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A - minha? - vida pede uma pausa.
Pausa do que?
Pausa do celular,
Do trabalho chato,
Da parte pop cultural ruim que se encontra tão em voga nos dias atuais? Eu estou decididamente cansado do reels, é tudo muito parecido, e diferente um do outro.

Cheguei cansado do trabalho querendo assistir um filme pra relaxar. O sono bateu era 23:30, agora são 01:10 e ainda não durmo.
Poderia colocar a culpa no café que eu tomei mais cedo,mas acho que essa não é a raiz principal desse mal. Acho que a ansiedade se fez presente essa noite, assim como vem se apresentando tem alguns anos.
A incerteza e inconstância no meu trabalho, a incerteza de um futuro melhor, o medo de nunca sair do lugar por mais que eu me esforce me tiraram o sono.
A falta de perspectiva de voltar ao normal logo, afinal já são meses de angústia e inúmeros sorrisos que se fecham.

Olhando pela janela me pergunto onde foi que eu errei. Qual caminho eu peguei errado, ou qual final de livro que eu li sem querer quando fui ver o números de páginas, me trouxeram até aqui: deitado sentindo cheiro de vinho, angustiado e sem conseguir dormir.
Amanhã é um novo dia, e talvez eu precise encarar esse momento de reflexão, olhar e perceber onde estou e o que preciso mudar para chegar onde desejo. Dormir seria mais fácil que encarar o momento, fecharia os olhos e chegaria num outro dia sem nem perceber. Anularia momentaneamente a dor de ser quem sou.

Já chorei. Minha cabeça dói, e queria beber, mas está tudo fechado.

Hoje mais cedo me encontrei com uma pessoa sem máscara, e fiquei me perguntando como que alguém poderia se tornar tão mesquinho por andar assim sem se importar com os outros.  Jamais podemos sair de casa sem uma máscara. Todos os dias, ao acordar devemos escolher qual máscara vamos usar no dia. Claro, ao longo do dia talvez precisemos trocar essa máscara.

Como não consigo dormir, estou separando as que vou usar amanhã.
Bem cedo ao acordar, será a máscara do otimismo. Colocarei um brilho nos olhos, um leve sorriso no rosto que diz que tudo vai ficar bem e que tudo dará certo. Ao sair de casa, usarei a máscara da indiferença. Se eu me encontrar com alguém nas escadas do prédio, não darei a mínima, afinal, é apenas uma pessoa com quem me encontrarei no dia. Estou em dúvida sobre qual máscara uso ao passar pelo caixa do supermercado, - o qual estará lotado muito possivelmente, e num momento como esses é preocupante - talvez use a máscara da simpatia, mas acho que a do ódio gratuito é mais apropriado. Enfim, levarei as duas, amanhã me decido.
No trabalho, com certeza usarei a de insatisfação, farei minhas obrigações com um olhar de caramujo com dor, meu andar será vagaroso, e não vou sorrir, para que percebam que não estou feliz de estar ali.
Depois finalmente chegarei em casa e poderei dormir para chegar no outro dia com mais esperança de que tudo será diferente. Mas não vai ser, não. O ciclo da rotina é viciante. Todos os dias as mesmas ações e emoções me levam a um Looping infinito de insatisfação, uma vez insatisfeito, me encontro consumindo cultura pop ruim e procrastinando no Tinder para esquecer que tem algum problema na minha vida. Fico comparando a minha vida com a de gente que dança na internet, e "esqueço" de fazer o que preciso: eu realmente deveria voltar a estudar francês e libras, afinal era uma meta para esse ano.
Bom, pelo menos estou escrevendo, o que não significa que voltarei a fazê-lo, bem que eu gostaria.

Amanhã pretendo voltar a ler, talvez o desejo por escrever volte  e eu volte a ser eu, afinal desde março do ano passado não estou em mim. Não desenhei, nem li, nem malhei. Não escrevi. Não cozinhei e não salvei o mundo. Nesse último ano não consegui ser nada, acho que a criança que eu era está envergonhada de mim nesse momento.
Tento me consolar dizendo que muita gente está se sentindo assim, mas afinal, eu não sou os outros. Foda-se eles. E foda-se eu também por estar junto nesse limbo de procrastinação e autossabotagem. Talvez eu seja tão pior que todos os outros por me achar diferente deles.
Espero que amanhã seja melhor que hoje.

A Lua Está Encoberta Onde histórias criam vida. Descubra agora