IRMÃO CONTRA IRMÃO

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Eric e os pais sentaram-se próximo à vitrine de tortas que ficava mais ao fundo da confeitaria e, assim que entraram, uma linda moça que aparentava ter uns trinta anos logo veio atendê-los. Pediram a torta de maçã que o Sr. Adam havia recomendado e gostaram tanto que Alice e Gael comeram mais uma fatia cada, e Eric, duas, acompanhada de uma refrigerante diet — para balancear, disse ele. O pai sempre dizia ao garoto que ele comia demais e que não engordava de ruim, mas sempre era ignorado com mais comilança. Parecia até provocação, porém pensava fazer parte da fase de crescimento e que devia ser respeitado. Entretanto, era difícil largar a piada de lado.

O ambiente tinha cheiro de bolos recém assados e doces deliciosos. Poderia ser uma ótima armadilha para atrair milhares de crianças numa cidade grande. O faturamento seria enorme.

Assim que acabou de comer todas as migalhas do prato, Eric finalmente lembrou do homem alto e sem rosto. Os movimentos repentinos para pegar a câmera e os sons que saíram de sua boca pareciam os de alguém que estava sendo eletrocutado e engasgado ao mesmo tempo, mas era apenas o choque da lembrança que o fez agir com tal desespero. 

— O que foi, garoto? — perguntou Alice assustada. — Tem formigas na sua calça?

— Vocês precisam ver isso! — respondeu Eric mais alto que o necessário fazendo algumas pessoas que estavam no recinto olharem feio para ele.

Neste momento uma pessoa entrou na confeitaria fazendo os sininhos da porta tilintarem, o que tirou a atenção de Eric da câmera pensando por alguns instantes ser o homem alto. Mas não era, e Eric não queria que fosse. 

Ele era alto, mas não como o homem sem rosto. Usava uma jaqueta de couro sintético preta e uma camiseta de algodão na mesma cor por baixo no estilo destroyed. Sua calça também era preta e rasgada na altura dos joelhos mostrando sua pele branca e cobria metade do cano da bota de motoqueiro que ele calçava. Nas mãos, luvas para enfrentar o frio dos ventos quando se pilota uma moto em alta velocidade e para impedir o calejamento das mesmas, e na cabeça, um capacete com alguns dizeres em branco. Parecia que ele tinha saído diretamente de uma revista onde o assunto principal era moda para motociclistas.

Eric observou-o parar durante alguns segundos na soleira da porta abaixando a cabeça para tirar o capacete e arrumar o cabelo amassado. Terminando, seus olhos foram diretamente nos do garoto, que dirigiu a atenção de volta à câmera que estava em cima da mesa para não ser pego encarando o motoqueiro — tão rápido que não conseguiu ver o rosto do homem direito.

— O que você quer nos mostrar? — perguntou a mãe do garoto com cara de preocupada e não percebendo o que acabara de acontecer. 

— Eu... — começou Eric, mas logo foi interrompido por uma voz que, particularmente, achou muito agradável aos ouvidos.

— Com licença, vocês são os Morgans? 

Era o motoqueiro que acabara de entrar. Todos da mesa olharam para ele, apreensivos.

— Sim, somos — disse Gael tomando a frente. — Você é o sobrinho do Sr. Adam? 

— Sim, sou. Meu nome é Seth Cavanaugh e estou aqui para guiá-los até a casa de minha mãe. Ela pediu para que eu os contratasse para fazer os reparos na casa.

— Claro! Eu sou Gael — levantou-se —, esta é a minha esposa Alice e este é o nosso filho Eric. É um prazer — disse Gael apresentando todos e cumprimentando o rapaz com um aperto de mão.

Eric deu um sorriso tímido e disse um mais que rápido "olá" e Alice apenas acenou com a cabeça.

— O prazer é meu — disse Seth sorrindo. — Se vocês ainda não terminaram de comer, posso esperar lá fora.

O PAPEL DE PAREDEOnde histórias criam vida. Descubra agora