Desconhecido

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"A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas."
                — Mario Quintana

Wangji não queria repetir. Ele nunca repetia a mesma pergunta para quem quer fosse; o ouviam apenas uma vez por saber disso.

E lá estava um jovem garoto tremendo de medo. Sim, o medo lhe dava um ar de superioridade. O medo sempre caminhava lado a lado com Wangji, pois aquela emoção se manifestava toda vez que Wangji apenas olhasse para alguém.

Não havia qualquer pessoa no mundo que não sentisse medo dele. E ele aprendeu a adorar aquela sensação, embora as vezes odiasse.

Guardando a espada em seu cinto escondido dentro da camisola, ele abaixou a guarda ao notar os machucados daquele garoto. Se de fato fosse um assassino, não estaria do jeito que estava, nem mesmo um mero plebeu se vestia daquele modo.

“Eu fiz uma pergunta.” Wangji incitou ainda próximo ao ouvido do outro que estava de olhos fechados.

Wuxian não disse nada.

Na verdade, ele não conseguia dizer nada, estava com tanto medo que até mesmo abrir a boca lhe custava muito.

Em um movimento ágil, Wangji se aproximou de Wuxian, tocando seu tórax contra a lateral do corpo do outro e o prensou no arbusto, pondo uma mão na parede de folhas.

Wuxian se virou um pouco para ficar de frente para a aterrorizante alteza quando abriu os olhos, receoso.

Mesmo que estivesse noite e tanto Wangji quanto Wuxian estivessem envolta em completo silêncio e farfalhar de folhas em uma situação completamente caótica, Wuxian ainda iria se sentir tomado por completo por aqueles olhos que agora o encaravam.

Eles eram tão marcantes, compenetrados de um jeito que Wuxian sentia até sua alma se sentir aflita.

E não era porque o formato era bonito e o conjunto de feições daquele rosto eram impressionantes. Algo ali o cativava.

Algo ali o instigava. Fazia seu coração apertar por parecer um enigma.

Mas para Wangji, o rosto a sua frente não lhe era estranho, o que o fez levantar a sobrancelha. Quem seria, afinal, aquele jovem desconhecido?

“Diga. Agora.”

“M-Meu nome é Wuxian! Eu vim de um lugar chamado Yunmeng e sou um estudante. Eu trabalho de garçom! Por favor, por favor, não me mate. Eu ainda não me formei! Eu tenho contas para pagar... Eu ainda não encontrei meus pais!”

Yunmeng...?” Wangji perguntou mais para si do que para o outro.

“Sim! É-É um lugar lind-do.”

“Yunmeng...” Wangji pensou, se afastando. Antes que Wuxian dissesse qualquer palavra a mais, os guardas que antes haviam ido embora apareceram novamente.

Correram em direção - com semblante em alerta e em desespero - ao imperador que apenas os fitou friamente, tomando sua decisão.

“Leve o invasor para o calabouço.”

CALABOUÇO?” Wuxian indagou. Os guardas seguraram seus braços perante a ordem. “MOÇO, MAS EU NÃO TE FIZ NADA?! POR FAVOR, MOÇO!!!”

Os guardas já se afastavam praticamente arrastando Wuxian que tentava se desvencilhar desesperado enquanto arregalava os olhos de tanta fúria e pavor que sentia.

“Eu não sou daqui!!! Eu não sou desse lugar! Por favor, não faz isso comigo!...”
Wuxian continuou esbravejando mesmo quando já tinha virado dois corredores de arbustos, com a última visão fresca em sua memória daquele homem de aparência arrebatadora e olhos frios.

IMPERADOR | WANGXIANOnde histórias criam vida. Descubra agora