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Capítulo Sexto

Final daquela tarde.

Estacionou o carro próximo ao prédio onde estava morando provisoriamente.

Subiu o lance de escadas até o terceiro andar carregando consigo uma sacola de livros antigos que tinha que restaurar e uma sacola de mercado.

Tinha comprado alguma comida para ajudar Fake com as despesas enquanto não conseguia alugar seu próprio apartamento.

Bateu na porta e nem bem foi atendido, Fake cobriu seus olhos com a mão.

_ Que isso agora, Fake?_ Lian perguntou com uma dose de impaciência na voz.
_ Eu tenho uma surpresa!
_ Maravilha... Detesto surpresas.
_ Mas, essa... Garanto que vai gostar!_ Fake cantarolou._ Deixa que eu te guio...

Lian não parecia muito satisfeito, afinal carregava duas sacolas pesadas e não conseguia ver coisa nenhuma, o toque da mão de Fake em seu rosto começava a inquietá-lo.

Sentiu pelo curto trajeto que estavam no quarto.

_ Chega disso, Fake!

Tirou as mãos de Fake de seu rosto, sua mão ainda tocava a dele quando pousou os olhos no que parecia ser uma estante improvisada feita de tijolos alaranjados.

Aquilo decididamente não estava montado no quarto até aquele início de tarde.

_ Isso seria...
_ Não dá para perceber só de olhar?... É uma estante para seus livros que estão jogados dentro do carro!

Notou que sua mão segurava a de Fake e desajeitado a soltou deixando por ali as duas sacolas no chão.

_ Como fez isso?..._ Lian olhava para a estante de designer duvidoso.
_ Eu sabia que o síndico do prédio tinha comprado material de construção para uma obra no quarto andar... Eu só pedi para ele me arrumar uns tijolinhos!
_ Mas... Isso é tijolo abeça! Como ele topou te arrumar isso tudo?_ Lian perguntou com intrigada desconfiança.
_ Hum?... Não sei, as pessoas geralmente não conseguem dizer não para mim...

Não era um comentário convencido, para o próprio Fake parecia um mistério.

_ Sei..._ Lian retrucou secamente._ Olha aí numa das sacolas, comprei comida para sua dispensa.

_Sério mesmo?_ Fake o fitou surpreso._ Não precisava... Você é meu convidado, lembra?

_ Me engana... Nesse passo vou acabar virando seu inquilino.

Apesar do notório sarcasmo, Fake se apossou da sacola de compras com um sorriso contente no rosto, já ia saindo do quarto com ela quando a voz de Lian chamou sua atenção.

_Fake..._ Lian ergueu a bolsa de viagem sobre o sofá._ Sabe que fim levou o jornal que estava aqui?
_ Ah... Aquilo? Usei para forrar a caixa de areia do meu gato!

E Fake o respondeu com uma naturalidade extrema, como se não tivesse feito de propósito para evitar que Lian visse os classificados.

Aliás, logo que o disse, saiu furtivamente pela porta do quarto carregando a sacola de mercado.

Nem deu tempo de Lian surtar de raiva... Em vez disso expirou um bocado de gás carbônico e deixou-se cair sentado no sofá a admirar a estante improvisada que Fake tinha tido o trabalho de fazer.

********
Nos dias que vieram a seguir, arrumaram juntos os livros, antes dentro do carro, na estante de tijolos.

Durante o dia Lian trabalhava na Universidade, voltava para casa para almoçar com Fake, quando não voltava para a restauração no acervo de livro da faculdade, ficava no apartamento restaurando os livros do professor de filosofia.

À noite, Fake é quem saía para trabalhar no Host Club, nos dias de movimento apenas chegava em casa por volta das duas horas da manhã.

Embora Fake sempre demonstrasse interesse pelo trabalho de Lian, não ocorria o mesmo com Lian em relação ao trabalho de Fake, não gostava de conversar sobre a rotina do Host Club, fatalmente acabava deveras irritado quando Fake tentava comentar.

Quase três semanas havia se passado desde então.

Era uma das noites que Fake chegara mais cedo em casa, Lian ocupava seu lado do futon e estava acordado na penumbra, já tinha acostumado com o outdoor que sempre ficava piscando...

Ouviu os passos dos pés descalços de Fake que ocupou seu lado do futon e como sempre a almofada comprida estava no meio dividindo cada lado.

Estava sentado com o negrume de seus cabelos caindo pelas costas.

_ Foi ver o apartamento que tinha me falado no almoço?_ Fake indagou naturalmente torcendo contra as possibilidades.
_ Fui sim... Mas, tinha muita infiltração.
_ Hum... Isso ia ser péssimo para os livros, né?
_ Nem fala...

Fake se deixou cair sobre o futon, a cabeça bateu em cheio no travesseiro macio. Jogou como de costume as mãos sob a nuca, seu cabelo escuro espalhado na fronha. Tinha algo para dizer engastalhado na garganta, mas sabia que se dissesse seria motivo de briga na certa.

O silêncio condensado não passou desapercebido por Lian.

_ Fake... Aconteceu alguma coisa?

Ele se virou depressa para o outro lado, puxando o kakebuton por cima de seu corpo.

__Não, nada... Só estou cansado... Oyasumi...

Não tinha extamente acreditado e teve vontade de agarrá-lo pelo ombro, virá-lo brusco em sua direção, arrancar a verdade daqueles lábios bem delineados...

Mas, seus olhos se chocariam na penumbra do quarto, seus rostos estariam próximos em demasia e de tanto pensar nisso, Lian acabou adormecendo apertando seu travesseiro como se fosse o ombro de Fake.

Fake ~ Rainy Night StreetOnde histórias criam vida. Descubra agora