O PAPEL DE PAREDE

O UIVO DA MEIA-NOITE

Eric e os pais só conseguiram descansar de verdade três dias depois em que estavam na casa. Tiveram que fazer uma faxina que durou um dia e meio antes de poderem começar com os trabalhos de verdade, e depois mapearam e organizaram o que seria feito nas próximas semanas, dividindo as tarefas de acordo com a habilidade de cada um. Seth não aparecia havia dois dias, pois tivera que sair da cidade para comprar alguns materiais que seriam necessários para a restauração de alguns itens.

O sol estava quase se pondo e fazia quinze minutos que o garoto estava procurando um galho de árvore grande ao redor da casa para poder usá-lo como cabideiro de chão no quarto que escolhera. A intenção era pendurar alguns casacos e o cuco que havia ganhado do Sr. Adam para não precisar fazer buracos na parede, pois sabia que se fizesse, seus pais o comeriam vivo. Depois de muita procura, conseguiu encontrar um que lhe agradara numa árvore meio caída na lateral da casa. Os ângulos que os galhos seguiam serviriam perfeitamente para o que o garoto precisava, até selecionou o que seguraria o cuco e marcou-o com as costas de um velho facão que encontrara num depósito de ferramentas nos fundos da cozinha. Após medir com os olhos o tamanho que queria, fez outra marcação onde iria separar o galho da árvore e começou a cortá-lo com repetidas investidas do facão contra a madeira. 

Um barulho familiar de motor de carro começou a ficar cada vez mais alto e Eric parou para procurar de onde vinha. Avistou por entre as árvores a Kombi de seus pais na estrada da entrada da propriedade dos Cavanaugh subindo em baixa velocidade em sua direção. Seth estava ao volante, pois pegara emprestado o carro para poder ir até uma cidade não tão perto para retirar os materiais encomendados. Eric avistou o cabelo loiro de Seth e um sorriso formou-se em seus olhos, pois os pais haviam acordado preocupados achando que alguma coisa havia acontecido com o rapaz na estrada.

Estacionando a Kombi ao lado da fonte, Seth desligou o motor e saiu do carro alongando-se. 

— O que está fazendo com esse facão? — indagou, indo em direção ao garoto com os braços esticados para cima e com uma careta de desconforto. Eric automaticamente olhou para as axilas e barriga do rapaz notando os pelos aloirados naquelas regiões, pois era a primeira vez que o vira sem jaqueta desde que chegara e agora ele estava usando uma regata verde caqui que subira levemente com o alongamento exagerado dos membros superiores, denunciando um abdômen definido com uma fina camada de pelos loiros na linha abaixo do umbigo. 

O garoto fez cara de interrogação por não ter entendido a pergunta e disse um "o quê?" quase sussurrando quando olhou nos olhos de Seth. 

— Eu perguntei o que você está fazendo com este facão — disse Seth com um meio sorriso.

— Ah. Eu, eerr — gaguejou, envergonhado. — Eu estava tentando arrancar este galho para poder usar como cabideiro de chão, mas só agora que pensei que eu deveria ter pedido permissão antes, desculpe-me. 

— Ei, calma! — disse levantando as mãos com gesto de rendição aproximando-se da árvore que Eric estava tentando cortar. — Não estou brigando com você, apenas perguntei. Relaxa, você pode fazer o que quiser com as árvores — observou o trabalho de Eric — Mas o que você estava fazendo aqui era tudo, menos cortar. 

Eric ficou mais vermelho do que já estava, mas acompanhou a piada e riu junto com o rapaz.

— Eu sou totalmente desprovido de técnicas para cortar uma árvore, esta é literalmente a minha primeira vez — defendeu-se olhando para o facão. 

— Não é difícil de perceber, mas vem cá — estendeu a mão para Eric —, me empresta o facão que eu te ensino. 

Eric entregou-lhe o facão e deu alguns passos para atrás até estar numa distância segura. Observou como um aluno obediente enquanto Seth fazia o passo-a-passo de como cortar um galho de árvore da espessura de um braço.