Fake caramel

656 76 115
                                    


Às vezes, se acorda dentro de um pesadelo.

Midoriya acordou agitado, com a sensação de suor percorrendo todo seu corpo. Fios esverdeados, grudados na sua testa sem pudor, direcionavam as gotas acumuladas para diversas direções. Seu pijama havia colado em seu corpo em decorrência à umidade.

Ainda confuso, Izuku gemeu e se forçou a sair da cama, continha resquícios de lágrimas no canto dos olhos. Precisava se mover, precisava esquecer.

Em teoria, os estímulos sensoriais do ambiente começam a interferir com as partes do sonho que ainda estão na sua mente e isso faz com que você esqueça mais rapidamente.

Mas o esverdeado não estava esquecendo. Não estava relaxando.

Midoriya grunhiu sentindo os olhos umedecerem novamente. Não gostava disso. A sensação de líquido escorrendo pelo seu rosto lembrava a chuva de seu pesadelo.

A chuva após uma batalha violenta.

Há quem diga que um deus estava lavando as feridas da terra, levando os males e purificando. Mas Izuku só enxergava sangue sendo diluído, o cheiro metálico sendo escoado aos poucos, junto com a vida de seu amado.

Ele sabia reconhecer o cheiro de caramelo, que durante tanto tempo se afogara, mesmo misturado com o cheiro de forte ferro.

Izuku caiu de joelhos ao lado do seu melhor amigo e debruçou-se sobre ele. Palavras saiam embargadas com o choro descontrolado, enquanto o esverdeado tentava devolver o sofro da vida para o de cabelos loiros.

Os fios claros estavam manchados de sangue. Vermelho amaldiçoado, pensou, tentando limpar a cor da imagem que tinha de Katsuki.

Os olhos dele eram vermelhos...

Os olhos dele são vermelhos! Corrigiu-se, irritado consigo mesmo pelo erro. Chorou mais uma vez.

Inconsciente, agarrou seu travesseiro, que estava secando aos poucos, e marchou em direção ao quarto andar. Silencioso como um gato na calada da noite. Ou um intruso.

O único som que ecoara por seus ouvidos durante o caminho até o quarto do maior foi o bipe do elevador abrindo as portas duas vezes.

Hesitou antes de bater, mas a hesitação foi rapidamente substituída por necessidade. Ele precisava se afogar naquele cheiro doce que o atormentara e o salvara tantas vezes. Precisava sustentar a memória e afogar a ilusão.

Ou o contrário.

Bakugo abriu a porta irritado e confuso. Izuku olhou profundamente nos olhos do loiro. Eram vermelhos sim, mas um vermelho cheio de vida, não aquele que gradativamente se apagava até se tornar marrom.

Se transforma.

— Deku, o que você...? — Parou ao ver as lágrimas que começavam a escorrer pelo rosto do menor. — Pesadelo?

Midoriya confirmou sem grandes movimentos, sendo puxado para um abraço. Ali, arrodeado pelos braços musculosos fortes e envolto pelo seu cheiro favorito, Izuku se sentiu protegido.

Retornou o abraço enquanto soluçava:

— Você está aqui. — Inspirou mais do aroma de caramelo, conferindo a realidade.

— Idiota, é claro que eu estou. — resmungou, acariciando os fios esverdeados.

Midoriya apertou mais seu abraço.

— Não me deixe nunca. — "Eu não consigo imaginar um mundo sem você" completou mentalmente. — Kacchan.

O apelido soou nostálgico. Aquela nostalgia triste de uma alegria singela.

Truth • bkdkOnde histórias criam vida. Descubra agora