Episódio 16 | Um novo Laurent

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[Sábado, 15 de junho de 2019]

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[Sábado, 15 de junho de 2019]

Olhei para a foto no retrato ao lado do meu computador ligado e a peguei para mim, dando um suspiro triste. Na foto, que fora tirada há uns dois anos, minha filha, meu marido e eu estávamos abraçados. Paula tinha oito anos na época, mas não era o fato de o rosto dela ter mudado muito que me assustava. Era o quanto a família na imagem parecia diferente da que era hoje. Tínhamos ido à festa de fim de ano da escola da minha filha naquele dia.

Eu estava feliz.

Com um sorriso frágil e abalado, passei o dedo pelo rosto de Paula no retrato, sentindo-me culpada pelo que eu dissera a Wallace. É claro que eu não me arrependia de tê-la trazido ao mundo. Não era isso. Eu só não estava preparada para dividir meu trabalho com outra pessoa — e tampouco conseguiria ser uma mãe decente se me focasse demais no meu emprego. Foi por isso que nunca mencionei ao meu marido que um dia gostaria de ter filhos, mesmo sabendo que uma hora ele tocaria nesse assunto.

Por muito tempo, antes de Paula nascer, me perguntei se eu devia ter dito não ao pedido de Wallace. Meu período de gravidez foi muito estressante, porque eu não deixava de pensar que teria que dividir minha atenção com uma criança. Mas eu nunca reclamei sobre isso com Wallace. O pensamento já era cruel; se eu o dissesse em voz alta, ele teria me achado a pior mãe do mundo. Às vezes, eu suspeitava mesmo que fosse.

Quando Paula nascera, minha mente mudou um pouco em relação ao meu desprezo por ter uma família, porém não o bastante para que eu me sentisse melhor. Comecei a ficar incomodada ao perceber que teria que abrir mão de inúmeros casos — casos que poderiam ter sido solucionados por mim — em troca de dar atenção a Paula e a Wallace. Na maioria das vezes, era uma tortura demonstrar que eu estava interessada em trocar fraudas e levar minha filha para passear.

Eu era tão focada na delegacia que me esquecia de que era mãe.

E eu não gostava de lembrar que eu era mãe.

Por que diabos o mundo quer que tenhamos filhos? Por que ninguém nos pergunta o que realmente nós, mulheres, queremos?

Eu esperava que um dia Deus me perdoasse por tantos pensamentos condenáveis, mas esperava que ele também entendesse que eu não odiava Paula. Jamais. Eu não desprezava minha própria filha. Eu a amava. Só acho que ela teria sido mais amada se tivesse nascido na barriga de outra mulher — uma mulher que quisesse muito ser mãe. Provavelmente eu fosse me sentir mais completa se, por pressão daqueles que me cercavam, não me forçasse tanto a construir uma família. Casei por incentivo da minha mãe e engravidei por influência do meu marido, pois ele achava que assim eu me sentiria satisfeita.

Mas nunca precisei disso para ser totalmente feliz.

Eu me bastava. Eu sempre me bastei.

Chorando em silêncio, deixei o retrato onde ele estava e desliguei o computador. Durante a vida, aprendi a fazer sacrifícios em prol de beneficiar aqueles à minha volta. Decidi fazer isso de novo. Eu abandonaria o caso do Trésor, mas só por algumas semanas, só enquanto aproveitasse minhas férias nessa viagem que Paula tanto queria. Eu sentia que devia isso a ela — e muito mais. Ao meu marido também. Não fui uma boa mãe e nem uma boa esposa, mas eu poderia mudar. Aos poucos.

INTENSÉMENT (temporada um)Onde histórias criam vida. Descubra agora