Capítulo 1

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Eu sempre fui um humano diferente, sem saber que em meu sangue metade humano corria também sangue de dragão, os famosos dragões vermelhos, dragões do fogo. Minha história começou em um certo dia de verão, uma grande tempestade veio a assolar uma pequena vila chamada Sisteron (talvez com lá suas dez ou quinze famílias) a maior que a vila já sofrera. Ventos muito fortes, raios e trovões, a correnteza do rio era absurdamente forte e poderosa naquela ocasião.

E um antigo mestre de armas, por serem tempos calmos e pacíficos, tinha renunciado seu título heróico e lendário pelo continente afora para ser um simples ferreiro em uma vila pacata e ter uma pequena família, conhecida futuramente na vila como a família WHITE.

Eu ainda não sabia, mas essa tempestade que durava já alguns dias marcava o meu nascimento. Jayson White o ferreiro, vinha à frente guiando as vacas, com sua esposa Freya caminhando ao lado da carroça com suprimentos adquiridos na vila, ambos indo com dificuldades pela tempestade em direção à sua casa, que se encontrava um pouco afastada da vila e mais próxima do rio.

 Chegando perto de casa eles ouviram um choro de um bebê vindo da direção de uma árvore derrubado no rio pela tempestade. Inicialmente eles achavam que era seu filho Lorax (o mesmo se encontrava seguro em casa) e Jayson correu desesperadamente ao encontro do choro e ao chegar, viu um cesto lutando furiosamente na correnteza das águas, preso num dos galhos de uma antiga árvore, antes tão forte e esplendorosa agora tão frágil, derrotada.

Ela havia perdido sua batalha, a luta de se manter firme contra o forte vento, mostrar-se forte contra as intempéries da natureza, que por centenas de anos a castigaram. Era chegado a sua hora e a tempestade saíra vitoriosa impondo sobre os demais seres seu poder, o furor de sua ira, lançando raios nunca vistos antes com os estrondos de seus choques constantes contra a terra molhada, fazendo-a tremer. No soprar do vento, no ressoar dos trovões, ela cantarolava sua vitória. Bem era isso que os seres contemplavam respeitosamente da batalha travada, mas no seu ultimo silêncio e fôlego de vida, a sábia e antiga árvore lançava suas sementes ao vento, disseminando os frutos de sua longa vida. Sementes essas que brilhavam no resplendor dos relâmpagos que dançavam no céu, iniciando assim sua viagem em busca de uma terra fértil para cravar suas raízes e crescer tão esplendorosas como sua genitora.

O bebê no cesto era eu, sendo salvo e acolhido pela pequena família que me batizou com o nome de Falcon, pois me disseram que eu parecia navegar pelas correntezas do rio, como os falcões voam nas correntes de ar, altos e suaves, mas com olhos firmes e afiados, vivos como... Como o fogo.

A cabana era simples e situada numa clareira perto do rio. Na entrada, encontravam-se três degraus de madeira até a varanda, sendo que segundo fazia o velho e cansado barulho familiar ao pisar “Nheec”. A varanda tinha um assoalho de madeira. Era comprida, com duas cadeiras de balanços e com uma pequena mesinha entre elas, onde Freya passava muitas tardes ensolaradas tricotando ou cuidando de seu jardim na frente da varanda enquanto meu meio-irmão e eu nos aventurávamos na floresta sombria ou mergulhávamos no rio. Ao entrar na cabana com o alicerce de pedra polida e que formavam encaixes perfeitos umas com as outras, encontrava-se uma sala muito aconchegante com dois sofás de um lugar e um maior, de três, perto da lareira, com um grande tapete macio tricotado por Freya, onde por muitas vezes Lorax e eu brincávamos durante dias chuvosos e em algumas noites escutávamos histórias tristes, alegres, engraçadas e até mesmo muito assustadoras de nossos pais. Num dos cantos da sala, iniciava-se um pequeno corredor com três portas à esquerda, onde ficavam os quartos, uma no final do corredor onde era o banheiro e duas à direita a primeira era a da cozinha e a segundo mais ao fundo perto do banheiro dava para a ferraria no fundo da cabana. A cozinha era simples, mas ricamente decorada com flores e vasos artesanais de Freya, com uma pia com armários onde se guardava as panelas, gavetas com talheres, um fogão, uma mesa de seis cadeiras e um pequeno quarto de despensa. A ferraria era rica em ferramentas como tenazes e martelos de todos os tipos e tamanhos, bigornas, um grande forno e um fole para avivar as ardentes chamas. Durante o dia a ferraria abafava os sons da floresta e do rio com seu forte e ritmado tinir do ferro e aço “Tim Tim Tim”.

Desde o dia que fui acolhido, passei a ser criado como o filho caçula muito amável com meus pais adotivos, com o espírito indomável e, muito arteiro confesso, louco por histórias e aventuras.  Alem de aprender a profissão de ferreiro com meu pai adotivo, ele também se incumbiu de nos ensinar a arte das armas. Sendo essas de todas as espécies, desde as fortes e pesadas montantes, à leveza e agilidades das katanas, lançamento de facas e adagas, e também algumas rápidas aulas de arco e flecha (Eu não me desenvolvia muito bem nessa ultima). Mas Lorax não gostava de lutas e sim da profissão de ferreiro. Não passava de simplesmente mais um ouvinte das historias contadas pelos nossos pais, ou raros trovadores contadores de historias que vinham muito de vez em quando a taverna de nossa pequena vila.

Cada um se empenhava mais nas aulas que eram apaixonados. Lorax na arte da forja, eu na arte do manejo de espadas e nosso pai como mestre em ambas as artes, sempre duplamente rígido com as suas aulas.

Por ter 10 anos a mais que eu, Lorax já pensava em iniciar sua família, ter filhos e criar raízes. Eu, um moleque em busca de aventuras com outros três amigos, os irmãos Fox e Flix Shaun, ambos de um físico fraco, com um simples objetivo, absorver conhecimento, e um órfão chamado Leoril, apelidado de Lewry metade humano metade elfo-negro, esse último bem malandro e habilidoso.

Fox e Flix eram crianças da raça pura dos homens. Seus pais cuidavam de uma pequena mercearia no centro da vila. Fox já se encontrava na faixa de idade da de Lorax então era natural que já trabalhasse com o pai. Flix como o mais novo da turma geralmente era o que sempre ficava para traz, apesar de novo tinha uma fome gigantesca por descobertas e relíquias.

 Já a historia de Lewry não era muito conhecida porque ele evitava falar de seu passado, e irei relatar o que sabíamos na época aqui nesse manuscrito.

*    *    *

Filho de mãe humana especializada em magias de cura tinha um longo cabelo negro, pele macia e um pouco morena, marcada pelo tempo devido aos longos dias estudando ervas nos campos em céu aberto, olhos redondos e amendoados e um corpo belo e esguio. O pai era da raça dos temidos elfos-negros com um corpo forte em um tom de cor de pele meio azulada, cabelos brancos, olhos vermelhos, orelhas pontudas. Possuía boa audição em seus tempos de juventude, era um especialista incrível em venenos, habilidoso em montar armadilhas para caçar inimigos e alimentos. Eles eram chefes de uma caravana de mercenários e seu pai sempre carregava duas adagas em seu cinto, um arco e uma aljava com vinte e cinco flechas em média nas suas costas.

Ele tinha começado a ensinar ao filho suas habilidades com venenos, lançamentos de facas e manejo de adagas pela manha. Com aulas a tarde de arquearia com um dos melhores arqueiros do bando.

Um dia, o bando foi atacado por um monstro gigante que ele não soube dizer se era um Golem ou talvez um Ent, tendo como resultado muitas baixas e ele sendo separado do grupo.

Leoril Hawklight (mais tarde conhecido por Lewry na vila) andou, segundo ele, por três dias até chegar a uma vila, á nossa vila.

O que significa três dias de caminhada sem rumo, desorientado e ferido em uma floresta tão densa que não se sabe quando é dia ou noite.

*    *    *

Alguns anos se passaram e nos tornamos grandes amigos. Ambos éramos diferentes. Eu em meu interior e ele por fora, na aparência. Normalmente não era aceito nem na sociedade dos humanos e nem na dos elfos-negros por ser mestiço.

O ataque se repete.

Desta vez na vila, com uma força atualmente desconhecia e inexplicável. “Terão esses ataques uma ligação ou serão pura coincidência?” Eu me perguntei. Não sabemos ainda como ocorreu, só temos uma triste certeza, a certeza de que isso deixou um rastro de destruição para trás e muitas mortes, inclusive meus amados pais adotivos.

Lorax assumiu a ferraria. Algum tempo depois ele se casou com uma bela e respeitada moça de família e teve filhos.

Eu não me encaixava na vila agora. Aos meus 15 anos, queria me aventurar, buscar uma explicação talvez, vingança não sei, curiosidade, ou até mesmo ir em buscar de uma paixão ardente. Eram coisas que eu não encontraria aqui em Sisteron. Então me despedi de meu irmão, sua família e peguei uma espada velha qualquer na ferraria. 

Não sei ainda, mas algo em meu interior me dizia para sair... 

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⏰ Última atualização: Mar 01, 2015 ⏰

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