Capítulo 1 - Canalha

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"Acho que é um equívoco você querer um coração.

É o que faz a maioria das pessoas infelizes.

Se pelo menos você tivesse consciência disso,

saberia que é um cara de sorte por não ter um coração"

(O Mágico de Oz, L. Frank Baum)


— Você é um canalha, Landon Davis! — esbravejei xingando o meu melhor amigo.

— Canalha? Que isso? — Ele me olhou apertando seus olhos, confuso com o que eu acabei de dizer.

— Não sei — dou de ombros —, mas minha mãe estava muito brava com meu pai ontem à noite e o chamou assim.

Era difícil explicar o motivo que me fez ficar com raiva, mas eu estava tão irada que quebrei meu giz de cera favorito com a mão. Acontece que o vi compartilhando seus lápis de cor com outra garota e isso me deixou com uma sensação estranha no peito.

— Não fique brava comigo, Callie Heart, eu não vou mais dividir meu estojo com ninguém.

— Acho bom... — Cruzei os braços indignada. Aos nove anos eu não era uma pessoa ciumenta, não ligava se meus pais dessem mais atenção para minhas irmãs, mas com Landon era diferente. Meu melhor amigo, na minha cabeça, era só meu.

Éramos inseparáveis. Callie e Landon não existiam sozinhos, sempre que mencionavam o meu nome, o dele vinha em seguida ou vice-versa. Nós tínhamos a mesma idade e morávamos praticamente sobre o mesmo teto.

Poderiam até dizer que éramos irmãos se nossa aparência não fosse tão contrastante. Landon tinha uma cabeleira preta e cheia na infância. Seus olhos eram azuis, mas as vezes pareciam verdes, tudo dependia da luz. Meus cabelos eram castanhos claros e finos, meus olhos também eram castanhos, mas algumas pessoas diziam que eram cor de mel. Eu tenho apenas uma covinha no rosto quando sorrio, Landon não tem nenhuma. Acho que alguém saiu ganhando, não é mesmo?

Ele sempre ficava me zoando porque estava faltando uma covinha do lado esquerdo do meu rosto. Eu não era a única esquisita, pois os dedos dos pés dele eram horríveis. Daquele tipo que o dedão é meio torto.

Nossos pais eram amigos de longa data, e quando os pais de Landon precisaram entregar a casa que viviam porque não podiam pagar a hipoteca, os meus pais ofereceram a parte de cima da nossa casa para que morassem.

A partir dos sete anos, crescemos juntos. As duas famílias. Os Hearts e os Davis em uma casa que estava sempre muito barulhenta. Aliás, dos sete até os oito anos de idade, Landon me odiava, mas a convivência, aos poucos, o fez ceder à garota que falava muito e que sempre pegava suas coisas emprestadas e não devolvia.

Minhas irmãs, Emily e Melissa, eram gêmeas e cinco anos mais velhas do que eu, por isso eu sempre fiquei para trás. Elas viviam cheias de segredos e nunca compartilhavam comigo, me achavam imatura demais e eu realmente era. Aos catorze anos elas estavam começando a deixar as brincadeiras infantis de lado e se interessando por maquiagem e garotos. Aos nove eu gostava apenas de rabiscar meus desenhos e não tinha interesse por nenhum garoto, fora Landon Davis. Mas não era um interesse romântico, nada disso. Nós éramos como parte um do outro.

Landon tinha uma irmã, ela era mais velha dez anos do que nós e estava na faculdade, então a única pessoa que ele tinha para brincar e brigar era eu. Pobre Landon.

As Cores que PerdemosOnde histórias criam vida. Descubra agora