Capítulo 4

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Não sei quando comecei a divagar a ponto de se perder em meus próprios pensamentos, todos tem um momento em que esquecem de tudo lá fora e dão boas vindas ao seu universo interior, onde só pensem em si mesmos e em seus próprios umbigos, egocêntrica é só mais um dos adjetivos direcionados para mim, mas nunca esteve tão longe da verdade, admitir é sempre a parte mais difícil e eu... Eu nunca fui boa em me expressar.

Estávamos cada vez mais próximas da tenda, até que noto alguém chegar e se por atrás dos balcões, ótimo, ele não tem algo mais útil pra fazer? É da família dele, claro que estaria aqui ajudando, um sinal de que pelo menos permanece prestativo, mal noto quando chega nossa vez e acabo por não falar nada quando nos aproximamos, não sabia o que deveria dizer sem parecer idiota e ouvir perguntas para as quais eu não teria resposta, para minha sorte Cloe diz por mim.

- Boa tarde Senhora Olivia - Ela diz de maneira formal para sua mãe que a atende sorrindo.

- Boa tarde, o que deseja hoje senhorita? - Olívia, perguntou em tom brincalhão para Chloe que respondeu ainda formal continuando a brincadeira.

- Bem, eu e minha amiga Emma queremos dois bolos de cenoura recheado com brigadeiro - sua mãe sorri para a filha e só depois nota minha presença, sua primeira reação piscar os olhos várias vezes e depois ela sorri penosamente para mim, todos devem saber o que aconteceu agora, evitamos que acontecesse indo embora, mas se tornou um esforço perdido já que estou aqui.

- Acho que ela prefere uma torta de limão, tão amarga quanto ela - Zack resmunga do outro lado enquanto atendia outras pessoas e leva uma cotovelada de sua mãe que em seguida vem me abraçar de maneira acolhedora e com um sorriso amoroso diferente do anterior.

- Fico tão feliz em te ver novamente Emília - Não preciso olhar para o lado porque sei que deve estar sorrindo, Olívia percebe o que disse por questão de costume e se corrige rapidamente - Quero dizer Emma... Você está tão linda - eu pude escutar sua risada mesmo não estando tão perto dele e agora é minha vez de encarar seu rosto com a sobrancelha arqueada em questionamento, mas o mesmo nem  parece notar quando meus olhos o fuzilam, continua a fazer suas tarefas como se não se incomodasse em nada.

- Não sabia que estava na cidade Constança - É a vez de seu pai, senhor Adam falar - Seus pais também vieram? - Assim como o filho, Adam leva uma cotovelada de sua esposa, Olívia, no mesmo segundo em que diz.

Mesmo evitando tinha convicção que chegaríamos a isso em algum momento, ter que se manifestar sobre coisas relacionadas a eles se tornou algo repetitivo e cansativo, falar de alguém que nem mesmo se deu o trabalho de estar presente me faz pensar que estou desperdiçando meu tempo, mas eu era obrigada a aguentar, até quando não queria, depois eu podia sentir seus olhares penosos, "pobre menina", "deve ser por isso que se tornou assim", "ela age dessa forma porque quer atenção" "vai acabar se tornando igual a eles" era o que sempre diziam achando que se murmurassem eu não seria capaz de os ouvir, e eu ainda não aprendi como responder qualquer tipo de comentários como esses, pode parecer nada tão grave e talvez não seja para os outros, se apenas se importam ou estão somente curiosos não faz diferença mais, isso custou minha mente por tanto tempo que se tornou minha sina, eu não me responsabilizo pelas minhas ações quando se trata desse assunto.

Eles perceberam minha mudança de atitude mesmo que eu tenha tentado inutilmente disfarçar meu constrangimento, agora todos os olhos estão em mim e mais uma vez eu queria sumir do mundo, me falo para ignorar e me acalmar para não deixar que eu mostre o que não devo, uma hora ou outra esse assunto iria vir a tona não há como evitar, respiro fundo para não envergonhar a minha família e acabar virando a chave que acabaria com tudo o que pensam sobre mim, eles ainda não conheceram minhas faces, "apenas continue com o teatro" é o que sempre digo para mim mesma, será mais uma das cenas onde tenho que fingir porque se dissesse o que realmente se passa todos me olhariam de uma forma diferente, meus pais prezam muito pela imagem para a ironia do destino.

Quando O Sorriso Deixou Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora