Algo mais doce

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O eco dos passos da rainha era o único som a quebrar o silêncio no longo corredor que levava à sala do trono.

Dez bruxas a aguardavam no salão. Não eram mais treze, e nunca mais seriam. Manon não quis substituí-las, mas sabia que precisava de guerreiras ao seu lado.

Por muito tempo, a bruxa resolveu tudo sozinha, incapaz de ter uma unidade, de falar com alguém. Somente Dorian fora capaz de quebrar aquela muralha e só após muito esforço e determinação.

Manon sabia que deveria ser grata e tratá-lo bem, era o que ele merecia. Mas algo dentro dela se remexia toda vez que tentava deixá-lo entrar mais em sua vida. Como se uma tempestade estivesse a caminho, apenas esperando para destruir o que a ela tinha construído durante aqueles anos.

A bruxa não sabia ao certo dizer o que tinha com o rei de Adarlan. Eram amigos? Ela não tinha certeza, nunca tivera amigos antes. A única pessoa que considerava amiga era Elide, e já fazia tanto tempo desde que vira a pequena humana. Eram amantes? Manon acreditava que sim, mas seus amantes anteriores não passavam de uma distração momentânea, algo fugaz e totalmente esquecível. Não era justo com Dorian compartilhar o mesmo título que eles.

Logo após o fim da guerra, Manon tentou se fechar para Dorian, tentou expulsá-lo de seu reino todas as vezes que ele foi visitá-la. Mas ele persistiu, durante meses ela o via na forma de serpente alada, empoleirado na torre em frente a seus aposentos. O rei sabia que Manon não queria falar com ninguém, então havia dado o espaço que ela precisava, mas sempre se mostrando presente. Sempre mostrando que estaria lá, quando ela estivesse pronta.

Foi extremamente difícil fugir do sentimento que crescia em seu peito toda vez que olhava para aquele homem. Manon não queria admitir, queria lutar contra aquilo, mas depois de tudo que ele havia feito por ela, era impossível de ignorar.

A culpa da última briga havia sido dela. Manon sabia o que estava fazendo, criou um conflito de propósito porque estava assustada. Porque no dia anterior ao desentendimento, Dorian a havia levado para jantar no deserto, e eles fizeram amor sob a luz das estrelas. Naquele dia, Manon soube que não havia como voltar atrás. Ela estava apaixonada por Dorian, e aquilo era mais aterrorizante do que qualquer coisa que já tinha enfrentado na vida.

Então ela encontrou uma maneira de afastá-lo. Sabia que o havia machucado, viu o olhar em seu rosto quando ele foi embora. E aquilo doeu como nunca. Doeu como não doía em anos. Parecia que ela finalmente havia despertado daquele limbo no qual fora jogada depois que perdeu suas companheiras.

Manon quis falar com Dorian diversas vezes nos meses que seguiram. Cada vez que deitava na cama, sentia uma falta imensa do corpo grande e quente do rei ao seu lado.

Então, um mês depois, ela foi a Adarlan. Estava sobrevoando a cidade com Abraxos quando o viu. Dorian caminhava de braços dados com uma humana pelos jardins de seu palácio. Ele sorria e conversava com a mulher, parecendo mais leve e feliz do que a bruxa já o tinha visto.

Então Manon imaginou que talvez ela não fosse o melhor para Dorian. Talvez ele fosse mais feliz se vivesse tranquilamente e em paz com uma mulher que havia sido criada para ser mãe e esposa.

Dorian merecia aquilo, ele merecia paz depois do que passou. Manon já estava acostumada com guerra e sangue, e era tudo que ela traria à vida do homem. Então ela foi embora sem olhar para trás.

Agora, porém, ela não teria escolha. Precisava ir até Adarlan, precisava da ajuda do rei. Manon não sabia se seria forte o bastante para olhar para ele e não querer tê-lo em seus braços. Resistir ao seu desejo seria a atitude mais altruísta a se tomar, mas Manon sempre fora egoísta.

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