"Vocês acham que Oz poderia me dar coragem?Porque para mim é simplesmente insuportável
viver sem um pouco de coragem."
(O Mágico de Oz, L. Frank Baum)
ANTES
— Landon, você precisa ter coragem, por favor, é por mim — implorei.
Estávamos em uma situação nova e constrangedora para mim e para ele também que, como sempre, dividia os momentos mais importantes da minha vida comigo. Tínhamos treze anos e um marco da vida feminina tinha acontecido. A minha primeira menstruação havia acabado de acontecer no momento mais inoportuno possível.
Estávamos no intervalo e na fila do refeitório quando eu senti algo estranho. Era quase como uma dor de barriga e do nada uma sensação de que eu não tinha controle sobre algo. Larguei a bandeja em uma mesa qualquer e corri para o banheiro, percebendo minha agitação, meu melhor amigo veio atrás de mim e ficou do lado de fora do banheiro achando que eu estivesse pronta para morrer por conta do berro que eu dei. Na porta eu saí e implorei a ele para que pegasse o absorvente na minha bolsa.
— Eu não posso fazer isso Callie e se alguém ver? — ele respondeu.
— Pare de ser covarde! Você sabe como é um absorvente, certo? Você tem uma irmã — ponderei em um sussurro. — É um pacote rosa, espera, tudo é meio rosa pra você. — Ele me olhou feio quando eu disse isso. — Desculpe, é fácil de identificar, vai logo, por favor — pedi com os olhinhos sofridos, provavelmente ele se compadeceria. — E me traz a mochila com as roupas do futebol.
— Ok, mas me promete que vai fazer amizade com alguma menina?
Eu ri do seu pedido e do seu rostinho todo preocupado. Confirmei que sim e continuei a esperar na porta do banheiro. A questão era que eu manchei minha calça e não podia sair dali enquanto ele não me trouxesse a mochila com a troca de roupa que eu tinha. Sempre, no final da tarde, Landon e eu íamos jogar bola na casa de um amigo.
As cenas seguintes foram uma vergonha para Landon Davis. Porque, bom, ele deixou o absorvente cair no meio do corretor lotado, porque ele estava todo afobado para me entregar. Todos os idiotas riram da sua cara, mas isso não o impediu de entregar as coisas que pedi. No fim das contas, ele provou sua coragem e lealdade e foi apelidado de "absorvente" por um tempinho.
O Davis era popular e o apelido foi levado de uma forma tão leve por ele que no ano seguinte nem foi lembrado.
Não fui jogar futebol nesse dia, fui para casa e me tranquei no quarto porque repudiava a ideia de ter menstruado. Na minha cabeça eu não queria "crescer". Não queria sair daquela fase tão boa da infância e pré-adolescência e ir direto para a fase de "ser uma mulher" como minha mãe havia acabado de dizer toda contente.
Para piorar e me deixar ainda mais morta de vergonha, minha mãe contou para todo mundo que eu havia menstruado. Vovó ligou para me parabenizar, a vizinha trombou comigo na rua e disse "já era hora, estava quase falando pra sua mãe que deveria te levar no médico, você era muito menininho, Callie, quem sabe agora vire uma mocinha". Como eu fiquei com raiva! Minha vontade era de falar vários palavrões que aprendi recentemente, mas me calei. E papai, bom, ele foi legal e me comprou chocolate.
Minhas irmãs ainda disseram que eu devia deixar o cabelo crescer porque eu parecia um garoto, que minhas roupas eram iguais as do Landon e que estava na hora de eu me arrumar um pouco mais.
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As Cores que Perdemos
RomanceLandon e Callie eram amigos inseparáveis. A amizade se iniciou na infância e perdurou durante toda a adolescência. Até o dia em que algo aconteceu e Landon Davis partiu da sua cidade natal e passou a odiar Callie Heart. Anos depois, morando na mes...