dia 08.

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Já era o segundo dia seguido que Harry tinha um rompante de criatividade. As palavras pareciam suas melhores amigas, que há muito perderam contato e agora finalmente se reencontraram, rindo e conversando levemente com ele, em perfeita e assustadora harmonia. Uma reconexão e retomada de intimidade que parecia estar adormecida por um tempo, mas que nunca se fora completamente.

A sensação era boa, de apenas sentar e escrever seus sentimentos, traduzindo-os de um jeito que o satisfazia quase completamente. Estava sentado na areia, o caderno apoiado no joelho e a outra perna esticada, de frente para o mar. O lápis rabiscava o papel, falando sobre como o azul cristalino das ondas do mar serviam de calmante para ele, mesmo que o oceano fosse um lugar não tão desvendado. A mesma fonte de ansiedade e braveza, também o passava aquela gostosa sensação de calmaria e leveza.

E o azul era sua maior inspiração e o maior alvo de seus adjetivos, substantivos e verbos. O azul cristalino. O azul que encanta. O azul que fascina. O azul que rodeia sua mente.

Harry sempre teve uma conexão bem forte com o mar e as cores, passava horas encarando a imensidão que preenchia o horizonte e, as vezes, se misturava com o céu. Para ele, era belo o quão imprevisível os fenômenos da natureza eram.

Seu caderno estava sendo preenchido novamente de textos, a letra inclinada e redonda formando linhas e mais linhas de um quebra-cabeça.

Entrou novamente em casa, satisfeito consigo mesmo, e preparou seu almoço rapidamente. Uma salada completa, acompanhada de arroz e alguns legumes cozidos no vapor. Gostava de comidas leves que preenchessem seu estômago sem deixá-lo muito pesado e não comia nenhum tipo de carne há alguns anos. Desde que se envolvera na adoção de Bartolomeu as coisas mudaram muito para ele, todo o jeito que encarava o tratamento de animais, a indústria da carne e compra de animais. Era extremamente violento e desumano, portanto optara por cortar de sua alimentação.

Comeu tudo lentamente, compartilhando um pouco dos legumes com o cachorro deitado a seus pés, que o encarava lambendo os beiços com olhos pidões. Toda vez que Harry passava um brócolis para ele, Bartô devorava a árvorezinha em questão de segundos, arrancando gargalhadas do garoto. A companhia do animal era sempre engraçada e animada desse jeito, fator que dava certeza a Styles de que ele já teria surtado se o cão não houvesse cruzado seu caminho.

Lavou toda a louça e aproveitou para colocar algumas coisas da casa no lugar, passando uma vassoura e um pano no chão de madeira. Divagou um pouco, se perguntando como Louis estaria agora, se já teria almoçado, se limpava a própria residência. Se estava com vontade de encontrá-lo...

Suspirando baixo, olhou no relógio de pulso e pegou a guia de Bartolomeu, vendo que o por-do-sol estava se aproximando. Harry realmente gostava de aproveitar aquela parte do dia com seus pés e as patas do cachorro na areia, apreciando a grande estrela descer lentamente por trás do mar.

A dupla saiu pela porta da frente, uma brisa forte passando pelos cabelos e pelos, bagunçando-os charmosamente.

— Ei. – Uma voz soou atrás de si e Harry virou, confuso, encarando Louis com Panqueca ao seu lado. – Posso acompanhar vocês?

O coração do de olhos verdes revirou dentro de seu peito e um sorriso sincero cortou seu rosto. Ele assentiu com a cabeça e o canto da boca de Louis se ergue levemente. Os dois deram passos lentos, um ao lado do outro e permanecerem em silêncio por alguns minutos do trajeto, até Harry finalmente quebrar o clima estranho.

— E aí? Como tá sendo sua vida aqui? – Perguntou, virando a cabeça para encarar Louis, sem parar a caminhada.

— Normal. – O menor deu de ombros e suspirou. – Boa, na verdade. Isso é o paraíso.

— É verdade. – Harry concordou e eles pararam por alguns segundos para que Bartolomeu cheirasse algo na areia. – Eu amo morar aqui.

— Você mora aqui há muito tempo, Harry? – O mais velhos perguntou, genuinamente curioso sobre aspectos sobre o vizinho.

— Sim, desde que minha avó me deixou a casa quando eu completei a maioridade e vim morar sozinho. – Respondeu, ficando a visão no sol que descia no horizonte. – E eu sou louco por isso. O mar, a areia, o ar salgado. É hipnotizante.

— Eu sei o que você quer dizer. Parece que é sempre verão. – Louis sorriu largamente e soltou a guia de Panqueca, que correu um pouco na frente deles.

Harry fez o mesmo com Bartolomeu, que aproveitou para disparar atrás da cadela, os dois correndo em círculos entre eles, escavando a areia e fazendo bagunça. Os donos pararam, ainda um ao lado do outro e ficaram observando os animais por um tempo.

— Ouvi você escutando Queen um dia desses. – Harry quebrou o assunto mais uma vez. – Uma das melhores bandas já existentes no planeta.

— Sim! – Louis concordou animado, se virando de frente para ele e batendo palmas energéticas. – Eu tenho vários vinis deles! Qualquer dia eu posso te mostrar, prometo que vale super a pena.

— Claro, Louis. Eu iria adorar. – Ainda mais se for na sua companhia, acrescentou em pensamento. Seu sorriso cresceu ainda mais ao escutar Louis tagarelar sobre harmonia, melodia e como Freddie Mercury era, com certeza absoluta, a maior voz do universo e ninguém mudaria isso.

— Você podia me ensinar a fazer um café divino também, viu? – O mais velho falou e Styles não conseguia tirar o sorriso bobo do rosto ao pensar o quão lindo Louis era quando estava animado. Ele era bonito rabugento também, mas a expressão iluminada de felicidade dava outro toque a face esculpida dele, uma sensação calorosa.

— Óbvio. – O sol já se escondia no horizonte e eles colocaram novamente a guia nas coleiras dos cachorros, direcionando-se de volta para casa. – Eu acompanho um blog sensacional sobre café, as dicas são ótimas!

O assunto continuou e Louis estava tão entretido que, quando o grupo parou em frente a casa de Harry, ele se sentiu vazio. Queria continuar mais ali, desejava secretamente que a praia não terminasse e a areia fosse infinita para que não precisasse voltar para sua casa.

Mas a jornada do dia realmente chegou ao fim. Louis e Harry se separaram, indo cada um para sua residência, o dia realmente acabando, porém o sentimento de algo inacabado permanecendo na mente de ambos até o momento de se deitar.

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⏰ Última atualização: May 27, 2021 ⏰

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when the ocean resembles your eyes [l.s.]Onde histórias criam vida. Descubra agora