Carta para Philia

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Eu tinha 14 anos quando me apaixonei pela primeira vez. Seu nome era Ethan Verlangieri, uma das maiores paixões de toda a escola. Quase todas suspiravam quando ele passava e isso se aplicava a mim também, afinal era impossível ignorar seus cachos loiros escuros perfeitamente definidos ou seus belos olhos de um azul acinzentado. A pele perfeita sem marca alguma, nem mesmo de espinhas como as que costumavam aparecer em garotos de sua idade ou as roupas alinhadas que caiam bem no corpo alto e magro.

Se tinha uma palavra que definia Ethan com certeza era perfeito, afinal ele não era nada menos que isso.

Sua personalidade doce e prestativa era de encantar, assim como seu jeito cavalheiro e a educação sublime.

Era de se admirar como um garoto que não era um atleta conseguia ser tão popular. Na verdade, se pararmos para analisar bem, ele com toda certeza se encaixaria melhor na categoria nerd já que sua paixão pelos estudos era imensa. Nunca conheci alguém como ele.

- Emma, será que dá para parar de babar nele e prestar atenção em mim? - era incrível como Ava conseguia ser alguém extremamente exagerada.

Na verdade eu não estava babando, apenas admirando Ethan que estava três mesas a nossa frente junto a muitas garotas do colégio e seus melhores amigos Lucas Gilbert, um garoto negro que usa óculos de lentes grossas e tem um estilo impecável e Joan Walker, uma garota branca de cabelos castanhos na altura dos olhos e que é bem alta para nossa idade.

- Eu estou prestando atenção, você dizia que Violet pegou sua escova de cabelo. - murmurei, tentando desenvolver novamente o assunto em torno das tramas de Ava e sua irmã mais velha.

- Esse foi o assunto de dez minutos atrás! Você realmente não estava prestando atenção. - ambas suspiramos de frustração. - Você podia ir falar com ele.

- Está louca? - pude sentir meus olhos se arregalarem após ter falado um pouco mais alto além da conta. - Isso nunca vai acontecer. - sussurro na esperança de que nenhum dos olhares atentos das outras pessoas do refeitório ainda estivesse sob nós duas.

Não poderia chamar tanta atenção indesejada assim. Estava em um dia péssimo e tudo estava dando errado aos poucos.

Primeiro havia acordado atrasada e cansada como nunca. Papai estava em seu trabalho, Elliot havia saído com a babá e meus avós já estavam na Flórida curtindo a terceira lua de mel há mais de uma semana. Em resumo, havia percebido só ao chegar na escola o estado lamentável que estavam meus cabelos e as meias de pares trocados e, então, o desfecho: havia tirado um F em álgebra, não tinha como piorar.

- Seria uma boa você falar logo com ele de uma vez por todas ao invés de ficar como uma stalker pelos cantos. - ela estava certa, porém nunca que eu teria tal coragem. - Sabe Emma, é uma tática comprovada. Eu mesma agiria dessa forma se gostasse de alguém.

- Claro que agiria, nunca que seria rejeitada. - era ridículo ela tentar me convencer se pondo como exemplo, afinal era dona de uma beleza inacreditável. A pele negra não retinta brilhava como um bronze recém adquirido, os cabelos longos de um castanho claro pareciam incrivelmente sedosos e desejosos ao toque, os olhos de um castanho quase preto eram encantadores e convidativos. Isso sem falar nos lábios grossos que contornavam seu belo sorriso e o corpo magro e bonito assim como o de uma líder de torcida. - Já eu levaria um fora na certa.

- Não se deprecie assim.

- Não se pode chamar de depreciação quando é a mais pura verdade.

Não tinha como me comparar com ela. Minha pele sempre foi pálida demais, com sardas por toda parte e isso sem falar no corpo desproporcional e o cabelo curtos de cor de burro quando foge.

Cartas para EmmaOnde histórias criam vida. Descubra agora