Aquele estava sendo um dia particularmente tranquilo na livraria, até que, acompanhado de James, um pequeno furacão de pele morena adentrou as portas principais, correndo por entre os montes de estantes sem qualquer preocupação com a própria segurança, ou a manutenção de organização dos livros e muito menos com a sanidade de Remus. Que estava dentro do escritório no andar de cima, tendo uma reunião com uma nova editora.
Alguns anos haviam se passado, ele já tinha algumas rugas nos cantos dos olhos que estavam sempre muito risonhos e continuava sentando sobre uma das pernas na cadeira grande de rodinhas. Naquele momento, ele já nem estava mais tão interessado na reunião. Já se tratava de algo tão corriqueiro e que era sempre atualizado ou construído que ele havia pegado jeito há algum tempo. Então, enquanto o advogado conversava do outro lado da tela, ele tomava alguns goles de café, acompanhando os pontos que o outro levantava pelo contrato que tinha em mãos.
E enquanto ele o finalizava, Vega se tornava o desafio de todos os vendedores no andar de baixo, que tentavam repetidamente não deixá-lo subir para interromper o loiro. Não que fosse um crime, mas eles conheciam bem os horários do chefe e como ele gostava que as coisas seguissem um certo padrão de organização e pelo que Ester, a gerente, havia calculado, esta era a última reunião do dia e isso os renderia algumas últimas horas mais tranquilas com o superior presente durante as reorganizações para a próxima semana. Portanto, era crucial que o garotinho de cabelos ondulados ficasse por mais alguns minutos entretido com o que quer que fosse naquele andar. Deus sabia do quanto a equipe da Rye Books — que havia sido renomeada há três anos — tinha medo de receber um olhar desgostoso de Remus após uma reorganização de exemplares.
James, que havia trazido o garoto há dez minutos, ocupava-se em observá-lo brincando com a criança menor, que se atrapalhava um pouco mais do que o outro nos passos rápidos, com bochechas cheias e um riso que colocava sorrisos em todos, nem sequer percebeu o amigo se aproximando, nos degraus da escada. Remus perdeu-se por alguns minutos também admirando aos dois pequenos seres que corriam de um lado para o outro, carregando livros quase tão grandes quanto eles próprios eram.
"Será que existe uma forma de deixá-los assim para sempre?" Questionou o loiro, enfiando as mãos nos bolsos ao sentir o vento que adentrou o espaço quando um novo cliente surgiu. Não deixou de notar que o novato correu para atendê-lo, tentando fugir das duas crianças. James balançou a cabeça em negativo, dando de ombros.
"Eu não faço ideia, mas faria questão de conseguir umas doses para Harry." Potter respondeu, cruzando os braços enquanto se apoiava na parte mais baixa da escada e assistia o amigo aproximar-se ficando ao seu lado. "Precisei trazê-lo mais cedo hoje porque eles não tiveram o último período na escola." Explicou, incluindo rapidamente o fato de estar ali com o filho e por ser aquele que estava trazendo Vega para a livraria.
"Sem problemas." Comentou, verificando o relógio despretensiosamente, enquanto afastava-se do moreno e começava a caminhar em direção aos pequenos.
Vega era lindo. Remus não cansava de admirar sua beleza e o jeito como seus olhos sorriam tanto quanto seus dentinhos, as bochechas não eram tão grandes, mas deixavam seu rosto com uma beleza só sua. Tinha os olhos claros, um pouco puxados e toda as vezes que Lupin o olhava, pensava no quão grande ele já estava desde que chegara aos seus braços pela primeira vez, quando aplicaram para tê-lo. A criança, quando o viu se aproximando, correu para seus braços, esquecendo-se do pequeno amigo ao seu lado pelo colo do mais velho.
Vega ainda falava de um jeito infantil e trocava as palavras por alguns grunhidos e comemorou sua chegada com beijinhos e um abraço apertado, assim que o maior abaixou-se para ficar próximo a sua altura, passando as mãos pequenas pelo pescoço do maior. "Oi, filho." Remus sussurrou, beijando a extensão do rosto ao pescoço da criança, apertando-o em seus braços.
Harry foi para o braço de James e Remus concentrou-se em receber sua dose de amor daquele dia. Havia saído muito cedo de casa por causa das reuniões daquele dia e não pudera vez o filho de pé, contentou-se somente com olhá-lo por alguns minutos dormindo numa das posições engraçadas em que ele adorava ficar. Então, deixou-se ficar ajoelhado perto da entrada da loja, recebendo o carinho das mãos pequenas do filho, enquanto o ouvia falar sobre algum chiclete mágico na escola depois de um avião ter batido as asas naquela tarde perto de sua sala.
"E você por acaso comeu chiclete na escola foi, bonitinho?" Questionou, sendo rapidamente distraído pela criança, ao ganhar novos carinhos e ouvir risadas com assuntos cheios de nada que fizesse muito sentido, desde as prateleiras da livraria até um monstro gigantesco feito de sorvete que o menino poderia comer inteiro. Remus contentou-se em somente sorrir e fazer caras que demonstrassem todo o interesse pela conversa. É mesmo meu..., não pôde deixar de pensar, ao ver o mais novo tentando enrolá-lo a todos os custos.
"Papa" Ouviu o grito animado e fino de Vega, de repente virando-se para olhar o que parecia impressioná-lo tanto, esperando que aquela não fosse uma imitação de seu filho na intenção de confundi-lo, por Deus, ele estaria oficialmente velho se fosse verdadeiramente enganado pelo pequeno.
Mas não havia sido. E lá estava ele. Sirius havia parado a alguns metros dos dois e tinha um sorriso carinhoso no rosto. Remus lhe sorriu de volta, ainda que a atenção do moreno estivesse presa no filho, então, colocou o menino no braço e aproximou-se de Black, que tinha as mãos nos bolsos e vestia um blazer escuro, arrumado. Vega voou em seu colo e ele deu uma risada ouvindo a história incrível do chiclete mágico e do avião que bateu asas perto da sala de aula do garoto que estava agarrado em seu pescoço, como há pouco estivera com Remus.
Sirius olhou o loiro nos olhos enquanto ouvia ao filho e eles passaram alguns momentos somente apreciando a situação e o quão animado o garoto estava com toda a história que contava. Remus aproximou-se mais ainda de Sirius e beijou rapidamente seus lábios num carinho corriqueiro e diário, arrancando um sorriso do parceiro, que passou o outro braço por sua cintura, afastando o filho somente o suficiente para que os pais pudessem olhá-lo com toda a atenção que tinham para dar.
"Vega, ouve o papai..." Sirius começou, distribuindo beijos por todo o rostinho do garoto, que ria se divertindo com o carinho gostoso que recebia do mais velho, Remus os assistia com todo o amor que aquecia seu peito, esperando atentamente pelas próximas palavras de Black, que surgiram somente depois que ele já estivesse lhe olhando nos olhos com toda a intensidade que possuía. "Você gostaria de um irmãozinho?" Pergunta, com um brilho nos olhos, assistindo Lupin abrir um sorriso largo no rosto.
A vida era boa. Tudo estava bem.
[de todos os capítulos, esse foi o mais difícil de escrever porque eu queria compartilhar cada parte da felicidade deles, mas talvez a felicidade seja mesmo essas pequenas partes do dia a dia. sirius e remus são meu tudo! que fique pra vocês imaginar como os anos se seguiram e como o amor um pelo outro foi crescendo com a passagem de cada dia, assim como eu mesma imaginei por horas e horas a fio!! one day at a time é uma linda história de amor, mas é, além disso, uma linda história de encontrar em si mesmo a força que você tem com a ajuda dos que te amam de verdade. ao longo dessa semana ou no mais tardar, próxima segunda, eu venho postar o último capítulo aqui - uma coleção de fatos sobre esse processo criativo. espero que tenham gostado. foi muito bom partilhar tudo isso com vocês, muito obrigada por chegarem até aqui!]