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As portas do elevador começam a se fechar, me tirando do estarrecimento. Meu corpo está anestesiado e a adrenalina domina minhas correntes sanguíneas. Foram apenas dez minutos da escola até aqui, e o hospital onde possivelmente mamãe está não fica tão perto. Não é onde ela trabalha. Shawn foi um verdadeiro louco no trânsito mas eu não reclamei, estava na mesma ansiedade que ele em saber oque realmente aconteceu com minha mãe. O nó em minha garganta só aumenta e a vontade de chorar é tão grande que não estou conseguindo esconder. O peso das coisas que tenho feito retorna a minha consciência e o medo de perder minha mãe me faz perceber o quanto tenho sido uma péssima filha. Tenho mentido, traído e enganado ela de uma forma tão absurda, imperdoável e essa angústia de não saber exatamente oque houve com ela só me atormenta cada vez mais e me faz sentir culpada. Shawn está parado ao meu lado quieto mas visivelmente preocupado, ele já checou seu celular umas três vezes num intervalo de tempo de dez segundos e tenho medo dele estar me escondendo algo.
Ele me olha com compaixão quando ouso encara-lo. Nunca vi nada além da expressão impassível em seu rosto duro, então o olhar que ele me dirige agora, pesaroso, e como se eu fosse ingênua, é estranhamente reconfortante.

- Fique calma. - sua voz é um fiapo.

- Como vou ficar calma se você disse que minha mãe está machucada e não me fala oque está acontecendo ? - soluço.

- Temos que pensar positivo sempre. Não sei oque houve mas já vamos descobrir. - mais uma vez sua mão envolve a minha. Como sinto falta do seu toque.

Dessa vez desembarcamos no quinto andar do hospital e ao chegar na recepção somos guiados até o quarto onde minha mãe se encontrava. Meu coração para de funcionar por alguns instantes quando me deparo com a situação que ela está. Seu rosto está bastante machucado e seu braço esquerdo sendo apoiado numa tipóia. Seu rosto triste e lesionado se ilumina num sorriso fraco ao notar nossa presença. Me sento na beira da cama sentindo finalmente o nó em minha garganta se desfazer, soluço diante dela tentando entender como ela ficou ferida daquela forma. Mais lágrimas escorrem sem controle dos meus olhos, e tudo parece ficar em câmera lenta. Shawn vem até mim, e começa a acariciar minhas costas. Nenhuma pergunta formulada em minha mente consegue sair pela minha boca. Estou em choque e preocupada.
Olho para Shawn e mamãe mas não consigo compreender a reação deles diante da situação, apesar da gravidade do problema os dois parecem tranquilos até.

- Oque houve mãe? - entre soluços consigo finalmente perguntar.

- Invadiram nossa casa filha. Dois caras, era um assalto e eu tentei reagir. Eles me deixaram assim. - sua voz é baixa e triste. - Mas graças a Deus os malditos fugiram e a vizinha conseguiu me ajudar - seu olhar é desviado para o Shawn e algo indecifrável é transmitido entre os dois.

- Mas quem iria querer invadir nossa casa? Não temos nada de valor. - Não acredito nisso.

- Não sabemos quem fez isso Becca, porquê os bandidos fugiram como sua mãe disse... Agora que sabe oque aconteceu deixe ela descansar um pouco. - Shawn intervém indelicado.

- Eu quero entender Shawn. Ou será que nem isso posso? - olho para ele com um olhar severo. - Seu rosto está cheio de escoriações mãe, seu braço está quebrado? Você já prestou queixa na polícia? - São tantas perguntas.

- Claro que pode, mas uma outra hora. - ele dá de ombros - Preciso fornecer alguns dados da Helen na recepção. Volto logo. - ele se retira.

- Não quebrou meu amor, só desloquei o ombro. - ela me tranquiliza. - E não, resolvi não dar queixa. Eles fugiram, não há muito oque fazer. - ela suspira - Fica aqui quietinha com a mamãe, no momento só preciso do carinho da minha filhota.

Por mais que pareça idiota da minha parte eu não consigo engolir essa história. Não temos nada de importante para justamente nossa casa ser invadida assim, no bairro em que moramos haviam outras residências mais luxuosas do que nossa pobre casa e que só de olhar a faixada dava-se para notar, acho que ela deveria ir a polícia, é o certo a se fazer. Entretanto não digo nada, talvez eu só esteja paranóica demais e ainda traumatizada com a notícia. Me aproximo de mamãe e fico fazendo companhia para ela, dando-lhe todo suporte e atenção de que precisa. Saber que ela estava machucada foi um verdadeiro baque e eu jamais imaginaria que ela pudesse passar por isso, muito menos reagir a um assalto. Ela sempre me pareceu tão calma para ter coragem de enfrentar dois bandidos possivelmente armados.

Oh Daddy! - Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora