— Eu já estou melhor, não precisa se preocupar tanto! — Digo, já um pouco alterada para meu irmão.
Ian estava me deixando louca de tanto andar de um lado para o outro, quase deixando um buraco no assoalho da sala de sua casa. Falava o quanto aquilo era necessário e que devíamos dar um jeito logo. Como se não fizéssemos uma reunião com a matilha sempre que podemos.
— Eu sei que está! É claro que sim! — Me olha, com suas duas órbitas negras me fuzilando.
Ele era lindo. Tão lindo que conseguiu se casar primeiro que eu, mesmo sendo o mais novo. Meu cunhado, Finn, assim que pôs seus olhos nele, não o soltou. Era engraçado, ele literalmente seguia meu irmão nos lugares e sempre olhava para ele com uma cara de cachorro molhado. Até hoje era assim, por isso, Finn estava sentado ao meu lado, escutando, quieto.
Por mais que ele fosse o líder e meu irmão sempre respeitava quando ele estava liderando, nos assuntos mais pessoais, ele deixava Ian extravasar todas as frustrações sem nem interromper.
Essa técnica foi eu quem ensinei, na verdade. E é por isso que ele estava querendo me matar, pois não conseguia ficar quieta por muito tempo.
— Kya, você quase se matou indo para aquele lugar, não vai acontecer novamente!
— Ian, nós podemos resolver de outra forma...
— Vamos esperar o pessoal da matilha chegar e discutiremos sobre isso.
Ele se senta no sofá e Finn se ajeita por trás dele, cheirando seu pescoço e depositando um beijo ali. Vejo meu irmão relaxar em seus braços. Reviro os olhos, desviando minha atenção.
— Ta, podem falar, o quê aconteceu? — Luna entra, acompanhada dos outros cinco membros.
Havia se passado duas semanas desde o acontecimento de ter sido baleada. Mas nada passou por meu irmão e seu marido. Eles estavam decididos a tomarem algumas medidas com tudo aquilo, mesmo eu não sabendo exatamente o que pretendiam. Eu já estava quase curada, ainda não tínhamos o fator de cura quase instantânea, mas ainda sim conseguíamos nos curar mais rápido que um humano normal.
— Isso parece sério — Jaden diz, assim que se senta em uma poltrona próxima.
Finn começa a explicar tudo o que havia se passado e todos pareciam ter tido um ataque de responsabilidade elevada. Reviro os olhos.— Decidimos que iremos nos mudar novamente — Ian comunica, me fazendo levantar de onde estava.
— Como é?
— Foi isso o que você ouviu, Kya. Não podemos mais ficar aqui por muito tempo sabendo que a qualquer momento caçadores podem entrar por essa porta.
— Não. Eu não me importo com o que decidirem. Eu não irei.
Estava com raiva. Muita raiva. Eles sempre faziam isso. Queriam me tratar feito uma criança que deixei de ser à muito tempo. Não iria deixar o lugar que gosto para fazer o gosto de cada um deles. Estava cheia disso.— Kya, você faz parte da nossa matilha, temos que estar juntos — Finn se pronuncia, sério.
— Não. Eu cansei disso. Cansei de vocês! Com esse discurso ridículo de sempre quererem o melhor para todos.
— Kya!
— Não, Ian. Estou sendo sincera. Amo você, mas chega de me doar tanto, para não receber nada em troca. Espero que sejam felizes com suas novas vidas e me deixem em paz.
Pego meu casaco e saio dali o mais rápido que pude, caminhando até meu Jipe. Não era fácil tomar uma decisão dessas, mas não aguento mais ficar vivendo de uma forma que não quero. Dou partida, acelerando até minha casa.

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KYA
Short StoryKya Roosevelt é muito mais que uma mulher sedutora e inteligente, apaixonada pelo seu trabalho de historiadora, ela é também uma fera selvagem, no sentido literal, meia-humana, meia-puma. Mas nem mesmo o seres sobrenaturais da Natureza podem escapar...