Capítulo 2

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Minha vida está longe de ser perfeita, eu tenho poucos amigos e sou seletiva demais para ter muitos, eu apenas conheço muita gente, raramente gosto de algo o que torna me agradar quase impossível, mas não sou tão insensível a ponto de agir de acordo, eu apenas falo o que quer que eles queiram ouvir para que se sintam satisfeitos, eu levo as coisas até onde consigo, "finja até que se torne real" foi o que me disseram a muito tempo, parece que agora eu me tornei perita no que quer que essa frase signifique.

Quando finalmente chegamos eu saí o mais rápido o possível para que meu avô pudesse estacionar o carro, dei alguns passos curtos e parei em frente a casa de madeira que me parecia tão familiar, eu a observo por alguns segundos hesitando me aproximar mais como se tudo fosse desabar novamente, a casa se mantinha preservada depois de longos anos, no entanto algumas alterações eram visíveis já no exterior, mas nada que evitasse o encontro brusco com o passado ainda presente por ironia do destino, até sua cor bege se manteve a mesma, claro que com a ajuda de boas camadas de tinta.

Mesmo sem se esforçar eu poderia ver a criancinha com franjas que quase cobriam seus olhos e dona de cabelos castanhos como chocolates, ela corria sorridente por toda a extensão do enorme quintal, seu pai a seguia animadamente e sua mãe os observava da varanda com um largo sorriso e um semblante despreocupado, o máximo que poderia acontecer seria sua filha cair sujando todo seu vestido de terra e foi exatamente o que aconteceu, a garotinha se deparou com o gramado coberto de barro pelas chuvas recentes.

Seus pais se apressaram aflitos diante daquele situação, mas diferente do que pensavam ela não estava em pratos, para a surpresa de todos a garota gargalhava e logo se levantou pulando em felicidade, correu até os mesmos se jogando nos braços enormes de seu pai, comparado ao seu tamanho caberia três dela ali.

E quando ela os mostrou o que havia acontecido sorriram juntos com a sua empolgação, ao mesmo tempo que estavam aliviados que a menina não se machucou gravemente se divertiram com a sua reação, em sua pequena mão estava seu dente ainda com sangue, mas ela não ligava nem um pouco pelo ocorrido, a garotinha agora não parava de falar o quanto estava ansiosa para receber uma visita de sua fadinha do dente, aquele definitivamente era um bom momento, mas agora não passava de uma memória, afinal ela não recebeu nada em troca do dente naquela noite, para sua decepção não havia nada embaixo do seu travesseiro na manhã seguinte quando se levantou e ela sabia que era responsável, porque não cuidou de seus pertences e perdeu seu precioso bem de troca, então como haveria de receber por algo inexistente.

Minhas memórias estavam de volta e voltaram com ainda mais força quando um toque quente e conhecido encostou em meus ombros fazendo minha mente retornar a realidade, finalmente me dou conta de que eu estava outra vez na terra de meus pesadelos contínuos, depois de todo o esforço para não encontrar o passado, eu vim diretamente ao seu encontro, totalmente despreparada para a eclosão que poderia acontecer.

- Emília - me chamou fazendo que eu tomasse uma respiração fundo para ganhar coragem e me virar, quando eu o fiz ela me avaliou dos pés á cabeça, esse parece ser um costume de família, é claro que importa como devo estar, afinal eu sou sua neta e devo me igualar ao seu nível de perfeição, não é tão difícil de entender porque meu pai se rebelou na adolescência - Você está tão... diferente - ela deve estar se esforçando muito para não falar nada do meu atual estado.

- Eu espero que isso seja um elogio - penso em voz alta e me recomponho a olhando direto nos olhos.

- É claro que é um elogio, está tão parecida com sua mãe - isso definitivamente não é um elogio, bonita seria pouco ao que se compara a minha mãe, mas vindo da minha avó soa quase como uma ofensa, já que ambas se gostam tanto que eu poderia nomear como uma suposta aversão, aposto que enviariam uma a outra para o polo norte se pudessem - Vamos entrar... Para que possa, bem... Se instalar.

Quando O Sorriso Deixou Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora