O PRÓLOGO

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Eu vivo em um mundo onde não há paz. Onde a guerra destruiu tudo que um dia foi a natureza e as coisas acima da terra. Agora somos obrigados a nos espremer nos subterrâneos para sobreviver, como ratos. Não há nada pior que viver assim, confinado, pensando em quanta terra está ao seu redor prestes a te esmagar. É um sentimento claustrofóbico que infelizmente cada um de nós nessa colônia teve que aprender a lidar.

Eu não sou uma pessoa excepcional, não sou alguém que queira realmente mudar essa situação, mas eu sinto falta de como era correr com os pés descalços na grama, de olhar para o céu infinito em azul e branco. Eu sinto falta de como era a vida antes de um grupo de pessoas decidirem que a melhor alternativa para resolver conflitos era a aniquilação, era confinar o que restara da humanidade, destruindo tudo que um dia chamamos de casa, o nosso planeta.

Acontece que viver é um trabalho sem sentido para mim, é algo que você perde quando vê os corpos de todas aquelas pessoas caídos a sua frente. É fácil se perguntar: por que eu sobrevivi? Por que eu não sou uma dessas pessoas espalhadas, caídas e sem vida nessa rua? A guerra é assim, ela tira tudo de você, os brinquedos que gostava, sua cama, sua casa, sua frágil rotina, sua inocência, e com isso tudo também se vão as pessoas, seus amores, seus amigos e sua família. A única coisa que restou para eu proteger é minha irmã, as únicas sobreviventes do pesadelo que levou nossos pais e tudo o que conhecíamos.

Apesar de tudo estou aqui, o motivo? A minha irmã. Quando você perde tudo, partes do seu ser vão embora também, e é por isso que nos agarramos uma à outra, a única coisa que ainda resta. Mas pelo menos minha vida não é das piores, quando todos os sobreviventes de guerra vieram para a Colônia eles aplicaram testes em todos a fim de encontrar mentes acima do esperado, afinal era necessário todos os esforços e principalmente estratégia para conseguir manter a humanidade viva. Treinaram alguns de nós por um longo tempo para que conseguíssemos desenvolver nossas habilidades intelectuais e físicas. E o que consegui? Um cargo alto de conselheira. Participo de todas as reuniões importantes daqui, por isso sei de tudo com antecedência. Poderia ser uma dádiva, mas não é. Não existem dádivas para quem tem que viver com esse buraco dentro de si. 

Chamas e CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora