Somos homens. E eu vou usar linguagem “de homem”, para tentar ficar mais claro. Ninguém nos apalpa no caminho do banheiro, na balada, puxa nosso cabelo ou nosso braço, ou sussurra “vagabundo” no pé do nosso ouvido apenas porque queremos mijar.
Ninguém nos encoxa no metrô ou no ônibus, goza na nossa calça ou no nosso ombro, filma escondido a gola da camisa e publica em site pornô. Ninguém fotografa nossa bunda e envia por Whatsapp.Ninguém coloca câmera escondida para filmar por baixo de nossas bermudas na rua. Ninguém pega foto do nosso pau ou vídeo gravado transando para tirar onda com as amiguinhas de como nós somos gostosos e que vagabundos nós somos.
Ninguém se vinga de fim de relacionamento expondo nossa intimidade na Internet, para familiares, amigos, chefes. Nenhum taxista, por mais bêbado que estivesse, me levou para um matagal em vez do destino que pedi.
Nunca fui seguido na rua, voltando do trabalho, e temi coisa alguma senão perder o celular ou a carteira. Nenhuma mulher nojenta ficou se lambendo ou esfregando a mão enquanto eu atravesso a rua. Nenhum assaltante jamais enfiou a mão na minha calça ou tentou me beijar à força.
Ninguém nunca me ameaçou a vida depois de uma bota. Ninguém nunca ameaçou meu emprego a troco de sexo. Nunca tive medo de circular de noite ou de dia e ser vítima de um estupro.
Meu salário é oferecido de acordo à minha qualificação e estado do mercado. Só. Minha liberdade sexual é garantida pelos bagos que carrego, e, inclusive, quanto mais mulheres eu colecionar, mais foda eu sou.
Ninguém espera que eu largue o trabalho e dedique minha vida a filhos, quando eles nascerem. Ninguém vai me chamar de puto se desejar tomar uma cerveja no fim do expediente. Ninguém vai criar qualquer conceito sobre mim senão baseado nas minhas reais atitudes.
Então, fera, veja em quantos pontos supracitados você se enquadra e me conta como é bacana a vida sem essa violência indireta ou direta, como é simples viver assim. Lembra desse papo quando nomear “vitimismo”, “mimimi”, “falta de rola”, “louça para lavar”, enfim, os clichês que a gente conhece bem.
Não precisa pensar na desconhecida não: pensa na sua mãe, sua irmã, sua companheira, sua filha… Faz o mais forte exercício de empatia do mundo, que é se colocar no lugar delas.
- Feministo