Colo de Abadia

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Já era de noite e eu estava em uma rede de descanso na varanda da fazenda. Meus olhos admiravam as estrelas do céu noturno, elas estavam mais evidentes por estarem longe da poluição das cidades. Uma taça de vinho tinto se encontrava em minhas mãos e a garrafa no chão, próxima à rede. Eu tinha resolvido tirar essa noite para dedicar um tempinho a mim, para poder ficar sozinha. Entretanto, Juliette me acompanhava. Ela podia estar longe fisicamente, porém, estava comigo naquela noite, em meus pensamentos.

Fazia algumas horas que eu havia mandado mensagem para Juliette, e até agora, nenhuma resposta. Ela tinha visualizado apenas as duas primeiras e isso me deixava aflita. Eu tentava evitar pensar sobre isso, mas era impossível. Será que ela tinha se arrependido do nosso momento no camarim e resolveu me ignorar? "Calma Sarah!", repreendo a mim mesma. Eu não posso simplesmente deletar o fato de que ela está extremamente ocupada com os compromissos pós-BBB. Essa era a justificativa mais plausível para eu não ter recebido um retorno.

Toda hora que sentia meu celular vibrar, sinalizando que uma notificação havia chegado, eu imediatamente pegava o aparelho na esperança de encontrar uma mensagem dela. Mas nunca era. Fazia muitos anos que eu não ficava nesse estado, vivendo apenas à espera de uma simples mensagem.

Sempre que enfrentava dificuldades para lidar com meus sentimentos, existia apenas uma pessoa no mundo que eu poderia pedir ajuda, minha mãe. Dona Abadia era a única capaz de me ajudar a enxergar luz no meio desse turbilhão de sentimentos. Ela sempre esteve presente em todos os meus momentos de surtos e confusões mentais. Mas dessa vez, o que eu sentia era algo diferente, numa proporção que nunca havia sentido antes. Não tinha mais como ignorar o fato de que eu estava apaixonada. Sim, apaixonada! E ainda por cima, por uma mulher que conheço há pouco mais de 100 dias. Como isso era possível?

Confesso que eu já sabia que estava apaixonada antes mesmo de ter beijado Juliette pela primeira vez. Eu só evitava pensar a respeito do que estava sentindo de verdade. Isso é tudo muito louco para mim. É a primeira vez que me apaixono por uma pessoa antes de sequer beijá-la. Já havia ouvido falar na possibilidade desse sentimento nascer antes de você ter um contato íntimo com a pessoa. Mas eu acreditava que isso só acontecia em filmes e livros. Acho que um dos principais motivos do universo ter colocado Juliette em minha vida, foi para fazer tudo virar de cabeça para baixo. Como pode um simples ser humano ter tanto poder sobre meu corpo e pensamentos? Eu estava fodida!

Não sei o que era mais difícil, lidar com meus sentimentos antes de beijá-la pela primeira vez ou agora, depois de ter tido esse contato mais íntimo. Ah, o toque de Juliette... Como era bom sentir o contato dos nossos corpos juntos, seu abraço, suas mãos fazendo carinho em meu cabelo, suas mãos percorrendo meu corpo em puro desejo, seus beijos, seu gosto... Eu tinha plena consciência de que não conseguiria mais viver sem sentir seu tato em mim. Fecho meus olhos e permito meus pensamentos vagarem até a noite passada, na nossa bolha dentro do camarim. Sinto meu corpo começar a esquentar ao relembrar das sensações que seu beijo causava em mim.

"Preciso ligar para minha mãe!", reafirmo para mim mesma, tentando afastar esses pensamentos quentes que inundavam minha cabeça. Levo a taça até meus lábios e bebo o restante do líquido vermelho antes de pegar a garrafa e encher a taça novamente. Com meu celular em mãos, disco o número da minha mãe e dou início a uma chamada de vídeo.

- Oi, minha filha, que saudade que eu estava de você! – Minha mãe atende com um sorriso brilhante em seu rosto.

- Também tava com muita saudade! Como você tá?

- Eu estou muito bem, graças a Deus. Já você não pode dizer a mesma coisa, né? – Uma expressão de espanto atinge meu rosto assim que escuto a última frase saindo de sua boca.

Against All Odds (sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora