prólogo.

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Largado no altar.

Assim, sem mais nem menos.

Louis não conseguia formar uma frase coerente para nenhum de seus amigos ou família sem que voltasse a cair no choro. Ele não acreditava que Chris fez isso com ele. Simplesmente sumiu, deixando uma carta para trás que dizia que não podia se casar com ele por faltar algo no relacionamento.

Faltava era senso na cabeça daquele abusado!

Louis o odiava. E continuou odiando durante dias, meses e anos depois, enquanto se enfiava em horas e mais horas de trabalho após trabalho. Arrumou uma vaga em uma editora para ser um mísero estagiário que cuidava da paginação dos livros. Meses depois, foi promovido para revisão de texto. Depois, para coordenação de revisão de texto. E assim foi. Até que chegou em um dos cargos mais altos da empresa, com seu suor e seu sangue.

E não tivera sequer um relacionamento desde Chris. Cinco anos se passaram e, mesmo assim, todos os homens com quem Louis se envolvia não evoluíam para além de um sexo casual. A vida era assim. Ele era deixado no altar e depois ninguém mais conseguia cativar sua atenção, o que ele podia fazer, afinal? Os caras que se esforçassem mais para serem atraentes e interessantes ao ponto em que ele realmente sentisse vontade de sair com eles, além de um encontro que ele sabia que daria em um motel mais perto e, no dia seguinte, sumisse.

Louis tinha coisas mais importantes a se pensar além de manter uma relação duradoura com alguém. Seu trabalho consumia a maior parte do seu dia e ele fazia questão de sempre fazer horas extras. Queria perfeição no que fazia e coordenava, lançando os livros com mais potencial e dando a eles uma revisão, edição, paginação e capa a altura. Gostava de ser marido, namorado e amante de seu trabalho.

No momento, inclusive, ele estava gritando com um dos estagiários que deixou passar erros absurdos de ortografia em uma das obras mais novas, dando um prejuízo enorme para eles.

— Você tá de sacanagem?! – Louis falou, aumentando mais o tom de voz. – Isso é inaceitável, pelo amor de Deus! Eu te pago um salário muito maior do que um estagiário deveria receber e você faz isso? Você acha que eu sou palhaço?

O garoto, de mais ou menos vinte e poucos anos, se encolhia a cada palavra e Louis estava furioso. Completamente irado. Isso iria custar, além de reputação, muito dinheiro! Parecia que não existiam mais estagiários competentes nesse mundo.

Mas, no meio de seus gritos irados, Louis sentiu uma pontada no peito. Levou as mãos até lá e arregalou os olhos, se calando no meio da frase. A dor não passava, apenas aumentando a cada segundo. Sua visão começou a ficar marcada por pontos pretos e ele fechou as pálpebras, momentos antes de cair no chão, igual uma fruta madura demais cai do pé. Conseguiu apenas distinguir alguns gritos desesperados ao seu redor antes de apagar completamente.

Horas depois, uma luz branca muito forte penetrou por entre suas pálpebras e ele soltou um murmúrio alto de lamentação. Abriu levemente os olhos e tapou a fonte do incômodo com a mão. Será que havia ido parar no céu? E, se sim, por que o céu cheirava tanto a álcool?

— Oh, você acordou! – Uma voz soou à sua esquerda (Deus?!) e ele abriu completamente os olhos, virando a cabeça na direção. Pelo visto ele não estava morto, pois era um médico (ou será que Deus havia se materializado em forma de médico para ele?). E parecia estar deitado em uma maca, dentro de um hospital. Não sabia se agradecia ou ficava com raiva, porque odiava hospitais mais que tudo. O céu seria melhor que isso. – Que bom, Louis. – O de olhos azuis concordou com a cabeça, a garganta ressecada. Não lembrava muito do que acontecera, apenas de sentir uma dor muito forte. – Então... Você teve uma crise de estresse, provavelmente junto de uma crise de ansiedade. Os sintomas são muito parecidos com de um enfarto, mas seu coração está muito bem!

when the ocean resembles your eyes [l.s.]Onde histórias criam vida. Descubra agora