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Parecia que algo havia morrido dentro de Eduarda. Cada manhã quando abria os olhos, era uma nova lembrança de que a pessoa que mais amava nunca mais estaria com ela, então seus olhos se inundavam com as lágrimas que ela já não conseguia mais lutar contra. A garota que era o sol daquela família já não existia mais...
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A morte de sua mãe também não havia sido fácil para seu pai. Viver na mesma casa em que haviam sido tão felizes, hoje era insuportável. Assim ele decidiu que se mudaria de Goiânia, "não consigo mais, minha filha" ele disse com lágrimas nos olhos.
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Eduarda no fundo queria entender a dor de seu pai, mas a raiva por ele querer deixar para trás todas as lembranças de sua mãe era maior. A adolescência trazia uma rebeldia e sentimentos impulsivos que ela não conseguia controlar. Então Fernando se mudou para São Paulo, mais especificamente Maresias, agarrado a esperança de que a proximidade com o mar ajudasse a fechar todas aquelas feridas.
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O resultado disso? Um distanciamento entre pai e filha, já que Eduarda relutou em se desapegar da tristeza e permaneceu na sua cidade natal, morando com sua tia Marcela e seu namorado Eraldo que a acolheram como uma filha e assim ela se sentia.
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Quase três anos se passaram, Eduarda estava há um mês de completar 17 anos. Ela havia se tornado uma menina linda, mas completamente complicada...
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Depois de mais uma aula estressante na escola, local que comumente era chamado de "inferno" por ela, entrou em casa e sentiu cheiro da sua comida preferida no ar.
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Eduarda: hmmm - jogou a mochila no chão e correu pra mesa de almoço - carne, com batata frita e bacon? Fala sério... hoje é meu aniversário e eu não lembrei?
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Eraldo: Não... só queremos te agradar - o sorriso sumiu do rosto de Eduarda, e deu lugar a uma feição desconfiada. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Eduarda: então boa coisa não é - sentou-se à mesa com a cara fechada - o que houve?⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Marcela: nós temos uma novidade - Eduarda se manteve em silêncio. Marcela trocou um olhar com Eraldo, estava nitidamente hesitante em falar mas o mesmo assentiu positivamente, motivando-a dizer a tal novidade - eu estou grávida, você vai ter um irmãozinho
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Eduarda: O QUE? - bateu as mãos na mesa e se levantou no impulso. Ambos esperavam aquela reação, estavam preparados para aquilo - como vocês tiveram coragem de fazer isso comigo?
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Eraldo: calma Dudu, nada vai mudar - deu um passo na direção dela que se afastou.
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Marcela: tenho certeza que você vai acabar amando o bebê
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Eduarda: eu já odeio essa criança! - gritou. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Marcela: não fala isso! Você já se tornou uma moça, já chega dessa atitude de adolescente revoltada. Cansei!
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Eduarda: Tá vendo? Vocês já nem gostam mais de mim, olha como você está falando comigo. Quer saber? Eu vou embora! - Eduarda correu em prantos para seu quarto, pegou a primeira mala que viu e começou a jogar suas roupas lá.
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Marcela: vai embora pra onde? Aqui é sua casa ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Eduarda: vou morar com meu pai, ele sim é minha família - as lágrimas caiam sem parar em sua face enquanto colocava o porta retrato com a foto se sua mãe na mala.
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Marcela: Dudu, eu sabia que não seria fácil pra você, mas isso é demais... não vai - a puxou pelo braço e abraçou - amo você e não tem nada que vai mudar isso, nem mesmo se eu tiver mil filhos
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Eduarda: não consigo conviver com isso agora, eu vou passar um tempo em maresias pelo menos
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Marcela: você vai fazer o mesmo que fez com seu pai, prometer que vai voltar, aparecer, manter contato e nunca cumprir? - Eduarda se livrou dos braços da tia. No fundo sabia que estava errada e que a tia tinha o direito de ter uma vida mas não conseguia agir diferente, fingir que estava bem com aquilo.
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Eduarda: liga pro meu pai e avisa que eu vou, por favor - foi só o que conseguiu responder.

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SUN
FanfictionNo dia 07/03/2014 Eduarda viu seu mundo desabar. Estava concentrada na aula de história quando a diretora pessoalmente a chamou em sua classe. Um calafrio cortou seu corpo, então engoliu em seco antes de se levantar e andar pelo corredor de carteira...