• INTRODUÇÃO •

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Dentro de um edifício de mármore branco, onde a névoa abundante cobria o piso quente e treme com as leves ondulações da brisa, uma longa cascata de fios vermelhos sangue se destacava diante de um homem sentado em seu trono.

O rosto imponente e pálido do homem era severo, os olhos frios como sua própria cor de íris esbranquiçadas enquanto contemplava a pequena figura de cabelos escarlates a sua frente.

— Outra vez aqui.

A voz poderia soar indiferente, mas quem o conhecia o suficiente, como o jovem aos seus pés, conseguiria notar a leve ondulação de raiva e ressentimento.

O jovem não ousou se levantar de sua posição ajoelhada quando ouviu aquele tom, mas também não deixou que aquilo apagasse o fogo de sua determinação.

— Peço que reconsidere, meu irmão.

Os lábios sem cor do homem crisparam quando ouviu a palavra "irmão" sair da boca do rapaz, seu desgosto era claro com o termo usado.

— Não há nada para reconsiderar. Você está querendo mexer com dois universos diferentes, está querendo fundi-los. Sabe o tamanho de sua falta de noção neste exato momento?

— Sei que pode parecer sem sentido, mas tenho que ao menos tentar. Não posso vê-los sofrer assim. Além disso, essas guerras contínuas não são naturais e poderiam levar a extinção da raça humana.

A mão do homem se apertou sobre o trono de mármore, tentando conter a repentina onda de fúria com a imprudência do jovem deus.

Até onde vai esse maldito apego aos humanos? Ele não sabe que pode simplesmente deixar de existir se usar sua própria carne e sangue para fundir esses universos? Não bastou ver no que resultou a sua contraparte?

— Esse seu amor por seres tão tolos e egoístas te deixou cego aos fatos? As consequências? Haru, você enlouqueceu? Está ciente do que ocorreu a sua contraparte, mas mesmo assim ainda tenta?!

Haru apenas olhou para o homem, seus olhos cheios de serenidade e carinho enquanto olhava para ele. O olhar do jovem o incomodou mais do que deveria, deixando-o se sentindo impotente e irritadiço.

— Se é isso que a Mãe e o Pai desejam, assim será. Não sou como você, Malvis, não nasci apenas do poder de nossos Soberanos. Eu nasci entre os seres que você dita como tolos e egoístas, cresci superando o rancor e a maldade humana para enfim conhecer o amor e a esperança.

Os olhos do jovem foram nublados por uma camada de tristeza, mesmo que ainda houvesse o distinto brilho de esperança nos olhos do ruivo.

— Caminhei sobre aquele solo por muito tempo com a benção da Mãe e do Pai, mesmo na forma de uma simples e insignificante alma. Vi as guerras, o sangue inocente derramado sobre a terra, o desespero e a fome, mas também vi o nascer de uma nova vida, a alegria, a felicidade e o amor. Não sou cego quanto a escuridão de alguns, mas também não sou cego a luz que habita em outros. Então...

Haru olhou fixamente para Malvis, implorando com os olhos para que lhe concedesse o que pedia. Apenas dessa vez, só dessa vez.

— Por favor, você me deve pelo menos isso.

O homem olhou para a pequena figura a sua frente, a frieza ressentida que desprendia de seu olhar era cortante. Haru aparentemente não se importava com a própria existência, ou o quanto era importante para os outros. Para ele.

— Faça o que quiser, apenas saiba que o preço que pagará depois não será barato.

— Obrigado, Malvis.

Um leve sorriso apareceu no rosto pequeno e delicado de Haru quando sussurrou, e Malvis foi repentinamente atraído pelos olhos cor de ouro que brilhavam tão lindamente.

Malvis as vezes achava que, se não tivesse se apaixonado por aquela alma, — se não tivesse falado do humano digno do posto de uma divindade para a Mãe e o Pai — não teria doído tanto seu coração ao ver aquela mesma alma o tratar como um irmão. Ou até mesmo não se importar com o quão importante sua existência se tornou para todos.

Antes, Haru estava fora de seu alcance por conta de sua essência mortal.

Agora, Haru estava fora de seu alcance por causa do parentesco entre as divindades que os criou.

Sendo o Deus da Criação, Malvis nunca pensou que poderia odiar e amar alguém tão inconsequente e imprudente. Mas, aparentemente, Haru veio a nascer apenas para isso.

•Capítulo com 746 palavras.
• Revisado e editado.
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Sacrifício (Naruto reagindo / Naruto react)Onde histórias criam vida. Descubra agora