"O inesperado é um moleque travesso a serviço do destino, e apesar do charme inerente, também tem seu próprio roteiro e propósito, que geralmente são indefinidos... Ai de nós que um dia somos pegos por ele; quando este dia chegar, só nos resta esperar que esteja de bom humor "
O sábado enfim havia chegado e minha ansiedade por encontrar Alvarenga era tão grande que havia me arrumado uma hora antes do nosso encontro; coisa rara para uma mulher.
Naquela noite coloquei vestido preto, botas da mesma cor e uma jaqueta jeans azul bem forrada por dentro, já que fazia apenas oito graus em Lisboa. Meus óculos ficaram no criado mudo ao lado da minha cama. Gosto da cor castanho dos meus olhos, mas havia decidido que enfim começaria a usar as lentes que havia comprado há meses, e não faria mal algum que elas deixassem minhas írisis um pouco mais puxadas para o mel, pelo menos por essa noite.
Antes de sair dei uma olhada em frente ao espelho para fazer um check-list, e, aparentemente estava tudo ok, mas sabem como é mulher...
Vi que meu cabelo não estava tão legal como gostaria que tivesse ficado quando os prendi em um coque, então resolvi soltá-los novamente. Alvarenga já havia elogiado varias vezes sua cor castanha e seu comprimento que ia até meus quadris, então achei por bem lhe fazer esse agrado, afinal, a noite era dele.Quando enfim peguei o táxi, percebi que faltava menos de dez minutos para chegar ao lugar que havíamos marcado o encontro. Só mesmo eu para me arrumar uma hora antes e ainda correr o risco de me atrasar.
Quando desci do taxi uma lufada de ar gelado soprou nas minhas orelhas, então me arrependi de não ter trazido o gorro; afinal, acho que valeria a pena bagunçar um pouquinho meus cachos para não queimá-las com o intenso frio.
Caminhei pela calçada de pedras brancas até chegar em uma rua bem estreita. Em ambos os lados haviam postes de ferro que sustentavam lâmpadas fluorescentes envolvidas por um invólucro fosco, que deixavam a iluminação um tanto quanto cálida.
Na metade da rua pude ver a placa do pequeno restaurante francês. Não era tão conhecido, mas Alvarenga dissera que a comida era ótima. Na verdade não importava, pois no final das contas eu sabia que o motivo dele ter escolhido o lugar era por que ficava bem escondido.
Não seria nada bom para um professor ser visto com uma aluna fora do Campus, quanto mais para um marido.Assim que entrei no lugar, o vi sentado em uma das últimas mesas. De novo, o lugar também era estratégico, já que dali daria pra ver qualquer um que entrasse sem ser visto imediatamente.
Não podia dizer que gostava daquela situação. Estava me envolvendo com o marido de alguém, com o meu professor, não havia desculpas para a minha atitude, mas a verdade é que há caminhos que o próprio coração escolhe, relegando qualquer intervenção da razão.
- Me atrasei? - Perguntei ao me sentar.
- Trinta segundos, isso é imperdoável! - Assim que ele sorriu me lembrei por qual motivo corria aquele risco.
- Está muito elegante, Mr. Alvarenga...
- Hoje é só Carlos. - Ele colocou a mão sobre a minha. - E você está estonteante!
- Obrigado... Carlos. - Para min ainda era um pouco estranho chamá-lo pelo primeiro nome em público, mesmo depois de cinco encontros.
- O que vai pedir? - Ele perguntou mostrando o cardápio.
- No momento só um vinho, depois penso no que comer.
- Gostei disso, vou acompanhá-la. - Ele ergueu a mão e um rapaz com calça branca, camisa preta, gravata borboleta e suspensório também preto veio nos atender. - Vinho do Porto por favor. - Disse Alvarenga.
- Só temos vinhos franceses mercier, os melhores do mundo! - Disse o rapaz com um cordial sorriso.
- Ah... - Alvarenga fez uma expressão decepcionada. - Longe de serem os melhores, mas já que não tem jeito, me traga uma garrafa.
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Silver Café
RomanceRose, uma jovem brasileira estudante de medicina, tem sua vida mudada quando encontra um misterioso homem de meia-idade num Café em Lisboa.