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Mal entrei no bar e tive a sensação de ter estado ali antes, certo, sei que já estive. mas o que eu quero dizer é que de certa forma, lembrei do lugar e de alguma coisa referente, era como uma memória antiga, não sei se totalmente minha, as vezes preciso roubar lembranças e isso não é bom.

Nos sentamos e aguardamos alguém aparecer, não demorou pra um gatinho aparecer dizendo que estava feliz de nos ver ali e mais ainda porque eu voltei, bom, ele deveria ser o cara que cantava mal, Cai veio me contando. Até os músicos chegarem, ficamos quietos no cantinho, e logo que começaram a passar o som, me levantei e fui perguntar o que eles queriam tocar naquela noite, a resposta foi a mais maluca que já recebi, eu podia decidir, eles estavam ali apenas para tocar.

Então escolhi cinco músicas regionais, todas bem conhecidas pela população de ponta a ponta do estado. Como já é de costume, a primeira seria Olho de Boto, Beto adora. 

(as demais vou colocar link no fim do capitulo)

Depois cantaria Coração Sonhador, essa é sempre a que o Tatá me pede. A La Brasileira, é como uma versão musical de Cai, não na totalidade da letra, mas representa bastante a beleza da mulher brasileira, também me sinto representada nessa canção. Outra música que aprendi a gostar muito e que me deixa mais apaixonada por Belém é Da Minha Terra, temos tantas coisas maravilhosas aqui que essa canção diz muito sobre nós. Como já tinha carimbó na lista e já passei uma temporada em Bragança conheci a marujada, outro ritmo regional de muita significância, decidi cantar uma canção para São Benedito o santo preto, uma das muitas que no mês de junho arrasta multidões com o Arraial do Pavulagem, não quem resista a batida, ao ritmo e principalmente a nossa culinária, É como diz um dos nossos carimbós mais conhecidos: "Quem vai ao Pará, parou. Tomou açaí, ficou".

Quando desci do pequeno palco improvisado, fui abordada por outro cara bem gatinho por sinal, esse tem dreadlock, a pele levemente amarelada por falta de sol, o que só pode significar duas coisas para um paraense, ou ele estuda ou trabalha o dia inteiro.

- Nossa garota, quando o Mau me falou de você achei que ele tava de sacanagem, mas é verdade, além de linda canta mesmo como uma sereia. Vai parecer estranho, mas é a mais pura verdade. Meu nome é Mauricio, igual ao do outro dono do bar. - Ele começa a rir.

- Esquisito mesmo. Mas, falando nele, cadê o Maurício? - Será que era o outro cara de mais cedo?

- Ah! Ele subiu um instante a gente meio que dividiu o andar de cima como se fosse nossa casa. De início estava bom, mas... Olha, lá vem ele, vou voltar pro meu balcão, queria mesmo te parabenizar e dizer que a casa está de portas abertas pra voltar sempre. Tu canta muito garota. - Percebi que ele ia falar mais alguma coisa, mas desistiu e se afastou antes do cara que falou comigo mais cedo, chegar perto.

Esse já foi mais cara de pau e ao me parabenizar pelo mini show, me abraçou e rodou comigo suspensa no ar. Senhor, qual a desses caras mais altos? Não sou criança e isso desperta uma labirintite que não tenho, ou acho não ter, porque realmente fiquei tonta e sem querer toquei o rosto lindo dele e foi a primeira lembrança que roubei sem querer. Ele pensava na noite que cantei aqui na semana passada, e eu estava tão linda nas lembranças dele que nem acredito o quanto estava radiante, mesmo cantando uma música tão triste e melancólica.

- Tu tava tão linda hoje cantando, fiquei muito feliz quando ouvi a marujada, me senti em casa, tu também é de bragança sereia? - Sorri tão contente por ver os olhos dele acompanhar o sorriso. - Meu primo e meu irmão querem falar contigo depois, eles vão só comer, mas já adianto que é porque gostaram de cantar contigo.

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