Historia de pirata

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Tenho impressão que não sou bem-vindo em muitos lugares. Não sei dizer se é pelos olhares maldosos, medrosos ou mãos de homens nas facas e objetos cortantes quando passo. É realmente um misterio.

Deslizei sentado pelo corrimão da escada até o convés, andando em direção ao mastro no meio do navio.
Agarro Lance pela gola da camisa por trás quando ele passa andando. Puxei para perto, sem deixar que ele processe a informação.

— Agora, me diga da onde diabos você ouviu o boato. - Digo a ele com um tom baixo.
Fiquei tão focado na navegação que esqueci de perguntar onde deviamos ir primeiro.

Lance não responde logo, fazendo um som de 'hã', como se não tivesse me ouvido. Bufo com aquilo.
Não o dou tempo, largando-o e andando de volta até as escadas que davam para o leme do navio. 

Bato palmas uma vez quando chego ao topo dela. O som chama atenção e todos param. Cães obedientes. Quem diria. 

— Alguém, por acaso, sabe onde podemos começar nossas buscas ao mar sobre a lenda da sereia? - Todos os dez homens se entre olham, esperando a resposta vindo de alguém. No meio deles, bem longe, ouço uma voz bem familiar e irritante. 

— É TRITÃO! - Harry grita, e eu bato a mão na testa, deslizando no rosto até o queixo.

Sinceramente, acho que vou apunhalar a próxima pessoa que disser isso.

— Que vá para o inferno! Não deixa de ser peixe. - Gritei de volta, procurando aquela cabeleira vermelha e rosto com sujeira entre meus outros homens. 

[...]

Ficar em terra firme sempre era estranho. Minhas pernas ficam bambas. Meu corpo deixando claro que mesmo em terra, ainda vou sentir o movimento de ondulação do meu navio. Enfim, depois de alguns minutos andando pela passarela do caís, meio "bebado', eu consigo voltar a andar como uma pessoa sobria.

Meus homens vão na frente, nem um pouco discretos, falando alto como bárbaros e crianças animadas.
Olhares são direcionados a mim. Me sinto uma má celebridade que ninguem gosta, mas não param de falar e dá fama. 
Um sorriso lentamente brota em meu rosto. Ajeito meu chapéu, subindo a aba para cima e exibindo um pouco do meu cabelo loiro. Ando de queixo erguido e postura reta. Meus passos lentos e decididos na calçada de concreto.

Giro os calcanhares para o lado, ficando de frente a um bar com aparência desgastada. Observo a placa de uma sereia com os peitos amostra. Os cabelos esvoaçantes para o lado numa coloração desgastada de vermelho que é o ruivo do cabelo. Ouço o som de risadas e música vindo de dentro do local. A janela exibindo a iluminação dourada das velas de dentro que se infitral na noite.

Observo as estrelas do céu. A noite de lua cheia demonstrando que tudo será mais quieto e com assombrações.

Piso na varanda do bar, empurrando com as duas mãos as portas divididas.
O som da música abaixando por um segundo, enquanto olhares se erguem e me encaram com expectativa.

Passo o olhar pelo local. As mesas de madeira grossa e bruta, ocupadas por homens bebendo, comendo e em jogatinas. As mulheres simples segurando bandejas com canecas e andando pelo bar com seus aventais em frente aos vestidos, servindo clientes e moças em situações melhores, acompanhadas com seus parceiro ou clientes do próprio negócio.

O minuto de tensão dissipa quando abaixo a bainha do meu chapéu para esconder meus olhos na sombra. O gesto faz com que ombros rígidos relaxem, peitos voltem a se mexer quando respirão.
O som do piano voltando junto da cantiga calma e distraído de uma mulher baixa e idosa acima de um palco de frente para todos.

◈Um Feroz Tritão◈Onde histórias criam vida. Descubra agora