Que exorcismo é esse?

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— Vai mais rápido, Kookie!

— Argh! Eu tô tentando! — responde ofegante.

— Está muito lento! Quero mais rápido!

A velocidade da bicicleta fez o chapéu da senhora sentada no banco voar. Estavam atravessando o parque. Mais duas ruas e uma travessia de ponte e eles chegariam na casa de Bae Gi. Ela ia sentada no cestinho atrás do banco dele, as mãos encadeadas e trancadas com chave ao redor da cintura dele. Não podiam cair, mas também não podiam se atrasar.

Numa lombada na saída da ponte, Gi para de sentir o apoio e abraça ainda mais forte o melhor amigo, rezando para que o demônio dentro dele não apareça e venha com gracinhas. Gi é o tipo de pessoa séria, então aquelas atitudes inesperadas a tiravam da sua caixinha cuidadosamente fechada. Muitos a achavam sem graça, mas desde que ela tivesse Jeon Jungkook do seu lado estava tudo bem. A opinião dele era a que importava. Agora que ela tinha chances de o perder para um ser sobrenatural ela faria de TUDO para o ter de volta. Duplo ênfase no TUDO.

Estacionaram a bicicleta. Voltaram a correr de mãos dadas — pra ela isso passava a segurança de que ele permaneceria sendo ele —, só as desgrudando para retirar os sapatos e entrar em casa.

— Oi, omma! Não entra no meu quarto! — grita correndo escada acima.

— Olá, dona Bae! Tchau, dona Bae! — mal termina de falar e é empurrado para dentro do quarto.

Na cozinha, a mãe de Gi derramava o chá quente do bule na xícara. Quando a porta lá de cima bateu, uma mecha de cabelo do seu coque tradicional caiu sobre o rosto da versão mais velha de Gi. Consertou o penteado e deu um sorriso sem explicação. Ter uma até tinha, porém não serei eu, narradora, que irá dizer. Oras! Tirem suas próprias conclusões sobre a felicidade repentina da mulher cuja filha tímida acabou de arrastar a força o melhor amigo pro quarto.

A primeira coisa que fizeram foi, logicamente, largar as mochilas de qualquer jeito e depois tirar a blusa. Quer dizer, apenas Jeon tirou a blusa e entrou no banheiro, seja lá porque diabos. Okay, jamais se acostumaria com esse tipo de coisa. Se fosse outro alguém, tudo bem. Acontece que era Jeon Jungkook que começou a estalar sua coluna quando desapareceu no lavabo. Asas saindo dela, era só o que faltava pra Bae enlouquecer ali e agora.

Concentrada na sua tarefa de salvar uma vida e exorcizar outra, Gi abre seu notebook e espera ligar dedilhando as teclas com uma pequena tremedeira. Ela nem sequer acreditava no espírito santo, imagina num bicho tarado do inferno que está quase matando a alma do ser que ela mais precisava?

Quase grita de alegria ao ver a tela acender. Digita a senha super ultra mega blaster secreta — 123456 — e começa a navegar na internet. Os primeiros sites que ela consulta mostram rituais de magia negra com sal de cozinha que ela até acreditaria que poderia dar certo, se embaixo não estivesse escrito "de acordo com o universo da série Supernatural". Pesquisando mais a fundo ela acaba achando um artigo interessante. O roteiro da série apenas mudou de lugar algumas das palavras do texto original em latim, ou ao menos falava que era o original.

Levantou-se da cadeira gamer — ela era nerd e geek, vejam só — desplugou o carregador do notebook e o levou até o banheiro, lendo em voz alta e com entonação o seguinte em latim:

"Crux Sacra Sit Mihi Lux

Non Draco Sit Mihi Dux

Vade Retro Satana

Nunquam Suade Mihi Vana

Sunt Mala Quae Libas

Ipse Venena Bibas"

❝𝐂𝐚𝐧𝐭𝐚𝐝𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐮𝐦 𝐃𝐞𝐦𝐨𝐧𝐢𝐨⚤❞Onde histórias criam vida. Descubra agora