Aeroporto de Los angeles, dez anos antes.
Anahí arrastava com toda a força que podia uma mala, não estava pesada, era ela quem estava fraca. As pessoas a olhavam, confusas, curiosas. A menina estava com roupas sujas, descalça, os cabelos escuros desgrenhados e ela parecia atormentada. Olhava para trás em intervalos de segundos, preocupada.
Não podia ser seguida. Ele não poderia estar atrás dela.
Ela ignorou os olhares, e a dor lascinante nas costas, e ficou encostada perto do portão de embarque para o vôo dela, encolhida. Ela rezava incansavelmente para que não demorasse, as pessoas logo chamariam alguém ao vê-la daquele jeito, e ela não poderia ser pega. Os olhos insistiam em derramar lagrimas sem parar. Ela se sentia um caco, estava completamente destruída. Vestiu a primeira blusa de manga que encontrou pela frente. Estava larga e mal colocada, mas era impossível que ela a tirasse agora.
Quando ouviu a primeira chamada do vôo, ela saiu apressada. A mala novamente a retardando. Mas ela estava tão perto, faltava tão pouco, ela não não poderia parar agora. E foi pensando nisso, que ela ignorou a dor e apertou o passo, e só conseguiu, finalmente respirar quando o avião decolou.
Havia acabado. Ela estava livre. E que Deus a ajudasse.
ASPÉN, SUÍÇA.
Quando o avião pousou, Anahí se viu perdida no meio de um aeroporto na Suiça. E ela nem sabia exatamente em que cidade estava. Ela não se atentou a isso quando comprou a passagem. Só precisava de um lugar longe, e o mais longe que ela conseguiu com o dinheiro que tinha fora a Suiça. Agora ela não fazia ideia do que fazer. Não falava a língua e muito menos tinha um lugar pra ficar. Não sobrara nenhum dinheiro, ela usou tudo o que tinha na passagem.
Ela arrastou a mala até um banco do aeroporto e se sentou. Os olhos azuis varrendo o aeroporto. As pessoas passavam por ela, despercebidas, e ela não era nada. Uma onda de desespero tomou conta de Anahí. O choro veio com uma força que ela não esperava, e ela começou a convulsionar em medo, talvez até alívio.
Precisava se convencer de que estava longe, ele não podia encontrá-la ali. Ela ficaria bem.
Ela repetiu isso para si mesma várias vezes, mas não parecia funcionar. O choro dela começou a chamar a atenção das pessoas, mas ela não se importava, não ali. Mas ela só viu que fora realmente notada quando sentiu um toque em seu braço. Ela pulou da cadeira, sobressaltada. O desespero começando a tomar conta dela outra vez.
- Ei! Menina. - A voz era doce, feminina.
Ela se virou, vendo uma senhora a olhando. Ela estava sentada ao lado de Anahí, que nem a notou, tamanha perturbação.
- Venha cá, - chamou - sente-se, eu não queria assusta-la ainda mais, me perdoe.- ela estendeu a mão para Anahí, solícita.
Ela olhou a mão da mulher por mais de um minuto, até se convencer de que estava segura, e a pegou. A mão trêmula pelo desespero, ou talvez fosse pelo frio congelante que fazia, foi acolhida pelas mãos quentes e carinhosas da mulher. Anahí se deixou sentar outra vez, curiosa. O choro diminuindo consideravelmente.
- Você está bem? Deve estar morrendo de frio, tadinha! - A mulher franziu o cenho, soltando as mãos de Anahí para se abaixar, abrindo a própria mala e tirando de lá um enorme casaco felpudo - Aqui, tome, vai se sentir mais aquecida. - Anahí ergueu a mão trêmula pegando o casaco, ela não estava em condições de negar nada, muito menos ajuda. Mas duvidava que conseguisse vestir aquilo naquele momento.