Episódio 13 | O melhor amigo do homem

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[Segunda-feira, 10 de junho de 2019]

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[Segunda-feira, 10 de junho de 2019]

A única coisa que poderia me distrair de Miguel era aquilo que eu fazia de melhor: meu trabalho. Eu sabia que minha mente daria um jeito de trazê-lo à tona em algum momento de devaneio, mas, pelo menos naquela hora, eu poderia me focar unicamente no ser misógino que estava sentado à minha frente. A mulher já tinha sobrevivido por tempo demais. Não poderia passar de hoje — alguém notaria sua ausência, e o corpo dela deveria estar longe do meu porão até lá.

— Olá, Antônia — cumprimentei-a, sem a máscara, e tirei a fita de seus lábios, perguntei: — Como vai?

— Moço, p-por favor... — ela gaguejou, ignorando a minha pergunta. — Me tira daqui.

Eu já andava com a mente tão distraída que não queria prolongar minha formalidade com Antônia. Só queria me livrar dela de uma vez por todas. Entretanto, para o meu azar, teria que explicar a ela o que me motivou a seguir esse caminho.

— Eu quero que você me ouça por alguns segundos, Antônia — pedi tranquilamente, juntando as pontas dos dedos de cada mão. — Consegue fazer isso?

— Socorro! — ela gritou, observando os quatro cantos do porão. A saída que ela tanto procurava estava longe de seu alcance. — Alguém, por favor! Alguém me ajuda!

Fechei os olhos.

— Antônia...

— TEM ALGUÉM AÍ?! — Sua voz elevou-se tanto quanto suas lágrimas. — POR FAVOR!

Esperei que ela se acalmasse por um minuto, contudo, ao notar que isso estava longe de acontecer, pus a fita de volta em seus lábios. Seus resmungos eram bem mais suportáveis que sua histeria.

— Você não está me ouvindo — murmurei, exausto, e olhei para o lado, para a escada. Deixei a introspecção fluir enquanto me convencia de que faria com essa mulher o que eu estava planejando. — Queria que você me explicasse por que foi tão impiedosa com aqueles animais, mas acho que não há explicação para isso. — Tirei uma faca de arremesso do meu terno e analisei o objeto. — Não dá para entender sua atitude. Seu caso é inédito para mim. Se eu o compartilhasse com o mundo, me chamariam de louco. Ninguém acreditaria.

Vi seu rosto ficar pálido quando toquei no ponto crucial da nossa conversa. Era incrível como eu ainda ficava surpreso pelas reações de surpresa dos monstros. O que ela estava pensando? Que eu a sequestrei simplesmente por diversão?

— Há quem diga que eu sou uma aberração — continuei, o olhar frio e concentrado no rosto da mulher. — Já ouvi todos os tipos de comentários possíveis de monstros que estavam sentados exatamente no mesmo lugar que você está agora. "Filho da puta", "asqueroso", "sádico", "demônio"... Era cômico escutar esses adjetivos, porque todos eles vieram de pessoas mais insanas do que eu. — Ergui a sobrancelha direita. — Talvez você mesma esteja tendo esse pensamento ao meu respeito. Aos seus olhos, também devo ser uma espécie de anomalia da natureza, um doente mental. Mas, sinceramente, só há um doente entre nós, Antônia, e não é o que está falando.

INTENSÉMENT (temporada um)Onde histórias criam vida. Descubra agora