Paul e John não conseguiam mais parar de falar da viagem a semanas. Todas as vezes que qualquer assunto era redirecionado a isso, todas as almofadas da casa eram atiradas neles por George e Ringo, que já estavam cansados de ouvir todos os detalhes do que fariam em Paris.
Eles estavam em casa depois de um longo dia tirando fotos no estúdio. Era uma noite excepcionalmente quente e eles estavam sentados no seu apartamento com as janelas deixando entrar uma brisa suave, embalados pela fumaça do cigarro de Ringo.
"Você acha que aquele hotel é realmente bom?", Paul perguntou pensativo, "Não quero ter que dividir a cama com você de novo".
Ele usava uma camisa preta de mangas curtas e estava sentado no sofá com os braços repousando atrás da cabeça, com o resto dos rapazes. John estava deitado com a cabeça no colo dele, seus pés descansavam no sofá e usava uma blusa de manga longa preta com calças de pijama vermelhas, apesar do calor.
"LÁ VAMOS NÓS DE NOVO, GEO, VOCÊ ESTÁ PRONTO?", Ringo disse com impaciência.
"Do que que você está falando, Paulie? Dividir a cama comigo seria o ponto alto da sua viagem", John respondeu, levando a mão ao peito com um gesto ofendido.
Ringo estava sentado no chão entre eles, usava somente uma calça preta de pijamas e meias que combinavam.
Ele recebeu a fala de John com uma risada forçada.
"Não é o ponto alto de ninguém, John", ele disse olhando para Paul com divertimento, "Você sempre puxa toda a coberta de madrugada".
"É verdade", George acrescentou enquanto se juntava a Ringo, engrossando a cortina de fumaça no cômodo com o cigarro, "Lembra de Litherland? Você literalmente me chutou pra fora da cama no meio da noite".
George, assim como Ringo, usava apenas uma calça preta.
"Cala a boca, Geo", John disse escondendo o rosto no colo de Paul para que ninguém o visse rindo.
"O problema é que você não era Paul, y'know?", Ringo disse entre as risadas que dividia com George, "Porquê o pequeno Paulie aqui é tratado como uma princesa".
Paul já tinha uma das mãos no rosto e tentava se desviar das almofadas que George jogava nele.
"Pelo amor de Deus, Ringo, isso de novo não", Paul disse.
John estava agora fazendo pequenas cócegas na barriga de Paul enquanto ria alto falando "Princesa!! Minha pequena princesa".
"Por isso nós não fomos convidados para a viagem, sabia George?", Ringo perguntou dando uma tragada no cigarro.
"Perfeitamente Rings, é para não atrapalhar a lua de mel do casal de senhores", George disse rodando uma almofada nas mãos.
"Isso não está correto", Paul disse afastando as mãos de John, "Vocês não foram convidados porquê vocês são os reais adultos aqui e alguém precisa ficar para atender as ligações e garantir que George não exploda a porra da casa".
"...E o Ringo ronca... eu não quero ir para Paris para te ouvir roncar, vovô", John disse, levando as mãos até o cigarro de Ringo e o pegando para si.
"Mas sim, eu acho que é um quarto bacana", ele acrescentou, soprando a fumaça do cigarro no rosto de Paul e arrancando uma careta incomodada do rapaz, "Se não for, a gente dá um jeito, certo?".
"Claro, claro. Você já arrumou a mala? Porquê da última ve...", Paul tinha começado a dizer mais foi interrompido por uma das almofadas atiradas por Ringo.
"NÃO COMEÇA DE NOVO", Ringo disse se atirando em cima de John e segurando uma almofada no rosto dele, "EU VOU MATAR SEU COMPANHEIRO DE VIAGEM SE VOCÊS ENTRAREM NESSE ASSUNTO DE NOVO".
Mesmo com a almofada sobre o rosto, era possível ouvir a risada de John e um grito baixo de "O homem perdeu a cabeça, Paulie! Faça alguma coisa!", enquanto Ringo se sentava em cima dele com o cigarro pendurado novamente na boca.
Paul empurrou Ringo de volta para o chão e assim passaram a noite antes da viagem.
Ficaram acordados até altas horas, parte pela ansiedade e parte porquê John ainda não havia arrumado a mala e precisou da ajuda de Paul para terminar.
Se despediram dos amigos com um abraço apertado ainda na madrugada, já que teriam que se levantar bem cedo para chegar a tempo na estação de trem.
"Paul, se você acidentalmente "perder" John por lá, não vai ser a pior coisa do mundo", Ringo disse com uma piscadela para George, enquanto abraçava Paul.
John que estava literalmente do lado deles, virou um tapa na nuca do rapaz.
"Acho que ele não concorda muito, vovô", George disse rindo.
Na manhã seguinte quando saíram de casa carregando as malas, o clima era agradável, o céu estava limpo e não parecia que iriam precisar se preocupar com nenhuma chuva aleatória pelo caminho.
Paul e John estavam com longos casacos pretos que combinavam e carregavam, cada um deles, uma bolsa de couro preta na lateral do corpo.
Por baixo do casaco, eles tinham dois ternos elegantes e John usava uma boina combinando.
Pularam em um táxi no fim da rua, ainda com tempo de sobra para pegarem o trem.
A idéia inteira da viagem veio de um presente de aniversário de John. Um parente distante havia enviado a ele uma boa quantia de dinheiro e, já que ele e Paul conversavam sempre sobre como seria bom terem um tempo para descansar a cabeça, combinaram uma viagem para Paris juntos. Toda custeada com o presente de John.
Pensavam que Paris era o lugar perfeito para sentirem a liberdade que queriam e passaram duas semanas não conseguindo falar em nada além do que fariam lá.
Chegaram na estação em um piscar de olhos e pularam para fora do táxi na frente da estação, animados por finalmente estarem indo para o lugar que esperaram tanto.
Pediram algumas instruções para um guarda perto dali e rapidamente se dirigiram para um dos portões de embarque.
Estavam conversando ao longo de todo o caminho e Paul se deixou envolver pela energia amável de John. Ele nunca tinha visto John tão animado com algo. Ele ria e fazia piadas o tempo todo, dava pequenos pulos de alegria e falava o tempo todo de todas as coisas legais que havia planejado para os dois.
Assim que o trem chegou na plataforma, John ficou confuso com o local de embarque e Paul gentilmente mostrou o caminho para ele o guiando pela cintura. Foram juntos mostrar os respectivos bilhetes, e as mãos de Paul só deixaram a cintura de John ao subir as escadas do trem.
John só percebeu que o toque havia acontecido quando ele acabou, tamanho era a familiaridade dele com a presença de Paul.
Os corredores do trem eram apertados, fazendo com que eles andassem devagar e agrupados.
John não pode deixar de reparar como o clima quente dos corredores faziam com que o cheiro do cabelo de Paul se tornasse ainda mais intenso. Ele amava o cheiro doce do rapaz e as vezes podia saber que Paul se aproximava apenas por sentir seu perfume.
Uma das cabines logo a frente deles se abriu rapidamente, e dela saíram duas moças arrastando uma pesada mala. Puramente por reflexo, John levou uma das mãos e envolveu a barriga de Paul para puxá-lo para trás, contra si.
Paul não se importou com o ato de proteção do amigo. Ele sentia o peito de John subir com a respiração e sentia o ar quente dela em seu pescoço.
Permaneceram ali, os dois corpos apertados um contra o outro, enquanto as mulheres arrastavam a mala para fora do caminho. A mão de John permaneceu apertada contra a barriga de Paul até que o caminho estivesse livre.
"A gente entra nessa?", Paul disse, se virando para olhar John.
Ele não conseguiu controlar seus olhos, que caíram diretamente sobre os lábios de John. Eles pareciam macios na luz que entrava da janela e levemente curvados em um sorriso de aprovação quando John acenou em concordância.
Assim que entraram na cabine e retiraram seus casacos, John fechou a porta da cabine e eles organizaram as malas no compartimento embaixo dos bancos.
"Bem legal, huh?", John disse olhando para o caos da plataforma de embarque pela janela, "Vamos ter uma vista legal até lá".
A atenção dele foi redirecionada para Paul, que estava em pé tirando o paletó e começando a afrouxar a gravata.
"Você já vai começar a tirar a roupa?", John disse se jogando no acento do trem e fixando seu olhar em Paul, "Eu ainda nem te paguei um jantar, amor".
John estava sentado no banco com as pernas abertas e as mãos repousando sobre as coxas. Paul percebeu que os olhos dele estavam fixos em seu peito, que agora estava exposto com a camisa meio aberta.
"Uma ótima vista, realmente", ambos pensaram.
"Cala a boca, Johnny", Paul disse rindo, "Só não quero essa maldita gravata me apertando a viagem inteira".
"Parece uma boa idéia", John disse também se levantando e começando a tirar a própria gravata.
Ele também tirou os sapatos e a boina que usava, revelando os cabelos castanhos fartos por baixo.
Assim que se fizeram confortáveis na cabine, eles ficaram olhando o movimento das pessoas pela estação, jogando conversa fora sobre a banda e fazendo caretas para as pessoas que passavam em frente a janela.
O trem não demorou muito para acordar. O som do maquinário foi se intensificando na mesma proporção que o trem embalava os passageiros em sua vibração constante.
Os dois tomaram seus lugares, cada um em um dos acentos opostos da cabine, olhando enquanto a paisagem começava a mudar lentamente pela janela.
A vibração suave do trem rápidamente lembrou John de que eles haviam ido dormir muito tarde e acordado muito cedo.
"Isso também faz você se sentir em um berço?", Paul perguntou com os olhos se fechando lentamente, "Deus, parece que eu não durmo há vinte anos desse jeito".
John deu um sorriso de compreensão ao amigo e se levantou para pegar um travesseiro para Paul.
"Acho que demos azar, Paulie", ele disse, olhando para o amigo sonolento, "Não tem nenhum travesseiro aqui em cima. Você também não trouxe nenhum, trouxe?"
"Trouxe sim", Paul disse e apontou para John, "Você?".
John riu do pedido de Paul mas prontamente se posicionou ao lado dele.
Ele se sentou com as costas contra a janela, deixando uma de suas pernas esticadas no banco e a outra posta no chão. Paul se deitou entre as pernas de John, com as costas contra o peito dele e a cabeça em seu ombro.
As mãos de John envolveram Paul contra ele, segurando no ponto pouco acima da sua cintura.
"Está confortável assim, amor?", John perguntou baixo, com a boca próxima ao ouvido de Paul.
Paul já estava num estado de semi consciência, e respondeu apenas com um murmúrio de conforto.
O rosto dele, que antes sustentava um sorriso, já começava a se derreter em uma expressão de paz.
O cheiro do cabelo dele agora fazia cócegas no nariz de John, que deixava seu rosto descansar contra Paul.
Não demorou muito para que ele se deixasse envolver pelo conforto do trem e do peso de Paul contra si e deslizasse para um sono profundo.
John sonhou que segurava Paul e o tocava com carinho, até que algo o tirou de lá.
Um grupo de meninas passou rindo pelo corredor e o som alto despertou os dois do estado de calma que estavam.
O trem ainda fazia seu trajeto mas a paisagem já havia mudado do cinza da cidade para o verde das árvores isoladas.
Não sabiam quanto tempo havia se passado, mas ainda estavam deitados juntos na mesma posição.
As mãos de John agora estavam envolvidas pelas de Paul, que faziam carinhos por seus dedos.
John abriu os olhos devagar, se deliciando pelo conforto que sentia.
"Paul?", ele disse, com a voz ainda rouca do sono.
"Estou acordado, amor", Paul disse com um pequeno pigarro.
John deslizou suavemente um beijo na lateral do rosto de Paul, deixando seu nariz se enterrar novamente nos cabelos dele.
"Sonhei com você", ele disse em um sussurro, "Sonhei que eu estava te tocando. Foi bem intenso, como se você estivesse tendo o mesmo sonho, y'know? Você estava lá?".
