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Langa Hasegawa...

Sinto a respiração se ausentar de meu corpo pelos primeiros segundos que encaro o skate na mão do Reki. Um misto de sentimentos se apondera do meu peito e bagunça a minha mente, em uma confusão tão grande que sou incapaz de decifrá-los.

Diferentemente do skate tradicional esse possui dois lugares para fixar os pés no shape, que também é um pouco mais largo e longo, sendo incrivelmente próximo do estilo que é utilizado na prática do snowboard.
- Se você não gostou eu posso refazer- levanto meu olhar parando no do Reki.
- Eu ... - estico minhas mãos e rapidamente noto que estão trêmulas, meus dedos seguram o objeto da sua mão, que logo é passada para a minha, aproximo de meu corpo chegando perto do meu peito agitado.

Meu olhar cai para cada detalhe, até mesmo o desenho feito na parte de baixo, um largo sorriso toma meu rosto.
- Acho que essa expressão quer dizer que você gostou - meu olhar sai do skate para se voltar para o Reki - Quando você quiser aprender a andar, mesmo que demore... estou disposto a te ensinar.
- Foi por isso que você passou a noite em claro? Para adaptar o skate?

Com um olhar meio perturbado, ele passa a encarar um canto qualquer da cozinha, um traço de vergonha passando por seu rosto.
- Foi... por acaso acabei descobrindo que você praticava snowboard antes. Achei que talvez fosse mais fácil para você aprender com algo que estivesse mais habituado.

Ao ouvir suas palavras o peito antes acelerado sai totalmente de seu normal. O par de olhos alaranjados para nos meus, a distância se torna irrelevante nesse momento, pois sinto que estou despido em sua frente, com todo meu ser exposto. Engulo em seco.
- Por que isso é importante para você? - ele dá de ombros tendo um sorriso brilhante em seu rosto.
- Eu não sei, apenas é.

Encaro o skate e um pesar passa por meu peito, a imagem do corpo sem vida do meu pai esboçando minha mente em um filme melancólico de lembranças, que como uma tortura, sou incapaz de esquecer.
- Eu não tenho certeza se consigo usar ele agora - as palavras saem como um sussurro enquanto delicamente o coloco em cima da mesa, um doce curvar passa a se formar no canto de meus lábios - Você me conhece a nada mais que dois ou três dias e mesmo assim é tão atencioso comigo, eu não sei o que leva alguém a ser... -  me viro enquanto falo meu rosto para a poucos centímetros do Reki. As palavras morrem em meus lábios, a medida que meu corpo se paralisa. O tendo tão perto assim sou incapaz de formular uma frase em minha mente.

Sinto quando seus dedos afastam um fio do meu cabelo, ainda com o sorriso acalentador em seus belos lábios.
- Eu o dei para que você usasse quando sentisse vontade, eu não faço ideia do que te faz tão relutante em tentar, mas mesmo assim não me importo de esperar até que queira aprender - ele se afasta lentamente, com os dois sóis de fim de tarde presos em meus olhos - Não me agradeça por ser atencioso com você Langa, apenas quero ser seu amigo.

Abro um sorriso leve sentindo a ponta da minha orelha esquentar.
- Eu também o quero - assim que escuto minha própria voz, meu rosto fica vermelho. Era para dizer que quero ser seu amigo, não que o quero - Eu... não quis dizer que o quero, mas também não quero dizer que não o quero. Ahhh, o que eu quero dizer é...

Ele ri e os olhos formam dois riscos.
- Eu entendi o que quis dizer, não precisa ficar tão envergonhado.

Desvio o olhar ainda sentindo a vergonha queimar em meu corpo. Você diz isso porque não foi você que cometeu esse erro.
- Eu vou indo, está tarde e eu preciso dormir - olho para ele e assinto.
- O acompanho até a porta.

Assim o faço, ele pega a bolsa vazia a colocando nas costas, coloca o sapato e pega o skate. Abro a porta e ele sai parando na mesma para se despedir.
- Tenha um bom sono Langa - abro um sorriso quando sem pensar muito levo minhas mãos até a gola de sua blusa de frio, arrumando para tampar a pele exposta.
- Está gelado, seu pescoço ficaria frio assim - ele sorri - Obrigado pelo o que fez, e tenha cuidado.
- Pode deixar- ao dizer isso ele sai andando, fico mais um tempo na porta, recebo um último sorriso antes de o ver sumir de vista com o skate.

Meus olhos vão para o céu acima de mim, estranhamente as nuvens se foram, e agora o céu limpo revela o incomparável brilho das estrelas e da lua...

Cherry Blossom...

A passos leves ando até a cama do Miya, onde o mesmo está dormindo profundamente. Abro um meio sorriso quando me abaixo dando um beijo em sua testa, puxo a coberta para que o cubra por inteiro.
- Durma bem- sussurro antes de me levantar, deixando o quarto escuro para trás.

Assim  que a porta se fecha atrás de mim,  escuto a campanhia sooar. Rapidamente vou até lá, abro a porta dando de cara com o Joe.
- O que está fazendo aqui?
- Boa noite para você também - sem pedir permissão ele entra fechando a porta atrás de si.
- Vai para a sua casa.
- Não até saber que você vai dormir.

Ele anda até a cozinha e sigo seus passos, já sentindo minha cabeça doer de raiva.
- Que merda é essa agora? Desde quando eu preciso que alguém me ponha para dormir?
- Desde quando você está passando mais de duas noites em claro, dormindo menos de quatro horas por dia - ele se vira apoiado na pia, enquanto ao lado escuto o som da máquina despejando algo em sua xícara - o Miya me contou.

Reviro os olhos. Qual a dificuldade dele cuidar da própria vida?
- Isso não tem relação com você - passo direto por ele para pegar um pouco de chá, quando coloco o mesmo em minha xícara sua voz surge.
- Faz tantos anos que eu levo minha vida junto com a sua, e mesmo assim você age como um gato de rua sempre que tento cuidar de você. Já passou da hora de aceitar que eu me preocupo com você, seu idiota - suas mãos fortes roubam a xícara de minhas mãos e logo anda até o adoçante, pondo o mesmo.

Puxo uma cadeira sentando na mesma.
- Como se eu precisasse disso.
- Precisa, você não sabe se cuidar - ele entrega a xícara nas minhas mãos antes de se apoiar na mesa com a sua própria.
- Só não entendo essa sua necessidade de vir averiguar tudo sempre - ele suspira baixo.
- Você é muito inteligente para algumas coisas e um completo ignorante quando se trata de entender a natureza humana - tomo mais da metade do chá.
- Quem você está chamando de ignorante saco de músculos?
- Você, gato arisco.

Reviro os olhos. Eu não vou ficar discutindo com essa criança presa no corpo escultural de um adulto. Me levanto colocando a xícara na pia, sem olhar para trás passo a andar em direção ao meu quarto.
- Cherry?
- Vou deitar, vai me seguir também? - ele abre um meio sorriso que faz meu corpo se arrepiar, e nesse momento me arrependo amargamente de minhas palavras anteriores.

                            • ♡ •
"[...] Assim pude trazer você de volta pra mim, quando descobri que é sempre você que me entende do início ao fim.  E é só você que tem a cura pro meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto."
                         - Índios (Legião Urbana)
                                  

Através dos seus Olhos *Langa x Reki & Joe x Cherry* Onde histórias criam vida. Descubra agora