Capítulo 6

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"Acho que você tem razão... Ou talvez a profecia não aconteça por anos."

A voz de Annabeth ecoou na cabeça de Percy. E tão rápido quanto ela veio, a lembrança de foi.

— Percy... está tudo bem? — novamente, a voz dela o trouxe de volta para a sala de recreação. Mas ninguém parecia ter notado o que havia acabado de acontecer. Ele tentou controlar sua respiração. Uma lembrança. Aquilo tinha sido uma lembrança.

— Percy...?

— Está sim. Eu... só preciso de um pouco de água.

Annabeth assentiu.

— Eu pego pra você.

— Não precisa, obrigado. A reunião já deve estar acabando.

Ela o encarou mais um pouco. Ele tinha certeza que ela sabia que ele estava mentindo, se sentia transparente. Ela por fim desviou o olhar e se voltou para as outras pessoas. Percy tentou fazer o mesmo.

— Eu deveria ir, óbvio — Clarisse estava dizendo, levantando a voz. Se pelo menos eles fizessem um pouco mais de silêncio, talvez Percy conseguisse se lembrar... mas o vidro estava ali de novo, embassando tudo.

Ele queria gritar.

— Ah, certo. E porque você deveria ir? — Pólux, do chalé de Dionísio rebateu.

— Porque eu já tive a minha missão, diferente de você. Até onde eu me lembro, você nunca fez nada por esse lugar, além das festinhas.

— Eu perdi o meu irmão por esse lugar, sua...

— Okay, okay. Já chega. — Quíron interrompeu. — Vamos resolver isso de uma forma civilizada.

— Deveria ser romanos. — Annabeth disse, levantando a cabeça. — É uma missão em conjunto e nós já temos quatro gregos e só um romano. — ela apontou pra Percy, Piper, Leo, Jason e si mesma.

— E você presume que você vai também? — Clarrisse perguntou.

— Sim.

Percy começou a falar antes que outra discussão se iniciasse.

— Hazel e Frank. Eles me ajudaram desde que eu cheguei no Acampamento Júpiter. Eles mataram um gigante sozinhos. Com certeza são um dos sete.

— Bom, imagino que esse seja um detalhe que vamos precisar resolver quando chegarmos no Acampamento. — Quíron disse — Nesse caso, estão dispensados. Will, querido, você pode ficar mais um pouco? Precisamos falar sobre os suprimentos...

                    ***

Eles caminhavam em direção aos chalés, logo após a reunião. Percy queria chegar logo e ficar sozinho um pouco. Annabeth parecia querer conversar porque ficava desviando o olhar dele para o caminho a frente, então ele puxou assunto.

— Acho que a Clarisse não gosta muito de mim...

Ela sorriu, isso fez Percy se sentir um pouco melhor.

— Gosta sim, mas ela tem uma reputação a zelar. Nem imagino que desastre seria que alguém descobrisse que vocês são amigos.

Ele sorriu. Era muito fácil ficar perto dela, mesmo com todo o clima pesado. Imagina como teria sido antes... Isso o lembrou de algo que o estava incomodando praticamente o dia todo...

— Quando nós estamos no lago... — Ela o olhou, como se dissesse para continuar — Eu te disse que eu não lembrava o que nós éramos... antes de eu desaparecer. Você não me respondeu.

Annabeth parou de andar, Percy parou também.

— Nós não precisamos falar disso agora.

— Annabeth, por favor. Eu preciso saber. — Saber porque eu lembrei de você, porque eu confio tanto em você, porque eu me sinto assim. Ele já se sentia estúpido o suficiente por não saber.

Eles se encaram por muito tempo. Ele começou a achar que ela não responderia.

— Nós namoravamos, Percy. Eu te conheço desde os doze, e nós estávamos juntos por quatro meses antes de você... — ela não terminou antes de continuar a andar.

Ele se sentiu congelar, de dentro para fora. Desespero, desespero por estar longe. Ele já tinha sentido aquilo. Ártemis, céu, lagosta gigante... lagosta gigante? Espera. Quatro meses... mas a quanto tempo exatamente ele estava longe?

Annabeth não deu dois passos antes de sentir a mão dele envolver seu pulso com delicadeza. Ela se virou apenas para encontrá-lo com o olhar mais perdido do mundo.

— Me desculpa...

— Não foi culpa sua.

— Mesmo assim, eu sinto muito.

Ele fez aquela coisa fofa de apertar os lábios e franzir as sobrancelhas e ela não pode evitar abraça-lo. Mesmo depois de todo aquele tempo Percy ainda tinha cheiro de sal e areia quente. Mesmo depois de tanto tempo ainda era Percy. Ele a apertou o mais forte que podia. O cabelo dela cheirava a shampoo de limão, era bom.

— Eu vou me lembrar, eu...

— Está tudo bem, Cabeça-de-alga, depois a gente vê isso. Vamos cuidar de você primeiro, okay?

Mas ele se lembraria. Nem que tivesse que jurar pelo Rio Estige.

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