Uma vez em vinte vidas

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Era verão. Um dia claro, cheio de pássaros cantando lá fora. 

Os olhos vermelhos como rubis, rosas e sangue, se arregalaram. A cama estava vazia. 

Mas não somente a cama vazia, a casa inteira. 

Tudo estava silencioso e calmo. A madeira não estalava com passos, as cortinas não se moviam com o vento, a chaleira não apitava com o calor da água. Com janelas e portas fechadas, a casa de Katsuki estava exatamente como sempre esteve. 

Antes. Muito antes. 

Depois de tanto tempo sendo casado com Izuku, depois de exatamente três anos, encontrar a casa como fora antes era aterrorizante. 

Entretanto, não era só a casa vazia que o assombrava - o cheiro do seu esposo não estava nos cobertores. Seu quarto com luzes de velas amareladas parecia um lugar para lhe assombrar, não o canto aconchegante que uma vez foi. Flores vermelhas estavam esquecidas em cima da mesa - formavam um arranjo pela metade. Como se Izuku houvesse apenas saído para dar uma olhada no correio. 

Mas já não se ouvia falar de Izuku há dias. 

Amedrontado pela ausência repentina, Katsuki procurou em seus bolsos, com as mãos que tremiam como um terremoto, o apito para chamar Kirishima. E quando os soluços irromperam pela sua garganta, ele já sabia. 

Os caçadores como ele nunca eram levados a sério a não ser que o assunto fosse matar. Com sua espada presa ao cinto e a bolsa de recompensas passada pelo peito, as pessoas acreditavam que ele não sabia de nada sobre amor. 

Mas ele viu como os olhos de esmeralda reluziam mais do que qualquer moeda de ouro que já recebera. Ele viu mãos talentosas aprenderem as artes de pintura, as defesas de espadas e os ritmos das músicas. 

Ele sabia que amor era algo perigoso e que algum dia, deixaria uma marca que duraria para sempre. E as pessoas acreditavam que ele não sabia de nada. Katsuki conhecia todas as histórias de amor que contava para Izuku quando ele tinha sonhos estranhos sobre luzes que dançavam acima dele; ele sabia de cabeça todas as receitas das comidas favoritas de seu amado e todas as letras de músicas que ele cantarolava quando estava distraído. Como ele preferia seu chá e como ele sempre pegava no sono lendo seus livros.  Katsuki sabia como Izuku se movia e como pisava no chão; ele sabia até mesmo que Izuku sempre deixava as janelas abertas e se esquecia de regar as plantas. 

Katsuki sabia tão bem todas as coisas que cercavam os mistérios do amor porque ele amava

E quando ele finalmente encontrou Beah em sua cabana, as lágrimas que desciam por suas bochechas confirmavam o que a bruxa também sabia que aconteceria um dia. 

Quando os olhos de Katsuki fitaram o vazio dentro de si através da bola de vidro, o sentimento característico de um ferimento grave se espalhava pelo peito dele - quando nenhuma corda dourada apareceu, ele já sabia

Estava sozinho com seu amor. 



- Izuku? 

O jovem piscou ao escutar seu nome. Seus olhos estavam pesados, os braços cruzados enquanto ele estava debruçado sobre um livro em cima da mesa da biblioteca. Todas as luzes estavam apagadas, com exceção da luz logo acima da sua cabeça.

- Você quase ficou trancado aqui! - a bibliotecária disse com uma risada. - Eu me lembrei que você ainda não tinha voltado e vim te ver. Você pegou no sono.

Confuso com o que a bibliotecária dizia, Izuku piscou algumas vezes. Ele havia dormido? 

- Eu estava... Aqui? - ele perguntou de repente, os olhos incomodados com alguma coisa. 

STRING | Fantasy AU Bakudeku/ KatsuDekuOnde histórias criam vida. Descubra agora