Quase duas semanas haviam se passado desde que Sirius vira Remus pela última vez quando saíram para jantar. Na verdade, fazia esse mesmo período de tempo que ele ignorava as ligações de James e que respondia as mensagens de Lily o mais evasivamente possível. E ele sabia, honestamente, que aquele era o pior comportamento para se ter naquela situação. Mas, infelizmente era o melhor a ser feito.
Havia acordado muito cedo para o trabalho e decidido arriscar as chances de ser o único a estar acordado dentro de casa, portanto, usava a cozinha silenciosamente, preparando um chá antes de ir em direção à estação de metrô. Seu corpo movimentava-se com agilidade pelo cômodo, mas sua cabeça estava distante, grudada em um par de olhos verdes. Ele sentia-se devastado. Há muito tempo Sirius não se lembrava do quanto era doído gostar de alguém sendo quem ele era. Por muitos anos ele não precisava se preocupar em pensar no bem-estar de uma outra pessoa que não somente o dele - levando em consideração que seu irmão estava seguro, num outro país.
Era injusto colocar Remus naquela posição, ele sabia. Ele conseguia racionalmente lidar com o fato de que jamais poderiam ficar juntos, não nessas condições pelo menos, mas seu coração parecia doer dentro do peito como se estivessem arrancando-o às unhas, de sua carne. Ia muito além de qualquer coisa que ele pudesse controlar.
"Acordado tão cedo?" A voz que surgiu no corredor fez com que seus ossos gelassem por debaixo de seus músculos e o rapaz de cabelos longos procurou instintivamente por qualquer coisa afiada ao redor de si. "Não conseguiu dormir?"
"Levantei um pouco mais cedo que o habitual, somente." Respondeu, sentindo as mãos tremerem enquanto colocava algumas colheres de chá dentro do bule. Detestava o ambiente quando precisava dividi-lo com Orion e seu corpo já começava a suar por toda a ansiedade que lhe preenchia.
"Compreendo..." De repente, sentiu os passos em sapato social do pai se aproximarem e com uma leve palma e uma risada fingida, ele virou os olhos para este. "Também vou querer uma xícara, obrigado." Sirius não funcionava bem naquele momento. A ideia de ter ficado em casa já parecia muito mais do que péssima e no momento que Orion encostou uma das mãos em seu ombro, ele sentiu como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Como se sua alma deixasse seu corpo e tudo o que ele pudesse sentir era o vazio o engolindo.
Apressou-se em servir a xícara que havia separado para si mesmo e o copo térmico, ao encher ambos, deixou que a xícara ficasse para o mais velho, agarrou o copo e a própria bolsa no balcão e correu para fora da mansão, finalmente respirando. Sempre que tinha o desprazer de encontrar-se com o progenitor, era assim que se sentia, sufocado. Não só por sua presença, mas por todas as possibilidades que ela representava. Correu pelos degraus para abandonar o terreno da casa e deu mais alguns passos, dando de cara com a única pessoa com quem não queria encontrar naquele momento.
Remus andava com calma, olhando para o que parecia ser os números das casas.
O loiro havia decidido que ele não poderia simplesmente cruzar os braços e esperar pelo retorno milagroso que Sirius Black lhe daria em algum momento, surgindo em sua livraria com um buquê de flores atípicas para a temporada do ano, demonstrando todo o esforço que estava disposto a fazer pelo que quer que aquela relação entre os dois estivesse se tornando. Remus sabia que se não fizesse algo, deixaria que tudo escapasse por seus dedos porque não precisava de mais sinais para saber que Black estava lhe ignorando.
Portanto, tomou uma decisão inteligente e na procuração que tinha, graças ao contrato que assinou com o moreno, ele achou seu endereço. Sem comunicar ninguém e sem consultar quaisquer regras de limites, ele seguiu até o local num dia em que acordou particularmente mais corajoso. Sirius morava num bairro caro, nobre e de grandes mansões e Lupin nem havia alcançado a casa número 12 quando o viu, saindo rapidamente de uma casa alguns metros mais para frente.