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Só que isso não é um filme, portanto, a única coisa que Tolbert inspirou nos
alunos foi ódio. E de fato ela parece não entender por que ninguém se sai bem na sua aula. Quer uma dica? É porque ela faz o tipo de pergunta que poderia gerar uma tese de pós-graduação.
“Estou disposta a oferecer uma segunda chamada para todo mundo que não
passou ou que tirou cinco ou menos.”Tolbert torce o nariz como se fosse incapaz de compreender a necessidade disso.

A palavra que acabou de usar… disposta? Pois é. Ouvi dizer que muitos alunos reclamaram com os orientadores a respeito dela, e desconfio que o departamento a
tenha obrigado a preparar outra prova.

Não pega bem para a Briar ter mais de
metade dos alunos de uma turma reprovados na matéria, principalmente porque não são só os preguiçosos. Gente que só tira dez, como Nell, supercabisbaixa aqui do meu lado, também se deu mal na prova.

- Para quem quiser fazer a segunda chamada, a nota final vai ser uma média das duas. Quem se sair pior na segunda, fica só com a primeira nota.
,conclui Tolbert.

- Não acredito que você tirou dez.
,sussurra Nell para mim.

Parece tão chateada que sinto uma pontada de pena. Nell e eu não somos
melhores amigas nem nada parecido, mas sentamos uma do lado da outra desde setembro, então era de esperar que acabássemos nos conhecendo. Ela está fazendo o preparatório para medicina, e sei que vem de uma família de sucesso que a humilharia em praça pública se descobrisse a nota que tirou.

- Nem eu. - sussurro de volta. “Fala sério. Olha só as minhas respostas. Um
monte de asneira sem sentido.”

- Pensando bem, posso mesmo dar uma olhada? - Parece interessada agora.

- Estou curiosa para saber o que a Tirana considera digno de um dez.

- Vou escanear e passar por e-mail hoje à noite. - prometo.

No instante em que Tolbert nos dispensa, o auditório ressoa com ruídos de

- Me tira daqui. - Laptops se fecham, cadernos voltam para dentro de mochilas, os alunos se levantam das cadeiras. Justin Kohl se demora perto da porta para falar com alguém, e meu olhar se fecha sobre ele como um míssil teleguiado. Lindo. Já falei como é bonito? As palmas das minhas mãos ficam suadas só de admirar seu perfil. Ele acabou de chegar à Briar, mas não sei de que faculdade foi transferido, e, embora não tenha demorado a se tornar a estrela do time de futebol americano, não é como os
outros atletas da universidade.

Não desfila pelos jardins da faculdade com um sorrisinho de quem se acha um milagre da natureza, carregando nos braços uma menina diferente a cada dia. Já o vi rindo e fazendo piada com os amigos do time, mas ele transmite uma aura intensa e inteligente que me faz achar que, no fundo, esconde algo mais. O que me deixa ainda mais desesperada para conhecê-lo. Atletas não são muito o meu tipo, mas alguma coisa nele me faz agir como
idiota.
- Você está dando bandeira de novo. - A provocação de Nell me faz corar. Ela já me flagrou babando por Justin
algumas vezes e é uma das poucas pessoas para quem admiti minha queda por ele. Allie, que mora comigo, também sabe, mas meus outros amigos? Nem pensar.

A maior parte deles está fazendo especialização em música ou teatro, então acho que isso faz de nós o grupinho de artistas. Ou talvez de emos. Tirando Allie, que tem um relacionamento desses que vai e volta com um membro de uma fraternidade desde o primeiro ano, meus amigos gostam de se divertir às custas da
elite de Briar. Em geral, não participo (prefiro pensar que estou acima do hábito de fazer fofoca dos outros), mas… convenhamos, a maioria dos alunos populares são uns babacas completos.

Garrett Graham, por exemplo, o outro atleta estrela da turma. Anda por aí como se fosse o dono do pedaço. E acho que é um pouco. Basta ele estalar os dedos e uma menina desesperada aparece aos seus pés. Ou pula no seu colo. Ou enfia a língua na sua goela.

Hoje, no entanto, não está com cara de todo-poderoso. Quase todo mundo já foi embora, incluindo Tolbert, mas Garrett não levantou do lugar e está com os
punhos cerrados em volta da prova.
Também deve ter reprovado, mas não tenho muita pena do cara. A Briar é
conhecida por duas coisas: hóquei e futebol americano, o que não surpreende, já que Massachusetts é o lar tanto dos Patriots quanto dos Bruins. Os atletas da Briar quase sempre viram profissionais e, enquanto estão aqui, recebem tudo de mão beijada — até as notas.
Tudo bem, pode ser que isso faça de mim uma pessoa um tantinho vingativa, mas dá uma sensação de triunfo saber que Tolbert vai reprovar o capitão do nosso vitorioso time de hóquei junto com todo mundo.

- Topa tomar um café? - pergunta Nell, recolhendo os livros.

O Acordo ( minha leitura) Where stories live. Discover now