Quem são eles

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Ana Julia de Almeida Rossi, 15 anos.

Na verdade faço 16 daqui uma semana, e pra todo mundo já falo que tenho 16, mas, não sei se isso contaria como um erro no trabalho, por isso optei por colocar 15 anos. Meu nome, até agora isso foi tudo o que consegui. Ter uma mente criativa as vezes é um saco, porque se eu me perco nas minhas próprias ideias (eu viajo na batatinha) no clímax de um livro extremamente interessante, quanto mais nesses trabalhos monótonos e engessados da escola. Tudo bem que se tratava sobre eu mesma, mas sinceramente eu não me acho tão interessante assim. Ainda tínhamos o prazo de uma semana, não precisava de muita pressa, mas eu estava angústiada por não saber absolutamente nada, nem se quer uma frase pra se por no papel. E é nessas horas que a nossa mente começa a pensar em truques infantis, como: aumentar as letras para encher o papel mais rápido, aumentar os espaços entre as palavras ou até mesmo prolongar frases desnecessariamente. Porém, até mesmo esses truques mais toscos precisavam de uma coisa que eu não tinha: palavras. Exatamente, me faltavam palavras. Pensei em conversar com meu pai, mas ele com certeza me diria que como é uma autobiografia eu mesma tinha que fazer sozinha, e minha mãe como sempre estava ocupada. Ainda era segunda, talvez eu esteja, como sempre estive, apressada demais.

19:00 PM

Deitada em minha cama olhando o teto do meu quarto, custumo fazer muito isso, e em quase todas as vezes, estou pensando na mesma pessoa: Ana Julia. Não a de agora. Mas a Ana Julia do ano que vem, a da depois da escola, a da faculdade, ou a do trabalho que seja, a Ana Julia esposa ou talvez mãe, a que irá se apaixonar, quebrar a cara e o coração, a que irá quebrar o coração de alguém. Eu sei que não devia pensar demasiadamente sobre isso, porque afinal de contas pensar nisso agora não mudará nada, mas a curiosidade somada da ansiedade me fazem realmente pensar muito sobre isso. A realidade é que enxergava minha vida como uma vida muito sem graça, eu queria muito mudar isso, mas não sabia como e minha preocupação era levar esse tipo de vida, uma vida monótona, sem perceber e acabar me acostumando com isso. Em virar talvez uma senhora certinha... Bem, o óculos eu já tinha. Balanço a cabeça. Tudo nessa vida menos virar uma cópia do meu pai, não no mau sentido, tenho enorme orgulho por ele, não só ele mas também pela mamãe, mas quero uma vida mais... Viva! Viajar, conhecer culturas, parece hipocrisia mas eu quero conhecer lugares e pessoas diferentes, viver um romance proibido talvez fazer coisas extremamen...

- O meu Deus - falo jogando uma mão na cara.

Minhas viagens sem sentido num futuro incerto acabaram, assim que o show da Professora Lurdes começou. Ela era minha vizinha de frente e isso nunca foi de fato um problema, exceto quando ele exagerava no vinho e decidia virar cantora de ópera. Na verdade era até engraçado, em dias de bom humor minha mãe fazia imitações dela na cozinha, era muito cômico, menos para meu pai, ele dizia que era falta de consideração. Minha mãe respondia: "você defende muito essa mulher, será que não está acontecendo alguma coisa entre vocês?". Ela ama provocar ele. Papai e a professora gostavam de coisas clássicas e eram presos ao antigo. Mas meu pai ter um caso? Impossível!

- Ana! O jantar está na mesa - grita mamãe lá de baixo.

- To descendo - respondo

Talvez o jantar em família seja uma das poucas ocasiões em que estamos nós três juntos.

- como foi a escola? - meu pai me perguntou

- foi bem até - respondi ainda decidindo se terminava o assunto ali ou prolongava a conversa.

- temos um aluno novo e um enorme e difícil trabalho de português - decidi

- uiuiui, aluno novo. Qual o nome dele?- se intrometeu a mamãe

- pra falar a verdade eu não sei ainda - não faria diferença saber

- Cuidado ao conhecer as pessoas, não sabemos se serão boa influência - papai disse

As três faces do invisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora