Capítulo 3 - Até o fim

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"Ele sabia muito bem que não tinha um coração,

portanto tomava muito cuidado para nunca ser cruel

ou insensível com ninguém."

(O Mágico de Oz, L. Frank Baum)


— Juntos, até o fim! — Landon e eu fizemos uma jura com os dedos mindinhos. Nós tínhamos doze anos e os seus pais estavam de mudança para a casa do outro lado da rua. Estávamos nos sentindo nostálgicos porque não dividiríamos mais o mesmo teto.

— Não se preocupe Callie, ainda estaremos juntos todos os dias — prometeu.

E ele cumpriu a promessa, pois no dia seguinte à mudança, estávamos no meu quarto compartilhando desenhos e fazendo brincadeiras infantis. A pré-adolescência estava chegando e tinha começado a aparecer em forma de espinhas no rosto do meu amigo. Até então eu não havia sido atingida pelos hormônios, mas estava morrendo de medo de ter a primeira menstruação.

Minhas irmãs estavam me enchendo com isso e diziam que a hora iria chegar. Parecia que estavam me preparando para um massacre. Eu estava apavoradíssima e qualquer ida ao banheiro, uma dor de barriga ou outro sinal já me deixava horrorizada. Mamãe veio conversar comigo e disse que eu não deveria dar ouvido as minhas irmãs e que ficaria tudo bem. Eu realmente esperava que ela estivesse certa.

No meu quarto, Landon e eu fazíamos o de sempre:

— O que está desenhando? — ele me perguntou.

— O leão covarde do Mágico de Oz. — Eu havia lido o livro na última semana e me pegava pensativa sobre o conto. Naquela época eu não conseguia entender a mensagem que a história quis passar.

— E que cores está usando? Ele tem uma cor só — ponderou —, eu acho... — Colocou a mão no queixo, pensativo.

— Ele é laranja, marrom e amarelo, mas estou dando a minha interpretação ao personagem. Para mim ele é azul e verde.

— Eu não consigo diferenciar Callie. — Meu amigo balançou a cabeça em negativo e passou a fazer a sua ilustração. Ele me copiou e desenhou o leão covarde em preto e branco. No final das contas, eu ainda sentia que o meu era muito melhor.

— O que você escolheria Landon, ter um coração ou um cérebro? — perguntei curiosa.

— Um cérebro, é claro. Que idiota escolheria um coração? — desdenhou me olhando com seus olhos travessos.

É. Eu sou essa idiota.

[...]

Quando eu acordei no dia seguinte, parecia que estava de ressaca, porque minha cabeça estava doendo e zunia me deixando quase enjoada. Fazia um bom tempo que eu não bebia, porque Asher fez um detox e eu resolvi acompanhar para motivá-lo.

Saí do quarto com o meu pijama horroroso de bolinhas sem me dar conta de que estava dividindo a casa com um cara. Um cara que um dia eu tive intimidade para não ter esse tipo de vergonha, mas que hoje em dia é praticamente um estranho.

Eu o vi de costas ligando a máquina de café, estava de regata e calça jeans, e eu finalmente consegui ver suas tatuagens. Aproximei vagarosamente para observar que ele tinha um leão tatuado rugindo no antebraço esquerdo, a tatuagens desce sutilmente até todo o comprimento fechando o braço. Também tem um desenho de uma cobra bem na mão que estava escrito "rough". No direito, que não é inteiramente tatuado, tem apenas um bracelete tribal. Landon sempre gostou de tatuagens, quando completamos dezoito anos fizemos uma aposta e quem perdesse tatuaria um desenho do outro feito quando tínhamos oito anos. Ele perdeu e teve que tatuar uma borboleta que eu desenhei, que, sinceramente, não parecia bem uma borboleta, era algo bizarro. Se ele não tatuou algo por cima, ainda deve estar na sua canela.

As Cores que PerdemosOnde histórias criam vida. Descubra agora