Pecado

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"(...) Não há outro pecado além da estupidez."
       — Oscar Wilde

Wuxian sempre cronometrou cada segundo de sua vida pelo fato de ter a sensação de correr contra o tempo.

E pela primeira vez, talvez em muito desde que havia começado a viver sozinho na imensa cidade de Yunmeng e seu mundo ter virado de cabeça para baixo, ele não sentiu os minutos se esvaindo diante de si.

O que o fazia perder os minutos era a mão enorme do imperador em sua cintura, o respirar constante, o quase sorriso imperceptível de alguém que aprendia aos poucos algo que deveria ser importante.

A verdade era que Wuxian não tinha tanta experiência naquilo também, mas havia tantas coisas que aprendeu no orfanato. Dançar a dois era uma dessas.

O imperador ainda dava alguns erros, mas sua melhora se tornou contínua ao ponto de Wuxian sentir orgulho de si mesmo por ter tomado a decisão - e se arriscado -, a querer ajudá-lo mesmo que isso pudesse não dar certo.

Apesar de estarem em silêncio por grande parte do tempo, o imperador mantinha seus olhos presos no rosto de Wuxian e era o mesmo para o empregado.

E Wuxian, ao perceber o qual impressionante uma pessoa poderia ser pelos detalhes de seus esforços, não notou que já tinha feito mais de uma hora que dançavam.

Porque estava entretido demais, envolto demais. Cativado demais.

E aquilo o fez querer se desvencilhar bruscamente com a desculpa de que o imperador estava indo bem e Zichen poderia voltar ajuda-lo.

Por outro lado, Wangji estava tão preso na presença de Wuxian que não tinha percebido o qual simples era dançar em sintonia, ser guiado e guiar.

Tocar na cintura de Wuxian o fazia querer se aproximar, passar as mãos em suas costas e, se pudesse, em outros lugares. Enquanto segurava a mão do outro entrelaçada a sua, Wangji sentiu o qual pequena era a de Wuxian estando ali. Aquilo o fazia se sentir bem.

Olhar para Wuxian lhe dava a sensação de que poderia ir longe se pudesse se permitir tentar coisas, como dançar.

E quando se afastou, Wangji pensou na estranheza que era a falta da pequena e graciosa mão de Wuxian entre a sua, a falta que havia na ponta dos dedos de sua própria mão por já não tocar naquela parte do corpo do outro...

Antes que pudesse agradecer, Wuxian se retirou as pressas. Deixando um confuso imperador que não sentia vontade de continuar aprendendo.

Não quando o melhor professor já não estivesse ali.

No dia seguinte, Wangji acordou mais cedo do que o esperado e pediu para Ning avisar que seu café fosse entregue na mesa do lado de fora na varanda pessoal de seu quarto.

E que Wuxian estivesse presente.

O que o imperador não esperava fosse a recusa do outro. Sim, ele poderia ter ordenado, mas não o fez. Wangji não compreendia o motivo pelo qual seu empregado se negou a vê-lo, mas não quis tornar aquilo um motivo incômodo.

O que Wangji não sabia, entretanto, é que Wuxian não parava de pensar nele desde o dia anterior.

Pensar no imperador tocando-o enquanto parecia jogar todo o seu charme com olhares penetrantes. E além disso havia o fato de que ele era educado e nessa educação havia uma sutil gentileza, mesmo que não parecesse.

Era agradável.

Era instigante.

Era atraente.

E errado.

IMPERADOR | WANGXIANOnde histórias criam vida. Descubra agora