Icy

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Shortfic de 3 capítulos completamente baseada na versão cover de Kurt Hugo Schneider e Alyson Stoner de “Sweater Weather”.

Boa leitura 💖

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Esta, é Berk. Fica doze dias ao norte de Desânimo e alguns graus ao sul de Morrendo de Frio. Ela é enraizada no Meridiano da Tristeza.

Minha aldeia.

Em uma palavra? Sólida. Ela existe há sete gerações, mas todas as casas são novinhas em folha. Nós temos pesca, caça e um pôr do sol encantador.

Aqui, neva nove meses por ano e nos outros três cai granizo. Então é um fato inegável de que eu conheço todos os tipos de frio, porque nós, Vikings, aprendemos a lidar com ele desde que nascemos aqui neste pequeno e melancólico pedaço de mundo.

Já presenciei um vizinho ter de decepar a própria mão que congelara durante a noite, um outro que fora obrigado a esquentar os dedos do pé durante um dia inteiro na frente de uma lareira, simplesmente porque o frio não dava nenhuma trégua. Já tive meu próprio cabelo criando camadas de gelo quando resolvi sair em uma noite de nevasca, quando era apenas uma criança Viking querendo se provar corajosa. Eu sabia exatamente as variações de temperatura de cada dia, de cada mês e de cada ano que passava, cada mínimo vento que carregava algo diferente nas plumas de sua brisa.

Mas eu jamais havia conhecido um frio tenebroso como o que estava sentindo naquela noite.

Faziam apenas alguns meses desde que eu perdera parte da minha perna esquerda para o Fogo, e as coisas em Berk estavam se ajeitando aos poucos. A prótese de metal que agora substituía meu pé ainda era um grande incômodo para mim; estava difícil de me acostumar a não ter mais um pé. E ainda havia o agravo das mudanças bruscas de temperatura, que faziam minha perna em recuperação doer em contato com o metal frígido. Por estes motivos, Banguela costumava dormir aninhado aos meus pés para me manter aquecido durante a noite, me permitindo dormir tranquilo, e eu já havia me acostumado com aquele pequeno arranjo.

Então foi realmente atordoante acordar de súbito no meio da noite com aquela horrível pontada de dor, uma corrente elétrica subindo por toda minha perna e me arrancando bruscamente do mundo dos sonhos. Pisquei confuso, arrastando os olhos pesados de sono pelo quarto escuro, procurando por algum sinal de Banguela.

Não foi realmente muito difícil perceber que ele não estava ali, pois com outra onda de susto varrendo meu corpo eu percebi duas coisas:

A primeira delas é que havia um buraco enorme na parede que ficava exatamente em frente a minha cama, provavelmente aberto por meu irresponsável amigo dragão.

A segunda é que estava caindo o que eu só poderia julgar como a pior nevasca que já tinha visto em toda minha curta vida, grossos e pesados flocos de neve entrando violentamente no meu quarto em rajadas fortes e cortantes de vento frio.

Merda, foi o meu primeiro pensamento coerente.

Porque era bastante óbvio que Banguela estava lá fora – por algum motivo que só Odin poderia entender – e que eu teria de sair para procurar por ele. Suprimi um gemido de frustração, levantando da cama com pressa. Fiz uma careta ao encostar a prótese no chão, sentindo uma nova descarga elétrica percorrendo minha perna, mas decidi ignorar a dor. Coloquei o máximo de roupas que consegui encontrar e desci as escadas tentando não fazer muito barulho; não precisava dos rugidos irritados de meu pai no momento, que deveria estar dormindo em um sono verdadeiramente profundo, mas também facilmente perturbável.

Precisava encontrar meu amigo, e logo.

Eu sabia que Banguela não costumava fazer aquele tipo de coisa, destruir nossa casa daquela maneira; ele geralmente saía e entrava pelas janelas e, mesmo que tivesse demorado para conseguir se locomover dentro de casa sem quebrar nada, ainda assim ele agora o fazia com perfeição e nunca havia sido de outra forma. Me peguei pensando que para ele ter aberto um buraco no meu quarto deve ter sido por puro instinto de perigo, onde ele pouco estivesse se importando com a parede ou com a neve, mais preocupado com outra coisa.

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