Eric correu o mais rápido que pôde em direção à Kombi para mostrar aos pais o que havia acabado de presenciar: um homem de três metros de altura e, como se não bastasse, sem rosto.
Alcançando o carro, percebeu que seus pais não estavam em seu interior e em nenhum lugar por perto. Parecia que haviam sumido como as outras pessoas minutos atrás. Começou a andar pelo comércio da praça olhando pelas vitrines procurando vê-los no interior de alguma loja.
Olhou para o display da câmera pendurada em seu pescoço mais uma vez para garantir que a foto continuava imutável e ter certeza de que não estava ficando louco. Sim, o homem continuava sem rosto e Eric continuava com o misto de medo, curiosidade e vontade de berrar algo como "vocês estão vendo o que eu estou vendo?"
Parando em frente ao prédio da torre do relógio, deu uma geral olhando em volta como se fosse um periscópio de submarino nos desenhos animados, mas sem sucesso. A praça continuava vazia.
Pensou por um momento na possibilidade de seus pais o terem esquecido, mas logo descartou a ideia porque a Kombi continuava estacionada no mesmo lugar desde que chegaram. Até que, com o silêncio das ruas, conseguiu ouvir a voz de seu pai conversando num tom animado não tão distante.
Eric ficou imóvel tentando captar a direção de onde vinha a voz e calculou com seus instintos de jovem desesperado que acabara de se perder dos pais que a conversa vinha do estabelecimento às suas costas. Aproximou-se de uma das janelas do térreo da torre e colocou a mão em volta dos olhos em formato de concha para tentar enxergar o espaço interno da construção, e com facilidade reconheceu o cabelo grisalho de seu pai, que o fez ir direta e rapidamente em direção à porta para juntar-se a ele.
Assim que adentrou o que parecia ser uma igreja, ouviu barulhos de ponteiros de relógios, centenas - ou milhares - deles tiquetaqueando ao mesmo tempo, e ficou encantado com o que viu num raio de trezentos e sessenta graus. Relógios cobriam todas as paredes do lugar, milhares de relógios por toda parte. Prateleiras e mesas ao longo de todo o ambiente repletos de relógios dos mais diversos tipos. De parede, de bolso, de sol, cucos, analógicos, digitais antigos e até ampulhetas nos mais diversos modelos. No final da loja havia um grande balcão onde estavam os pais de Eric e no lado de dentro da divisória havia um senhor que aparentava ter uns duzentos anos.
Eric olhou em volta mais uma vez, os olhos brilhando sem acreditar no que estava vendo. Era a maior relojoaria que vira em toda a sua vida, mas o diferencial dessa era que todos os relógios deveriam datar de pelo menos duas décadas atrás, e assim regressivamente. Não havia relógios modernos naquele recinto.
- Uau! - exclamou o garoto quando um cuco amarelo sujo saiu de sua casinha para anunciar precocemente que era meio-dia em ponto.
Conferiu no seu relógio de pulso e ainda eram 11h37m. O cuco estava adiantado.
- Impressionante, não é, Eric? - disse Alice aproximando-se do filho.
- Impressionante é pouco - respondeu-lhe o garoto. - Podemos levar um cuco? Quanto custa? Eu quero um!
Animado como estava, Eric só queria encher a Kombi com vários relógios e instalá-los nas paredes de seu próximo quarto apenas para ficar observando os pássaros de madeira indo e voltando de hora em hora. Tinha certeza de que poderia fazer isso pacientemente e sem se preocupar com o tédio nos 59 minutos restantes.
- Ah, Sr. Adam, este aqui é o nosso filho de quem falamos, Eric. Ele sempre viaja conosco e nos ajuda na restauração dos livros - apresentou Gael, colocando o braço no ombro do filho e guiando-o em direção ao dono da relojoaria para que o visse mais de perto.
- É um prazer, meu rapaz! Tenho certeza de que terá muito trabalho para você na biblioteca da minha irmã. Meu nome é Adam Cavanaugh.
- Eric Morgan - cumprimentou o garoto, tímido, apertando a mão do senhor.
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O PAPEL DE PAREDE
FantasyUma casa antiga. Um quarto com um papel de parede sombrio. Uma magia desconhecida. Um garoto curioso. Um mundo perdido entre a fantasia e a realidade.