Charlotte e Kelly

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POV. Charles Leclerc

— Ok, mas ainda acho que vai dar errado no final... por mais que eu não queira isso.

— Obrigado pela positividade! — Digo em ironia.

— Charles, quando foi a última vez que um dos seus planos deu certo?

   Paro para pensar um pouco... provavelmente foi no jardim de infância, mas não vou me submeter a isso, então fico quieto.

— Tá vendo!? Eu não estou sendo pessimista Charles, estou sendo realista! Mas espero realmente que um dia vocês tenham paz. — Ela diz fixando o olhar na rua portuguesa.

— O plano, na verdade, é mais do Max do que meu — solto em uma última tentativa.

— Bom, eu não sei do histórico de planos do Max, mas se for igual ao do chefe dele vocês estão ferrados.

   Ok Charlotte, você NÃO está ajudando! Ela sabe que não está ajudando. Queria que ela fosse menos REALISTA às vezes.

   Quem é Charlotte? Para a mídia e mundo: minha namorada. Porém na realidade ela é minha amiga de longa data, e bom, ela saiu meio que saiu ganhando com essa falsa história de me namorar.

   E adivinha... Charlotte é lésbica, ironia não? E adivinha de novo... isso mesmo, ela namora a Kelly Piquet.

   Resumindo: eu e Max estamos em um rolo, e nossas namoradas ficcionais na verdade namoram entre si.

   Então estamos tecnicamente indo num encontro de casais que não é um encontro de casais porque eu e Max não somos um casal. O quão confuso é isso?


POV. Max Verstappen

   Eu e Kelly já estamos no local marcado, felizmente não há muita gente aqui. Tem uns músicos tocando, estamos sentados em banquetas altas de uma mesa de quatro lugares; 5 minutos adiantados. 

   Kelly se olha em um pequeno espelho que carrega em sua bolsa e retoca seu batom. Uma de minhas pernas está mexendo freneticamente, coloco a mão na coxa e me forço a parar.

   Certamente não foi das melhores ideias, me encontrar com Leclerc em público. Eu e meu impulso. Agora é tarde para voltar atrás.

— O que está sentindo? — Kelly pergunta enquanto guarda seu batom.

— Um negócio estranho na barriga, sinto que vou vomitar mesmo não comendo a horas.

   Ela ri em um tom baixo.

— Isso é amor boboca! — Ela bate com o cotovelo no meu braço e continua rindo.

— Eu odeio isso, tudo culpa dele, quando eu...

— Ver ele? Só olhar para a porta — ela aponta com a cabeça e sorri, certamente por ver Charlotte.

   Olho para a porta e vejo ele, seus olhos encontram os meus e ele sorri, mas sem mostrar os dentes. Seu cabelo está arrumado, certamente Charlotte o ajudou com isso, é estranho vê-lo com o cabelo assim. Involuntariamente sorrio de volta, sem mostrar os dentes também, então eles se aproximam, de mãos dadas e não consigo evitar sentir um pouco de ciúmes por não poder fazer isso, mesmo entendendo que é parte de teatro.

— Boa noite — eles dizem juntos ao chegarem na mesa e se sentarem.

— Não gosto do fato de meus lábios não poderem encontrar os meus enquanto estamos aqui — reclama a garota que o acompanha.

— Ninguém gosta — complementa Piquet que olha para mim, consigo vê-la de realce.

— Já pediram algo? — Charles muda de assunto enquanto passa a mão nos joelhos por baixo da mesa, me dou conta que minha perna está mexendo freneticamente de novo, piso forte no apoio para pés fazendo-a parar.

— Ainda não, nem olhamos o cardápio — chamo o garçom com um gesto.


ଯʾʾ🏎️˳·꜆


— Não vou beber mais do que isso! — Ele afirma desviando o olhar.

— Por quê?

— Porquê amanhã temos corrida, e você sabe disso, então não tente me convencer a te ajudar a terminar essa garrafa.

— Você que está perdendo — dou de ombros e preencho o copo.

   Isso é o suficiente para que ele pegue a garrafa da mesa e encha seu copo, não totalmente. Vai bebendo aos poucos.


ଯʾʾ🏎️˳·꜆


— Charles pelo amor de nossa senhora das corridas, cala a boca — sussurro no corredor, o sensor da porta não está reconhecendo o cartão.

— Por que não cala você?— reviro os olhos e a porta abre, pego ele pelo braço o puxando para dentro do quarto e o jogando da cama.

   Como é possível que ele tenha ficado bêbado com 3, repito, TRÊS MÍSEROS COPOS DE CERVEJA???

   Olho para ele deitado na cama, agora tenho que cuidar de um leve bêbado, o que eu tinha na cabeça quando pensei em me meter nisso???

   "Isso é amor boboca!" – As palavras de Kelly, elas estão rodando por minha cabeça, será que eu realmente estou... não, não estou.

   Vou até a cama e pego Leclerc pela mão, fazendo-o levantar e ir até o banheiro.

— O que vamos fazer? — ele pergunta com cara de sonso.

— Tomar banho, amanhã tem corrida, precisamos descansar — sussurro.

— Por que está sussurrando? — Ele se vira pra mim me olhando e diz em sussurro também.

— Porque já passam das onze da noite.


ଯʾʾ🏎️˳·꜆


   Quando saio do banheiro Charles já está jogado na cama novamente. Fecho a porta, apago as luzes do quarto deixando apenas o abajur do lado da cama aceso; ligo o ar condicionado. 

   Deito na cama ao seu lado e o escuto roncar, mas não é um ronco alto, ele não dorme de boca aberta, é como um ronron de gato. Apago o abajur.

   Me viro para o lado e tento dormir em vão, as palavras de Kelly ficam rondando a minha cabeça, sinceramente, por que estou me importando com isso?

   Eu não estou apaixonado por Charles Leclerc. É até um crime mencionar apaixonado e Charles Leclerc na mesma frase. Nos odiamos desde o kart.

   Mas se eu não estou apaixonado por que fico me importando de provar isso pra mim mesmo? Por que gostaria de ter o corpo dele junto ao meu durante as férias? Por que cada dia que passa aquela boca fica mais beijável? Por que eu senti arrepios com aquele EU TE AMO?

   Eu me recuso a aceitar isso. Eu não estou apaixonado por ele.

   Ouviu cérebro? Pode me deixar dormir agora!


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   O resultado da corrida de Portugal para Max Verstappen foi um segundo lugar, quase 30 segundos atrás do primeiro colocado, Lewis Hamilton.

   E Charles Leclerc ficou com a sexta colocação.

Inimizade Colorida | Max Verstappen & Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora