixou para me ajudar com algumas sacolas e deixou na porta de meu apartamento, que ele se lembrava exatamente onde era, antes de se virar para o outro lado do corredor, que agora eu recordava ser onde seu amigo, Zayn, morava.

     Entrei em casa, me criticando por não ter limpado ela mais cedo, mas logo minha conversa com Louis começou a se passar em minha mente, repetidamente, até que eu me lembrei de sua última frase: "bom saber que não sou o único tendo que lidar com isso." Então ele também estava passando por um divórcio? Aqueles segundos ficaram durante horas no meu pensamento, me senti um adolescente de novo.

     Naquela noite consegui escrever pela primeira vez em meses. 

Second Chances - L.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora