2. Primeiros sinais

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Deixamos de morar com a minha avó quando ela se mudou para outra cidade. Eu também pensava em ir embora, mas não para outra cidade, e sim para um convento. Minha mãe era contra essa ideia e para me fazer mudar de ideia, começou a me presentear com livros de Wicca. Eu lia cada livro com grande fascínio porque sempre adorei sereias, duendes e elfos e gostaria que eles fossem reais. Aqueles livros diziam que eram e também que eles poderiam levar humanos para seu mundo mágico e até se casar com eles. Minha realidade era tão sem graça que eu não pensaria duas vezes antes de ir embora com o primeiro elfo que aparecesse. Para mim, os Elementais - como são chamados os seres mágicos - eram tão nobres quanto belos.

Naquela época, eu amava assistir ao Senhor Dos Anéis e estava sempre buscando nos livros, uma prova de que os elfos eram reais. Infelizmente, ninguém escrevia nada relevante sobre eles e se eu ao menos encontrasse a palavra "elfo" em um livro já era alguma coisa. Sem saber como contatá-los, decidi criar o meu próprio feitiço. Pedi a minha mãe para comprar velas brancas e ela comprou com um sorriso no rosto porque seria o primeiro feitiço que eu faria.

Formei um triângulo com as velas e as acendi. Fechei os olhos e enquanto visualizava os elfos, pedi a eles que se fossem reais, viessem em meus sonhos. Quase um mês se passou e eu me esqueci do feitiço até que sonhei que estava em uma vila medieval onde várias pessoas, usando trajes medievais se moviam, ocupadas. Mulheres carregando crianças ou trançando cestos de palha. Eu lembro que o solo era coberto por um gramado perfeito e o sol brilhava com força. Eu caminhei até um lago próximo e vi uma jovem deitada em um pedaço de madeira que boiava na água. Ela usava um vestido azul, de tecido leve. Seus cabelos negros estavam soltos. Ela sorria enquanto cantava. Eu a observei, encantada. De repente, a paisagem ao meu redor mudou e eu apareci na minha cozinha, parada em frente a geladeira. Havia um bilhete que dizia o seguinte:

"Vista-se sempre de branco, ande sempre com ferro e metal, tenha sempre um covil".

Reli o bilhete sem entender o que aquelas palavras significavam. Pareciam mais um enigma. Virei-me ao ouvir um estalo e vi uma mulher loira, parada na entrada. Ela usava um vestido branco, medieval. Ela me encarou e disse que viera de muito longe só para me levar e me estendeu a mão. Eu hesitei e ela disse que se não me levasse, levaria o Luiz em meu lugar. Senti raiva porque aquilo me pareceu muito injusto. Meu irmão nem acreditava em elfos, logo, não merecia ser levado por eles. Eu disse a mulher que sentia muito por ter chamado ela, que não podia ir com ela e nem o meu irmão. A mulher me encarou, séria e não disse mais nada. Eu despertei, sobressaltada e percebi que começava a amanhecer. Contei a minha mãe sobre o sonho e ela disse para eu não mexer mais com os elfos. Eu prometi que nunca mais mexeria com eles porque estava com medo de ser raptada.

Eu não desisti dos Elementais por causa dos elfos e acendi incensos para as fadas, borrifei essência pela casa para atrair as silfídes e, inadvertidamente, Luiz e eu brincamos com fogo... Literalmente. Acendiamos o fogão e ficávamos encarando a chama, chamando pelas salamandras, e eu lembro que uma vez... Uma única vez, mas que eu me arrependeria futuramente, falei a palavra "djinn" porque segundo o livro que eu li, era este o governante do quadrante Sul, ou seja, dos Elementais do Fogo.

Quando se abre uma porta e a deixa aberta, qualquer coisa pode passar por ela.

Não demorou para coisas estranhas acontecerem.

Uma tarde, eu estava sozinha em casa. Sentada na sala, eu escrevia uma história quando ouvi o rádio ligando, selecionando a terceira faixa do meu cd da Evanescence e aumentando para o volume máximo. Me levantei, sobressaltada, pensando que um bandido invadiu a casa e ligou o rádio para abafar os meus gritos. Esperei que ele viesse até a sala para que eu corresse, mas ele não veio. Reuni coragem e fui até a cozinha, tomando cuidado para não ser surpreendida. Peguei uma faca e fui até o meu quarto. Não vi ninguém. O revistei e, mais tranquila, abaixei o volume do rádio e o desliguei. Não tinha certeza se ele poderia ligar sozinho e menos ainda que ele aumentasse gradativamente de volume. Revistei o restante da casa, mas não havia nem sinal de que mais alguém estivera na casa.

Em outra ocasião, meu irmão caçula e eu estávamos em casa sozinhos, vendo televisão quando ouvimos ruídos, vindos da cozinha. Eu fui até lá, mas como não vi nada demais, voltei para a sala. Os ruídos continuaram e meu irmão, curioso, foi até lá. Ele voltou até a sala e insistiu para que eu fosse com ele até a cozinha. Eu olhei para as caixas embaixo da pia e afirmei que o barulho deveria vir de lá, que certamente era provocado por ratos. Meu irmão apontou para a parte de cima da pia, dizendo que o barulho vinha de lá. Eu olhei e novamente não vi nada.

— O copo! — ele apontou e só então eu reparei que o copo de alumínio estava se movendo em movimentos circulares.

Na hora eu pensei que fosse um rato e recuei. Meu irmão tinha só quatro anos e disse que deveria ser uma formiga. Eu disse que era impossível e voltei a dizer que era um rato. Corri para pegar uma vassoura, mas quando voltei, tive medo de me aproximar. Meu irmão se aproximou da pia. Pedi a ele para ter cuidado e ele agarrou o copo e o ergueu. Não havia nada embaixo do copo, nem mesmo uma formiga. Eu tive de pegar o copo e examiná-lo por mim mesma para ter certeza de que o que vi era real. Coloquei o copo de volta na pia, mas ele não se mexeu novamente.

Coração de Bruxa (Sendo Reescrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora