Acordo nua, com um peso em cima de mim e um calor gostoso. Seu cheiro familiar inundando o quarto.
Tive uma das melhores transas da minha vida com a pessoa que eu realmente não deveria ter tido. O conheci a poucos horas e isso não é suficiente para eu saber quem ele é de fato, a não ser que era meu caçador.
Olho para a janela do quarto e percebo que o céu está azulado, típico das horas que antecedem o amanhecer. Confiro no relógio sobre o criado mudo de Lorence e são pouco mais das cinco da manhã. Eu sei que é errado sair assim, no meio da madrugada, praticamente fugida, ma primeiramente, eu não devo nada a ele e segundo, não sei o que dizer. Não posso simplesmente dizer "transa legal para alguém que quer me matar".
Começo a sair de mansinho debaixo do braço pesado de Lorence que está sobre minha barriga. Faço movimentos mínimos na intenção de não acordá-lo. Com os pés já no chão frio, começo a procurar na escuridão do quarto minhas roupas e meus sapatos. É quando eu ativo minha visão noturna de puma que eu me lembro: Lorence viu, no ápice do momento, meus olhos felinos ativados pela loucura dos meus hormônios.
A luz do quarto não foi ligada, estávamos fazendo sexo só com a luz do poste que ultrapassava os vidros da janela e a tela de proteção verde que ele colocou para impedir a entrada de mosquitos. Mas ainda assim, ele notou. Eu só espero que ele pense que foi algo da cabeça dele, fruto do álcool que ele ingeriu na festa.
Finalmente encontro meu vestido vermelho. Visto-o rápido e calço os saltos que estavam perdidos não muito longe de mim. Mas sou pega no flagra tentando furgir.
— Vai sair sem se despedir? —Lorence diz, com uma voz extremamente rouca e sexy.
Eu me viro lentamente ao notar que ele acendeu a luz do abajur. Estou com a mão no trinco da porta. Ofereço um sorriso amarelo, mas permaneço estática no lugar.
— Não queria te acordar — Minto.
— Eu não me incomodaria de ser acordado, sabia? — Ele diz isso, com a intenção de deixar nas entrelinhas a mensagem de que não acreditou na minha conversa.
Ele se vira de lado na cama, com a cabeça apoiada na mão. A metade de seu corpo bem definido está coberto pelo lençol branco. Com a mão livre, ele faz círculos no espaço vazio ao seu lado. É uma visão muito atraente. Embora eu queira voltar para lá, não posso. Sei que só vim aqui para saber onde meu inimigo dormia. Um sexo incrível com ele foi só uma bonificação. Sinto espasmos só de lembrar das coisas que fiz com ele.
— Não quer ficar até o dia amanhecer? — Lorence me oferece — Posso fazer café da manhã pra você.
Sinto uma pontada de duplo sentido em sua frase, mas finjo não perceber.— Na verdade, acho melhor eu ir logo, meu irmão deve estar preocupado comigo. Sumi da festa sem dizer nada a ele.
É a primeira coisa que me veio em mente e na minha cabeça soaria como uma desculpa mais plausível de aceitação, mas quando escapole pelos meus lábios, percebo que ela é tão fajuta quanto a minha convicção de que Lorence não conseguiu mexer comigo.
— Tudo bem, então — O caçador diz, nitidamente decepcionado.
Deixo seu sem dizer nada, apenas lhe ofereço um olhar duvidoso que pode ter denunciado minha hesitação em ir embora. Não demoro a encontrar a saída, pois sua casa não é tão grande. Sinto mais uma vez aquele cheiro de pólvora e licor que só ele tem e sou engolida pela fria escuridão da madrugada.
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KYA
Short StoryKya Roosevelt é muito mais que uma mulher sedutora e inteligente, apaixonada pelo seu trabalho de historiadora, ela é também uma fera selvagem, no sentido literal, meia-humana, meia-puma. Mas nem mesmo o seres sobrenaturais da Natureza podem escapar...