Já começava a escurecer quando Remus e Sirius disseram que precisavam ir. Despediram-se de todos e Remus assistiu o cuidado com o qual os pais de James trataram Sirius. Abraçaram-no com amor e tomando seu tempo ao mantê-lo dentro daquele abrigo, recomendaram algumas coisas, pediram que os visitasse com mais frequência. Repetiram algumas vezes que sentiam sua falta e o loiro, de longe, viu Sirius sorrir verdadeiramente, balançando a cabeça enquanto prometia gastar suas próximas férias na casa deles até que o chutassem para fora. Euphemia alisou sua bochecha e lhe disse que jamais seria capaz de fazer isso. Remus recusou-se a sequer pensar que talvez a família dele não fosse boa. Apesar de seu coração ter pesado muito com a possibilidade.
"Posso te deixar em casa, se quiser." O loiro ofereceu assim que os dois fecharam a porta do apartamento, descendo as escadas lentamente. Sirius deu de ombros e Remus já achou que fosse bom o suficiente. Logo, estavam no carro, em silêncio. Sirius sabia muito bem que Lupin conhecia o caminho para sua casa, então não se manifestou quanto a dar indicações ou qualquer coisa do tipo. Estarem sozinhos, de repente, os deixava nervosos, mesmo que fosse patético. Não era algo que estava sob controle.
O som tocava baixinho alguma música em alta naquela semana, o mais baixo batucava os dedos no volante e Sirius brincava com os próprios dedos enquanto observava as ruas movimentadas da cidade. E mal sabia ele que enquanto batia os dedos com certa determinação, o outro reunia toda a coragem que habitava em seu ser.
"Conheço o James desde que entramos na pré-escola. A primeira escola que fomos ameaçou nos expulsar pelo menos cinco vezes ao longo dos anos. Nós tínhamos um grupo chamado Marotos, eu, ele e um outro amigo, Peter, que morreu num acidente de carro. Bêbado. James e eu não falamos sobre isso." Sirius falou sem qualquer aviso e soltou um suspiro sem desviar os olhos do caminho, parecendo bem mais atento, inclusive. De repente, Remus o olhava de lado, tentando dividir a atenção entre a estrada e o moreno, e sentia o coração bater rápido. Ele não sabia onde tudo aquilo iria terminar, mas sabia que era algo. "Fazíamos isso o tempo inteiro, beber e dirigir. A família dele alegou que foi culpa nossa, que incentivamos o garoto e que fomos uma péssima influência. Foi horrível na época, nossas famílias receberam todo o ódio, como se nos criassem dando aquele exemplo, tivemos um problema gigantesco. James e eu passamos um bom tempo em lugares ruins demais para se estar. Eu estava beirando a entrada no Liverpool, foi extremamente complicado deixar tudo por debaixo dos panos e pior, entender que aquilo precisava ficar embaixo dos panos se eu quisesse uma carreira..." Balançou a cabeça suavemente em afirmação, virando o rosto para a janela, aproveitando a deixa de estar dobrando uma esquina, evitando o rosto do outro, que havia virado em sua direção para olhá-lo com mais atenção, aproveitando a mesma deixa. Black não lembrava bem de quando havia sido a última vez que falara sobre isso com alguém que não fosse o melhor amigo. "Adolescentes não têm peso pra nada, depois disso, criamos. Nós dois crescemos com o tempo, tentamos ajudar um ao outro.
Sempre quis jogar futebol, meu pai adorou a ideia quando percebeu. Tinha planos para que eu fosse advogado, nossa família inteira é, há gerações. Foi ele quem nos livrou de um internato para menores, quando Peter morreu. O dinheiro de jogador valia à pena e ele via muito potencial em mim." Dessa vez doeu um pouco, Remus pôde sentir. As palavras vieram mais baixas e bem mais lentas. "Meu irmão tem uma banda. Regulus, o nome dele, é mais novo que eu quatro anos. É um cantor genial, dedicado. Meus pais odiaram quando ele disse que queria ir para os Estados Unidos, queria cantar, ser músico, se formar. Então, eles se recusaram a pagar e eu decidi fazer isso por ele. Conversamos, conversamos muito. Sobre sacrifícios, dificuldades, tudo. Ele foi. Foi aceito na NYU, cursa música lá e conseguiu entrar pra Juilliard, depois do primeiro ano lá, como um talento bruto." Sorriu, observando Remus estacionar o carro na frente da própria casa. Algo em seu coração o mandou parar ali. Sirius soltou-se do cinto de segurança e virou na direção do loiro, olhando-o, desde que entrou no carro, não tinha lhe encarado até então e quando levantou as orbes, encarou aquele verde calmo e tranquilo dos olhos de Lupin. "Assisti à audição e foi uma das coisas mais bonitas que já vi na vida. Venho bancando tudo lá desde que ele foi. Fui visitar algumas vezes, mas, vir pra cá é... complicado. Ele não é mais bem-vindo em casa e Orion e Walburga, meus pais, detestam que eu o financie lá. Somos as ovelhas negras agora."