𝑶 𝑬𝒙𝒕𝒆𝒓𝒎𝒊𝒏𝒂𝒅𝒐𝒓

Lembranças

Um mês atrás

Era a primeira semana de Slade no quartel. Ele não conhecia ninguém. Arrumou suas camas na beliche de cima, qual iria dormir. Ninguém sequer pensou em vir falar com ele... Até esse momento.

— Então você é o novato? — Um homem de cabelos negros se aproximou com um sorriso sarcástico.

— Sou. — Slade respondeu, inexpressivo.

— Qual é seu nome mesmo? Wade Wilson? — Riu fraco.

— Slade Wilson.

O homem não ficou muito satisfeito com a expressão dura do novato, por isso se aproximou um pouco.

— Eu sou William Walsh. — Ele falou com ar superior. — Você tem que me respeitar, entendeu?

— Não. Você não é meu superior. — Respondeu Wilson. — Meu superior é a capitã Kane. Não você.

— Garoto, você tá comprando briga com a pessoa errada. — Walsh falou. Slade subiu na sua beliche. — Eu vou destruir você.

— Se eu não destruir você primeiro. — Slade respondeu e se tampou para dormir.

Walsh saiu irritado, quase bufante. Slade estava marcado para ele.

No dia seguinte, Slade levantou na hora em que a trombeta foi tocada. Se arrumou e foi para o refeitório. Quando todos terminaram de lanchar, foram mandados para o campo de treinamento. Slade observou e determinou que a capitã Kane estava mais linda hoje do que nunca.

— Novatos! — Adeline Kane, a capitã, falou com os braços cruzados quando todo o grupo estava a postos. — Hoje vão fazer um teste de resistência.

Slade sorriu. Era uma oportunidade boa para ficar sem camisa na frente da Capitã e tentar capturar o olhar dela.

— O Major Lane vai cuidar dessa parte. — A capitã informou.

Isso foi realmente broxante para Slade. Agora quem iria supervisionar eles era um cara que fedia a mofo.

— Sim, senhora! — Todos assentiram em coro.

— Quero todos indo para o Campo B! — A capitã ordenou e todos obedeceram... Menos Slade. — Wilson! Para o Campo B!

Slade permaneceu parado. A Capitã Kane se aproximou até seus rostos ficarem bem próximos.

— Por que não está obedecendo? — Ela levantou as sobrancelhas.

— Eu preferia a supervisão da senhora. — Ele falou sério. — Não gosto da forma de treinamento do Major Lane.

— Problema seu. — Ela falou. — Vá logo, garoto.

Mesmo desgostando disso, Slade seguiu para o campo de treinamento. Foram dez horas de treino sob a supervisão do Major Lane. Foram dez horas que Slade mostrou novamente que não era um simples recruta. Dez horas que Slade passou sendo atormentado pelo irritantemente bom soldado, William Walsh.

Agora, no presente, tanto ele quanto Walsh estavam encarcerados no mesmo lugar. Presos pelos inimigos. Enganados como gatos quando vêem um feixe de luz. Slade se sentia como esse gato agora. Furioso por não ter percebido antes. Wintergreen estaria decepcionado. Capitã Kane estava junto, presa e encarcerada. A pessoa que Slade descobriu que amava, presa por ele não ter conseguido descobrir o que de fato estava se passando aqui. Tudo, tudo mesmo, parecia perdido agora. Os três certamente morreriam. Não havia nada que pudesse ser feito para mudar esse fatídico destino cruel. Estava escrito. Slade sabia.

— Walsh! — um dos soldados apareceu chamando por William. O soldado parecia um colosso, perto de um Slade abatido e fraco, caído no chão. — Venha. A Rainha quer conhecer você.

Walsh foi levantado obrigatoriamente e levado à maior tenda do acampamento. A partir do momento que ele entrou lá, Slade percebeu uma movimentação estranha. Os soldados pareciam se aglomerar ao redor da tenda. Vários minutos depois tanto Slade, quanto Capitã Kane escutaram os gritos agoniantes de Walsh. É agora ou nunca, Slade pensou. Por dias ele veio preparando uma fuga para os três, mas agora seria apenas ele e a Kane. Ele vinha tentando enfraquecer a corda que os prendia. Após dias e dias, semanas, fazendo isso, ele conseguiu enfraquecer e se libertou das cordas. Sem os olhares dos guardas — que estavam concentrados na Grande Tenda que Walsh gritava —, se tornava mais fácil.

— Puta merda. — Capitã Kane resmungou, deixando um pequeno sorriso aparecer em seus lábios.

— Precisamos ser rápidos.

Slade alcançou suas coisas, que estavam há alguns passos deles, e pegou uma faca, cortando a corda que prendia as mãos e pés da capitã, cortando aquelas que prendiam seus pés também. Em seguida se levantaram

— Corre. — Falou Slade seriamente e empurrou a capitã. Em pegou suas coisas e correu atrás dela. Ninguém os tinha visto. Aparentemente, estavam concentrados, vidrados, na Grande Tenda.

Foram pouco mais de três dias correndo, sem parar. Eles não podiam parar. Os afegãs certamente estavam atrás deles, para pegá-los e cometer a mesma barbaria que fizeram com Walsh. Provavelmente, o mataram. Slade e Kane não podiam dar-lhes esse luxo. Tudo parecia uma completa escuridão para eles, não sabiam onde a densa floresta em que corriam daria. Poderia dar a um penhasco. Poderia dar a um acampamento Afegão. As possibilidades eram infinitas. Mas, ao invés disso, encontraram uma planície. E, nessa planície, havia um acampamento estadunidense, liderado pelo Major Lane.

— Major! — Kane exclamou. O homem se virou na nossa direção. O rosto era pura tensão. As coisas não pareciam boas. Mas ele se aliviou ao nos ver.

O Major explicou a situação. Amanda Waller liderou uma investigação e descobriu que uma organização terrorista conhecida como C.O.L.M.E.I.A. (Controle de Lideranças Mundiais para Espionagens, Insurreições e Atentados) estava por trás da Guerra do Vietnã. Aparentemente, o intuito era desestabilizar os acordos e alongar ainda mais a Guerra Fria, para iniciar uma Terceira Guerra Mundial.

— Deus — sussurrou Kane. —, eles levaram Walsh.

— Porra. — resmungou o Major. Lane passou a mão pelo rosto, pensativo sobre o que faria. — Vocês dois, Wilson e Kane. Vou mandar vocês para a Islândia. Preciso tirar vocês da missão por um tempo.

— O quê? — Slade indagou, confuso com a situação. — não pode nos jogar para escanteio assim!

— Major, por favor, não faça isso. — Kane mordeu seus lábios, sua vida se resumia ao exército. Ela batalhou MUITO para chegar até ao posto de capitã.

— Já está decidido. Preciso zelar por vocês, são os principais alvos. — suspirou. — vocês partem amanhã. Ponto.

Slade bufou. Kane esfregou o rosto.

— Vão dormir. — continuou o major. — Vocês precisam descansar.

Kane concordou com serenidade e puxou Slade para longe, na intenção de que ele não retruca-se o major. Segurou firme os ombros de seu inferior e olhou no fundo dos olhos castanhos do Wilson.

— Vá dormir. — ela falou com seriedade. — E isso é uma ordem minha também.

Slade suspirou, tentando encontrar palavras. Ele não conseguiu, ficou encarando a mulher de pele que lembrava a coloração de quartzo fumado. Os traços orientais em seu rosto a deixavam linda, pensava Slade. Ela é linda, pensou.

— Sim, senhora. — O Wilson suspirou e caminhou lentamente na direção de uma das tendas. Iria, realmente, descansar.