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Rainy Night Street 
Part Two (The hard way to heaven)
Capítulo Vigésimo

                    "É?... Quer voltar para o namorado que partiu seu coração?"

       Era como se dedos invisíveis apertassem sua garganta, a sensação era de sufocamento quando pensava em Fake.

    Em razão do que sentia, Lian sentou-se de súbito na cama sem poder esconder seu transtorno pessoal do olhar de Sagano.

_Eu não sei você..._ Lian disse baixo, secamente._ Mas, eu preciso de um cigarro. 

    E como se estivesse em sua própria casa, Lian saiu de cima da cama do jeito que estava, apenas fechou sua calça antes de deixar o quarto, pés descalços, sem camisa.

   Andou pelos cômodos do apartamento, pelo chão macio e acarpetado sentindo estranhos arrepios na nuca.

    Foi achar o maço de Sagano na mesa da sala, por sorte perto do isqueiro, assim como suas chaves e seu celular. Pegou depressa um cigarro para si e acendeu com a chama alta, deu a primeira tragada olhando para seu celular.

    Era como se estivesse esquecido o caminho de casa... "Que casa?"_ Lian ironizou para si mesmo._ "Aquela casa nunca foi minha... Acabei ficando na casa de Fake porque as coisas aconteceram assim... Ele fez de tudo para que eu ficasse e eu feito idiota... Acabei me acomodando."

      "O que eu vou ter que ouvir se voltar para lá?... Algo do tipo: 'Eu não queria dar a bunda, Lian... Aconteceu'... Eu não quero ouvir essa baboseira de você, Fake!..."_ Lian apertou os olhos que ardiam um pouco entre um trago e outro e teve um leve sobressalto quando Sagano apareceu do seu lado sem dizer nada, também descalço.

   Talvez, por isso não tivesse ouvido ele se aproximar.

    Sagano segurou o maço e o virou, pegou calmamente um cigarro e acendeu com a brasa do cigarro de Lian.   

_Não precisa voltar para seu ex._ Sagano retorquiu, encostado na parede bem perto de Lian.

     Volta  e meia trocavam olhares furtivos enquanto fumavam.
_Posso ficar no meu laboratório na Universidade.

_Não pode morar lá, Lian... Fique aqui comigo.

_Trocar de casa e de amante não resolveria minha vida._ Lian retrucou com uma indiferença tristonha._ Seria apenas cair no mesmo erro e eu detesto ser jogado de um lado para o outro... Como um boneco que não tivesse controle de nada.

_Te irrita tanto assim não ficar no controle da situação... Lian?

_Claro que sim, merda!... Desde que eu cheguei a esta droga de cidade nada saiu como eu planejei, tem noção do quanto isso pode ser frustrante?... Nunca me senti tão à mercê dos outros! A ponto de não me reconhecer... De não saber onde ir! Eu tinha vencido o cigarro..._ Lian refilou encarando o cigarro entre seus dedos._ Achei que nunca mais tornaria a fumar e olha para mim... Além de fumante, acho que  sou o puto de um gay!

           Não contava em ouvir a risada de Sagano, curta e alegre.

             Destoando da tristeza horrível que vagava em seu peito.

      Estava de saco cheio de parecer uma piada até para si mesmo, queria ir embora para qualquer lugar onde pudesse ficar sozinho. Se moveu bruscamente no intento de voltar ao quarto para vestir suas roupas, mas Sagano o puxou pela presilha da calça e o segurou pela cintura.

_Ficar sozinho, Lian... Não vai mudar a pessoa que você se tornou._ Sagano o disse fitando-o com firmeza e afeição._ Ainda vai continuar com vontade de fumar, ainda será um puto de um gay.

_Eu quero voltar a ser um reles restaurador de livros... Apaixonado por cada detalhe do meu trabalho, cada etapa da restauração... Quero que os livros voltem a ser tudo para mim.

      Se sua tristeza tivesse um alarme para nível crítico, ele dispararia. Não podia continuar a falar, ou os sentimentos que escapavam por suas palavras, iriam escapar por seus olhos.

                      E chorar era a suprema decadência para Lian Sasame.

       Havia anos que não derramava uma única lágrima e se orgulhava disso.

     Por essa razão, aproveitou o ensejo de seus corpos demasiado juntos, o modo sensual como Sagano detinha sua cintura e prendia o dedo na presilha de sua calça.

_Você é um filho da puta, Sagano..._ Lian riu e havia safadeza e ironia em seu jeito de sorrir._ Eu ia mandar que me beijasse... Mas, não vai deixar eu ter o controle dessa merda, vai?     

    Sagano também riu baixo, tinha um sorriso mais discreto, mas que não poupava ousadia. Antes de responder tomou a boca de Lian para si e durante o beijo deu um puxão naquela cintura e seus corpos bateram de frente.

_ Não sou eu que não vou deixar que você tenha o controle, Lian..._ Sagano cochichou a sentir a mão de Lian percorrer sua nuca._ Você finge que não gosta de ser controlado por mim.

     Pela primeira vez, Lian abraçou Sagano pelo ombro conduzido pelo próprio ímpeto e o fitou tendo suas faces infinitamente próximas, não sabendo o quanto seu olhar bravio denotava também a desproteção que rondava seu espírito.

_ Eu não quero fazer sexo, Sagano... Só quero me beije... Até essa dor passar.

    Apenas encostou seus lábios delineados num pequeno sorriso aos de Lian num tenro selinho e sussurrou ao passo que Lian mordiscava fogoso seu queixo:

_Seria muito egoísmo... Mas, se fosse o caso... Queria que sua dor nunca passasse.

     Não podia discutir, era um desejo egoísta... Mas, naquela altura soava como uma declaração de amor.
 

Fake ~ Rainy Night StreetOnde histórias criam vida. Descubra agora