"Não tive o mesmo sonho, Johnny", Paul disse abrindo os olhos e se virando para olhá-lo, "Mas a realidade agora se parece muito com um sonho, não acha?".
O rosto de John estava a poucos centímetros dele. Paul pode ver o brilho dos olhos de John e seus lábios convidativos.
John olhou os cílios de Paul e a forma que seus olhos de curvavam levemente. Estavam fixos em sua boca e John teve certeza de que Paul se inclinava lentamente para acabar com a pouca distância que os separava.
O som de alguém batendo na porta os tirou do estado de calmaria e Paul se levantou rapidamente.
Quando abriu a porta, a cabine se encheu com o aroma de muffins quentes de blueberry e pães recem saídos do forno.
O carrinho de lanches ocupava quase o corredor inteiro, e era empurrado por uma mulher gentil.
"Alguém quer um lanchinho?", a senhora corpulenta que empurrava o carrinho perguntou, "Temos biscoitos também, queridos".
John levantou da poltrona arrumando o cabelo e se espreguiçando preguiçosamente.
"Pode ficar aqui, amor. Eu pego algo pra gente", ele disse para Paul com uma piscadela, movendo o rapaz delicadamente para que pudesse passar pela porta.
Quando John saiu da cabine Paul se debruçou próximo da janela, deixando seus olhos passearem sobre a paisagem. Se sentia grato por estar ali com uma pessoa que amava tanto e que cuidava tão bem dele.
John não hesitou em planejar a viagem e prometer que Paul não precisaria se preocupar com nada.
"Você pode tomar todo o sorvete que quiser por lá", ele havia dito para Paul durante um ensaio, tentando convencer ele sobre a viagem, como se fosse necessário.
"Até milkshake de banana?", Paul perguntou esperançoso.
"Se você encontrar milkshake de banana em Paris eu até compro o lugar para você", John respondeu com um sorriso.
Alguns minutos se passaram até que Paul foi retirado dos seus devaneios pelo som de uma batida na porta. John dava pequenos chutes nela enquanto equilibrava duas xícaras e pequenos pacotes de açúcar nas mãos. Ele levantou rápido e foi até lá, abrindo a porta e pegando uma xícara quente de café das mãos de John.
"Eu passei um tempão procurando esse açúcar, por algum motivo o carrinho não tinha e precisei ir até a cozinha", John disse rasgando um dos pacotes.
John tomou novamente seu lugar ao lado de Paul na poltrona, delicadamente deixando uma de suas mãos na perna do rapaz. Ele deixou seus olhos se demorarem no rosto de Paul enquanto dava o primeiro gole do chá.
Paul bebeu um gole de seu café e viu que John havia tido o cuidado de colocar a quantidade exata de creme que ele gostava
"Obrigado, Johnny", Paul disse devolvendo o olhar de John, "Está perfeito".
John não sabia se Paul se referia somente ao café. Tampouco sabia Paul.
A aura do trem era de fugir para um lugar seguro com alguém que você ama, um abraço apertado e reconfortante, se apaixonar pelo seu melhor amigo ou talvez estar tão feliz que seu rosto dói de tanto sorrir.
Eles ficaram juntos bebericando suas xícaras quentes, as mãos revezavam entre abrir os pequenos pacotes de açúcar e os carinhos delicados.
Pelo restante da viagem, até que Paris se tornasse parte da paisagem, as mãos dos dois ficaram entrelaçadas sobre o banco, enquanto eles compartilhavam conversas sussurradas sobre como passariam o restante do primeiro dia.
Paul pensava que talvez não fosse ser a pior coisa do mundo ter que dividir novamente a cama com John. Na verdade, até pensava que era um cenário positivo.
Não se preocupou com o caso de John roubar suas cobertas também.
Ele sabia que John o manteria aquecido a noite toda se fosse necessário.
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Bilhete de Entrada
Fiksi PenggemarJohn e Paul dividem uma viagem de trem para Paris. Mclennon.