Capítulo 18 - Esclarecendo dúvidas

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É um desafio se arrumar para sair quando não se tem muitos recursos, ainda mais quando quer impressionar alguém que ama e não vê há anos. Coloco a roupa simples que tenho, calça jeans e uma blusa qualquer, e os cabelos, somente penteio. Na verdade, eu estou com pressa para ver André, pego o ônibus que vai até o centro da cidade, onde é realizado a feira, torcendo para que ele não tenha desistido do encontro. 

Atravesso quase a feira toda desviando das pessoas até encontrá-lo sentado num meio fio de cabeça baixa olhando o celular, pelo jeito nunca deixou de gostar desses moletons velhos. Ele escuta minha aproximação e olha para cima.

— Oi... — Cumprimento com um sorriso, ele retribui e sorri de volta, então me sento ao seu lado cruzando minhas pernas como índia, percebo um olhar intenso sobre mim, é o que basta para acelerar meu coração.

— Você está diferente... Não sei explicar, mas está diferente.

— Mesmo? Espero que seja para melhor.

— Sim, muito melhor...

Ele sorri lindamente para mim, e pela primeira vez, sinto-me um pouco tímida. Mexo minhas mãos em meus joelhos, reparo que ele percebe a aliança.

— Ah, você está usando a...

— Sim, você se lembra dela? — Estico a mão para mostrá-la, ele a pega e ainda faz um leve carinho com seu dedão.

— Como poderia me esquecer? 

Nossa, que vontade de pular em seu colo e beijá-lo, mas de repente ele solta minha mão, fecha seu semblante e desvia seu olhar, fazendo-me também fechar o meu.

— Estive tão preocupado com você, Joyce. Depois daquele nosso desfecho, fui jogado atrás das grades por intermináveis 5 anos, e mesmo assim, tudo o que mais queria era saber como você estava.

— Eu que tive mais motivos para me preocupar com você, e aquele tiro? Eu fiquei com tanto medo de que você tivesse morrido! 

— Foi só um tiro na coxa, não foi nada demais! E você? Onde esteve esse tempo todo?

— Só conto se você me contar primeiro onde você esteve esse tempo todo.

— Está bem, conto durante nosso passeio, venha.

O André se levanta e estende a mão para me levantar, e assim que iniciamos nossa caminhada, que é lenta e tranquila, eu coloco minha mão entre o braço dele, um modo que encontrei para demonstrar meu afeto.

— Como eu já te disse, fiquei preso por durante 5 anos, pensei que as prisões da Europa não fossem tão lotadas e sujas... 

— Pois é, onde eu estava também era assim.

— Como se isso já não bastasse, ainda os caras gostavam de me maltratar, tomando minha comida, agredindo-me. Eles diziam que eu era o "riquinho," e me detestavam.

Solto um longo suspiro triste só de lembrar que eu vivi algo parecido.

— Quando saí da prisão, não tinha para onde ir então fiquei nas ruas vagando por aí sobrevivendo de restos ou doações, mesmo assim não queria ir embora, pois queria te encontrar.

Essa última parte toca tanto meu coração que paro de andar de repente, ele faz o mesmo, e viro de frente, meu olhar já está transbordando em lágrimas.

— Eu passei por a mesma coisa que você! Eu sinto muito, André! — Agarro seu tórax em um abraço apertado, ele me retribuí bem forte como se necessitasse desse abraço há muito tempo, e toca sua cabeça com a minha. Ficamos assim, ali no meio da calçada mesmo, por alguns minutos e eu aproveito para desabar minhas lágrimas. 

A gatunaOnde histórias criam vida. Descubra agora